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Atômica – A cidade mais fria

2 março 2018

Atômica – A cidade mais friaEditora: Darkside Books – Edição especial

Autores: Antony Johnston (roteiro) e Sam Hart (desenhos).

Preço: R$ 54,90

Número de páginas: 176

Data de lançamento: Agosto de 2017

Sinopse

Nos anos finais da Guerra Fria, a espiã inglesa Lorraine Broughton, do MI6, recebe a missão de invadir o lado comunista de Berlim para recuperar informações que não podem cair nas mãos da concorrência.

Positivo/Negativo

Quando a Darkside Books anunciou, na segunda metade de 2017, que iria criar um selo dedicado aos quadrinhos, a notícia foi recebida com empolgação. Afinal, ela surgiu há cinco anos, com uma proposta de alto investimento em livros de terror e fantasia, produzindo luxuosas edições de uma qualidade raramente vista no mercado nacional.

A estreia com o premiado álbum Meu amigo Dahmer, de Derf Backderf, não decepcionou quem esperava o mesmo cuidado dedicado a obras literárias, e ainda despertou a curiosidade com futuros lançamentos da editora da caveira.

Um dos primeiros lançamentos a dar continuidade ao projeto reunia outros pontos de interesse para o público brasileiro: o quadrinho que inspirou uma superprodução de Hollywood e ainda teria na equipe um artista radicado em nosso país.

Justamente para aproveitar a maciça divulgação do filme Atômica, dirigido por David Leitch e com elenco encabeçado por astros como Charlize Theron e James McAvoy, a mudança mais visível na HQ foi em seu título. Originalmente publicada como The coldest city, a versão nacional incorporou o nome do longa e acrescentou um subtítulo, Atômica – A cidade mais fria.

Felizmente não foi além disso, mantendo a capa original minimalista, com arame farpado e flocos de neve, em vez de pôr em seu lugar um cartaz de cinema, como é costumeiro acontecer. Aliás, capa dura e com tratamento em verniz aplicado, uma tradição nos produtos da editora carioca.

E a Darkside fez bem em não forçar mais do que o necessário uma aproximação com o filme. Apesar de os roteiristas da versão cinematográfica terem sido bastante fieis à essência da história criada por Antony Johnston (escritor que já trabalhou na adaptação de contos de Alan Moore), a verdade é que as obras são produtos bem diferentes.

A equipe do diretor David Leitch (que já havia realizado o explosivo De volta ao jogo, com Keanu Reeves, em 2014, e será responsável por Deadpool 2) aproveitou cada mínima oportunidade para transformar o que no papel e no nanquim é um thriller psicológico de espionagem realista em um dos longas de ação mais espetaculares desta década, movido a uma empolgante trilha sonora oitentista.

Para se ter uma ideia das alterações de mídia, pode-se avaliar o momento mais comentado do filme: o plano sequência em que a oscarizada Charlize Theron demonstra uma capacidade invejável de desempenhar uma coreografia de luta, tiroteio e perseguição no trânsito. O que na tela dura intermináveis dez minutos, no papel não chega a consumir duas páginas.

Portanto, é preciso deixar o aviso: Atômica, o filme, é algo na linhagem das produções protagonizadas por Jason Bourne, John Wick e o James Bond de Daniel Craig. Já Atômica – A cidade mais fria é algo mais na linha dos livros de John Le Carré.

Mal comparando, é algo ainda mais radical do que houve com a transposição da HQ Secret Service, de Mark Millar e Dave Gibson, nos filmes da série Kingsman, de Matthew Vaughn.

Se o texto de Johnston recebeu tantos acréscimos à sua estrutura básica, algo semelhante aconteceu com a arte de Sam Hart. No filme, o néon e alguns personagens são bem turbinados. Já as imagens do ilustrador são em preto e branco e num estilo tão minimalista quanto o da capa, e aparentam muitas vezes serem apenas esboços, um storyboard.

O personagem vivido pelo galã James McAvoy, por exemplo, é um burocrata calvo e de meia idade nos quadrinhos. A protagonista Lorraine Broughton foi baseada na avó de Hart (e, não, mesmo na juventude ela não se parecia com a beldade sul-africana que encarnou o papel no cinema).

Justamente por conta das semelhanças e diferenças entre as duas obras, vale a pena se conhecer ambas as versões. A edição nacional da HQ, traduzida pelo experiente Érico Assis, ainda conta com um glossário à parte das expressões em alemão que surgem nos diálogos, noticiários e afins, para não alterar a estranheza intencional do material original.

Só é de se lamentar que não tenham aproveitado o fato de Sam Hart, nascido na Inglaterra, mas radicado no Brasil desde os dez anos de idade (onde mantém uma carreira em paralelo à produção para os mercados norte-americano e inglês) para incluir alguma arte exclusiva. Isso tornaria o que já é uma belíssima edição em algo ainda mais especial

Classificação

4,0

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