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Rastreadores da taça perdida – O segredo da Jules Rimet

22 agosto 2014

Rastreadores da taça perdida – O segredo da Jules RimetEditora: Bila Edições– Edição especial

Autores: Giorgio Cappelli (roteiro e desenhos) e Enéas Ribeiro (cores).

Preço: R$ 19,90

Número de páginas: 40

Data de lançamento: Julho de 2014

Sinopse

O que realmente aconteceu com a Jules Rimet, taça do tricampeonato mundial da seleção brasileira de futebol que desapareceu em pleno território nacional em 1983?

Bovínio “Vini” del Toro, playboy e subcelebridade, e Giovani Mantovani, especialista em cultura pop, vão embarcar nessa aventura Brasil adentro para descobrir o verdadeiro paradeiro do troféu.

Positivo/Negativo

Criada em 1928, a taça Jules Rimet teria (por sugestão de seu idealizador, então presidente da Federação Internacional de Futebol AssociadoFIFA) a posse definitiva para o país que vencesse três vezes a Copa do Mundo. O Brasil conquistou esse direito depois de erguê-la nos torneios de 1958, 1962 e 1970.

Antes de desaparecer no final de 1983, o objeto de ouro maciço tinha sido roubado em uma exposição londrina, em 1966, mas foi reencontrado semanas depois, graças ao cão de nome Pickles, também citado na HQ.

Muito se cogitou após o sumiço do troféu. Algumas dúvidas que pairavam no ar: por que a taça original estava exposta na sede da Confederação Brasileira de FutebolCBF, enquanto uma réplica era mantida em um cofre? Será que ela foi realmente derretida, como alegavam os ladrões e a imprensa?

Utilizando o mote da mitologia do mistério em torno da taça desaparecida, Giorgio Cappelli monta uma aventura que vai desde a região metropolitana de São Paulo, passando pelos cânions do Rio São Francisco, até as formações rochosas do Parque Nacional de Vila Velha, em Ponta Grossa, interior do Paraná.

Na história, algumas situações humorísticas são dignas de nota, como a criação nonsense de Giovani Mantovani por pais mímicos – uma singela homenagem ao francês Marcel Marceau (1923-2007). Mas, na esmagadora maioria das vezes, as piadas são sem graça e fora de tempo, como a forçada situação do protagonista se equilibrar nos ponteiros de um relógio, dentre outras.

Tudo parece truncado na leitura. Não existe uma noção espacial dos elementos gráficos e de composição na diagramação. As onomatopeias, por exemplo, parecem deslocadas, sem funcionalidade harmônica no contexto caótico das páginas.

O traço de Cappelli não tem o refinamento e a leveza que poderia alcançar. Não oferece a noção de profundidade e peca nas proporções em muitas sequências. Por repetidas vezes, as ações dos personagens não apresentam dinamismo para evocar o cômico.

As cores de Enéas Ribeiro também não ajudam a tirar essas impressões da composição das páginas: cheias de efeitos e “firulas” que terminam contribuindo para o engessamento da narração do álbum.

O clímax, que tem outra homenagem do autor, agora ao ator britânico Jason Statham, torna-se confuso com a ação que não tem a fluidez exigida, além de um desfecho maçante, pra lá de piegas e pouco criativo.

A editoração da Bila chega a ser irritante de tão amadora. Não há espaço entre os balões e o texto dentro deles. Esse fator corrigido deixaria os desenhos e a leitura “respirarem” melhor (mas não melhorariam seu conteúdo). Outro ponto negativo é a fonte, que aumenta e diminui sem controle. Não são os momentos em que os personagens falam mais alto ou situações que implicariam na mudança de tamanho das letras, mas os diálogos que supostamente correriam de forma natural.

No final das contas, Rastreadores da taça perdida é como “ouro de tolo”: não tem um grama de graça.

Classificação

1,0

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