Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Battle Stations

Editora Rebellion – Coleção War Picture LibraryUS$ 19,9964 páginasLançado em fevereiro de 2020
Donne Avenell (roteiro) e Hugo Pratt (desenhos) – Originalmente em War at Sea Picture Library # 34, no Reino Unido, em junho de 1963.
12 março 2021

Sinopse

Um oficial e dois marinheiros da Marinha Real, servindo na Segunda Guerra Mundial, sobrevivem a um vil massacre alemão após sua embarcação ser afundada no Atlântico, em um confronto com um dos temíveis U-Boats.

A intensidade com que o ódio crava suas garras nos corações desses homens determinará os seus destinos.

Positivo/Negativo

Esta publicação faz parte dos esforços da editora Rebellion, a mesma que adquiriu a icônica 2000 A.D. e a salvou da falência. Agora, resgatam a coleção War Picture Library, após adquirirem os direitos do acervo da Fleetway. Assim, não só trazem de volta a tradicional coleção britânica de quadrinhos de guerra, como resgatam a participação do mestre Hugo Pratt.

A capa é dura e bonita, o acabamento, decente e honesto, mas sem grande luxo. O formato, 17 x 24 cm, poderia valorizar mais a arte, porém, já é maior do que as edições das décadas de 1960 a 1980. Há um texto introdutório simples, que localiza a obra no espaço-tempo do mercado editorial e o esforço para trazê-la novamente à baila.

No final, alguns comentários sobre as alterações feitas em republicações e a informação de que o trabalho de Pratt ficava, possivelmente, encoberto por propagandas na revista original. Faz falta poder ver essas páginas, entretanto. Poderiam ter sido reproduzidas.

Sem dúvida, o leitor esperará encontrar uma trama padrão de batalha naval, mas o que Avenell entrega é um conto de humanidade em meio ao maior conflito da História. Chama a atenção um quadrinho britânico, publicado menos de duas décadas após o final da guerra, trazer vislumbres de honra e decência em quem combateu ao lado de forças que defendiam o que de mais odioso já foi proferido e que tantos danos causaram aos súditos da Rainha.

Pessoas são complexas e, por mais que decisões suas as coloquem assim, em posições de enfrentar duras consequências por seus atos, nem todos os indivíduos são o mal puro encarnado. O incômodo causado por essa constatação chega a qualquer um que leia esta obra. Muito mais conveniente é desejarmos a obliteração de quem se opõe a nós, sem nos inteirarmos de quem, realmente, se trata.

Os recordatórios, mais frequentes que o necessário, típicos dos quadrinhos anglófonos da época, cansam um pouco, mas são fruto do seu tempo. A história se beneficiaria de mais páginas. Alguns eventos se sucedem com tão pouco respiro entre eles, que chega-se a questionar a verossimilhança da trama.

A arte de Hugo Pratt vai muito bem. Suas expressões austeras, desesperadas e encolerizadas são essenciais para dar vida ao roteiro. As composições de página com poucos e grandes quadros lhe permitem trabalhar a sensação de grandiloquência do oceano, bem como a expressividade dos personagens.

Assim como o limite curto de páginas apressa os eventos, é sentida a falta de suas longas sequências contemplativas ou um maior detalhe nas batalhas navais. Mas o desenho compensa com belíssimas e duras sequências de sobrevivência na noite em alto mar.

Para muitos leitores, o nome do mestre italiano (em destaque na capa, bem maior do que o dos roteiristas que o acompanham) será o grande atrativo a conhecer essa saudosa linha, mas está longe de ser a única virtude do belíssimo resgate.

Battle Stations é o primeiro de três volumes já anunciados e programados com a participação do artista. Que sejam bem-sucedidos e todas as suas participações possam vir à luz. E, quem sabe, até mesmo chegar em solo brasileiro.

Classificação:

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