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Estranhos no Paraíso – Volume 2 – Ama-me com ternura

Editora DevirR$ 105,00352 páginasLançado em junho de 2019
Terry Moore (roteiro e desenhos).

Originalmente em Strangers in Paradise (Vol. 3) # 1, # 2 (1996), # 3 a # 11 (1997), # 12 a # 17 (1998) – Tradução de Guilherme Miranda.

Edição especial.
8 setembro 2020

Sinopse

Katchoo era a melhor amiga de Francine. David era apaixonado por Katchoo. Mas Katchoo era apaixonada por Francine.

Mas isso é passado.

Casada e com uma filha pequena, Francine não vê sua melhor amiga, Katchoo, há dez anos. E vê-la acidentalmente, de longe, traz memórias do que viveram juntas.

Positivo/Negativo

O segundo volume da coleção da Devir reúne os primeiros números da terceira série americana de Estranhos no Paraíso. E Terry Moore recomeça a trama de maneira desconcertante: dá um salto no tempo e estabelece que as duas protagonistas, até então inseparáveis, passaram dez anos sem se ver. O que terá acontecido?

Após um divertido prólogo, que brinca com o gênero super-herói (e tem a participação especial de Jim Lee como desenhista, e também o uso de cores), é apresentada ao leitor essa nova realidade de Francine. Está casada, tem uma filha. É um terreno totalmente novo para o título.

Não há muito tempo para se acostumar: poucas páginas depois, uma transição dramática leva o leitor de volta ao que – agora sabemos – é o passado. Francine e Katchoo estão se ajeitando no novo apartamento, felizes, dando sequência aos acontecimentos vistos no primeiro volume.

A transição é cinematográfica. Assim que vê Katchoo ao longe, de costas, pela primeira vez em uma década, Francine congela. Em uma página, cada quadrinho aproxima mais seu rosto.

Na seguinte, de perfil, ela “vê” o passado. Seu rosto vai saindo da cena, enquanto o leitor fica só com o flashback até o final do primeiro número.

A jogada de Moore em plantar esse mistério é interessante. O autor não tem nenhuma pressa em resolvê-lo e nem mesmo em alimentá-lo. Parece confiar que a informação vai ficar na cabeça do leitor enquanto a história se desenrola, como se esse prelúdio nem tivesse existido.

Há flashbacks dentro do flashback e a trama deixa pra lá o fato de que passou a ser uma memória de Francine. Há momentos que mostram, sem cerimônia, cenas que a personagem não viu. Há até flashbacks de Katchoo (inclusive também com cenas que Katchoo não poderia ter visto).

A primeira metade de Ama-me com ternura retorna à comédia dramática envolvendo o triângulo Francine-Katchoo-David, com momentos que deixam claro que a organização que usa o sexo para manipulações políticas – e da qual Katchoo já foi uma funcionária – continua uma ameaça à espreita.

A edição também inclui um arco que volta à adolescência de Katchoo e Francine, contando o nascimento da amizade das duas. Parece algo totalmente descolado da trama principal, mas é justamente quando se volta ao presente, com o mesmo efeito dramático do rosto em perfil que, desta vez, entra em cena aos poucos.

E o álbum termina com uma pequena e famosa história isolada em que as duas personagens “interpretam” as protagonistas da série Xena, a Princesa Guerreira. Basicamente cômica, é um refresco bem-vindo após o peso da segunda metade do álbum.

Na narrativa, Moore continua experimentando o uso pontual do texto em prosa. Poesias ou letras de música são usadas para abrir os capítulos. E há até artifícios mais inusitados, como usar um poema no espaço das calhas (e espaço em branco entre os quadros) ou uma partitura musical que acompanha uma conversa.

Ama-me com ternura mantém o nível editorial de Sonho com você: capa dura, em formato 17 x 26 cm. As histórias já haviam sido publicadas no Brasil nos álbuns Love me tender (Pandora, 2003), Inimigos mortais (HQM, 2006) e Tempos de colégio (HQM, 2007).

Este álbum traz o mesmo problema do anterior: não há separação visível entre um capítulo e outro. As histórias não têm título, nem qualquer indicação de final. Fica a cargo da sensibilidade do leitor perceber onde termina um número e começa o outro.

As capas de cada edição original aparecem minúsculas numa seção ao final da edição. No terceiro volume, Santuário, esse problema é corrigido, e as capas são usadas para marcar o começo de cada novo capítulo, como muitas vezes acontece em coletâneas.

Classificação:

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