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Ronda noturna

25 julho 2014

Ronda noturnaEditora: Zarabatana – Edição especial

Autores: Carlos Lemos, Pedro Felicio e Dalts (roteiro), Alcimar Frazão, Olavo Costa, F3D e Dalts (arte).

Preço: R$ 40,00

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Junho de 2014

Sinopse

Três contos de terror urbano ligados por uma figura que todos poderiam conhecer: um senhor com um apito e lanterna, no meio da madrugada.

Positivo/Negativo

O abstracionismo do medo – a principal fonte do terror – pode ser moldado de várias formas. Uma delas desponta nas histórias em quadrinhos e também em outros seguimentos abertos pelo gênero.

É incontestável a influência dos artistas que faziam parte do elenco dos títulos de terror da EC dos anos 1940 nos outros direcionamentos dos comics estadunidenses nas décadas seguintes. Inspirando desde nomes da indústria de super-heróis até o horror psicológico destilado pelos alternativos comix.

Essa influência também ganhou personalidade brasileira, com os quadrinhos produzidos por nomes como Rubens Francisco Lucchetti, Eugênio Colonnese, Rodolfo Zalla, Nico Rosso, Flavio Colin, Júlio Shimamoto e até Mike Deodato Jr., quando assinava seu nome oferecido na pia batismal.

Nos anos 1980, a “cultura do terror tupiniquim” sobrevivia nas páginas de fanzines e editoras independentes. O gênero poderia estar adormecido nos intervalos de alguns anos, mas os hiatos nunca indicavam uma possível extinção. A consciência coletiva ainda fervilha na cabeça das novas gerações de autores.

Afinal, o medo ainda é um eficiente combustível para o entretenimento, que pode ser encontrado nas bases teatrais e cinematográficas de projetos como Vigor Mortis Comics ou este Ronda noturna, dos autores da revista independente O contínuo, publicada entre 2005 e 2008.

A homenagem às obras da EC Comics já aparece no início, como um cartão de visitas: a figura do senhor que ronda as madrugadas com apito e lanterna, joga uma luz bruxuleante nas três histórias apresentadas no álbum, como os narradores que ciceroneiam os contos da EC.

Até o discurso meio forçado e eloquente do homem da ronda noturna nas aberturas das histórias relembra a verve da Velha Bruxa ou do Guardião da Cripta, para ficar nos nomes mais famosos.

Não tem como arranjar um contador mais brasileiro, junto com as ruas escuras, casarões abandonados e frestas povoadas por lendas urbanas de uma metrópole como São Paulo, ideal para as histórias de terror relatadas para um atento garotinho/leitor.

Mesmo diferentes, as artes expressionistas de Alcimar Frazão, Olavo Costa, F3D e Dalts ganham unidade nas histórias sutilmente conectadas, dialogando com os tons vermelhos da atmosfera sobrenatural.

Como em todo terror que se preze, os protagonistas são pessoas comuns em situações extraordinárias, que vão desde complexas teorias de deslocamentos dimensionais ocasionadas pelo medo (com “pitadas” e tentáculos de H.P. Lovecraft), passando pelo medo primordial das criaturas que ocupam os cantos escuros (dimensionados por Nietzsche), até nossa boa e velha cultura popular da oralidade, utilizando a Loira do Banheiro (e um velho ditado húngaro).

Com um bem cuidado projeto gráfico, a edição da Zarabatana (com apoio do Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura de São Paulo – ProAC) tem uma boa impressão em papel pólen, capa cartonada com aplique de verniz e orelhas, introdução feita a seis mãos por Roger Cruz, Octavio Cariello e Marcelo Campos, posfácio assinado por Pedro Felicio e dados biográficos dos autores.

Como dito no começo deste texto, o abstracionismo do medo pode ser moldado de várias formas. O pesado nanquim que oculta o terror de Ronda noturna é uma delas.

Classificação

4,0

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