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Moby Dick

2 março 2018

Moby DickEditora: Pipoca & Nanquim – Edição especial

Autor: Christophe Chabouté (roteiro e arte).

Preço: R$ 120,00

Número de páginas: 256

Data de lançamento: Agosto de 2017

Sinopse

A antológica história da perseguição da baleia branca Moby Dick pelo fanático capitão Ahab, contada por um mestre dos quadrinhos franceses.

Positivo/Negativo

Três nerds que aparentemente não têm absolutamente nada em comum. A descrição confere com a dos pistoleiros solitários, coadjuvantes da série Arquivo X (que se tornaram populares a ponto de ganhar seu próprio seriado spin-off no começo dos anos 2000), mas também serve para se referir a Bruno Zago, Alexandre Callari e Daniel Lopes, os criadores de um popular canal do Youtube sobre cinema e quadrinhos.

Durante sete anos, os amigos se dividiam entre suas atividades como editores de super-heróis e de mangás da Panini, até que em 2017 resolveram lançar seu próprio selo de quadrinhos.

A Pipoca & Nanquim leva o mesmo nome do canal e, graças a uma parceria com a gigante do varejo online, a Amazon, começou a trazer títulos que faziam muita falta no mercado brasileiro. Dentre os primeiros lançamentos desta nova opção de HQs de luxo se destaca uma adaptação literária originalmente publicada pela editora francesa Glénat.

Moby Dick, inteiramente produzida pelo artista Christophe Chabouté – um premiadíssimo autor da bande dessinée que inexplicavelmente permanecia inédito no Brasil –, consegue a façanha de ao mesmo tempo ser fiel ao original escrito por Herman Melville, em 1851, e introduzir características únicas do meio em que foi recriado.

Para quem conhece o original, ocorre uma curiosa inversão quanto ao aparecimento da famosíssima frase inicial da obra, por exemplo.

Adaptações para os quadrinhos deste livro que é considerado um clássico absoluto da literatura já foram vistas antes, e por nomes muito respeitados. O idiossincrático Bill Sienkiewicz, por exemplo, apareceu com sua arte pintada em um número da saudosa série Classics Ilustrated. Outro que se aventurou no feito, também com versão já publicada em português, foi ninguém menos que Will Eisner

Mas não é exagero dizer que mesmo quem tem essas duas edições em sua coleção teria muito a ganhar em conhecer este material mais recente. O trabalho de Chabouté é de muito mais fôlego que o de seus antecessores: ele dispôs de bem mais tempo e espaço para produzir sua versão da caçada à baleia branca que sintetiza a obsessão do capitão Ahab.

O volume que chegou ao Brasil compila em um único tomo a história que originalmente foi lançada em duas edições na França, com mais de duas centenas de páginas de quadrinhos em um glorioso preto e branco.

O artista teve espaço o suficiente para trabalhar com os enormes silêncios da longa jornada pelo mar, sem precisar apelar para recordatórios explicativos. Muito do que a história nos conta se dá pelos olhos, expressões faciais e gestos dos personagens, marujos trancafiados em um enorme caixão de madeira cercado de mar por todas os lados.

Sem a menor pressa, a trama se desenrola aos poucos, mostrando primeiramente a rotina desses homens. Quando finalmente surge o enorme animal que eles devem tentar matar, sua presença também é pinçada em alguns detalhes por vez: seja seu olhar, seja pelos restos de outras batalhas ainda presos em seu enorme corpo.

É como se Moby Dick fosse simplesmente grande demais para caber naquele mundo, mesmo levando em conta as proporções nada econômicas deste álbum.

Os cuidados com a versão nacional (que tem apenas um errinho: na biografia de Melville, saiu um 1939, em vez de 1839, mas isso já foi corrigido na segunda tiragem) se revelam nos detalhes, não apenas na capa dura que já vem se tornando uma commodity. Ela começa na tradução, que ficou a cargo de Pedro Bouça, um profissional português que viveu muitos anos no Brasil. Passa pela criação de fontes escritas à mão exclusivamente para o álbum, uma para os diálogos, outra para os trechos que imitam a escrita de um diário no começo de cada capítulo. Nada foi poupado para apresentar um mestre da nona arte aos brasileiros. Os pistoleiros solitários estão de parabéns.

Classificação

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