Quadrinhos digitais abrem novas possibilidades, mas editoras ainda tentam torná-los uma opção viável
O mercado editorial digital continua avançando, ainda que em velocidade mais lenta do que outras mídias, como música e audiovisual. Novas tecnologias, a exemplo dos tablets e smartphones, têm sido importantes, mas editoras e leitores ainda esbarram em problemas para a opção ser mais difundida.
Países como o Brasil, com dimensões continentais e uma rede tecnológica deficitária, enfrentam um obstáculo a mais. Nos Estados Unidos, as editoras de quadrinhos, como Marvel, DC, Image, Dark Horse e outras, disponibilizam todos as suas publicações no formato digital em serviços próprios ou terceirizados, ainda que as vendas jamais tenham alcançado o mesmo número do impresso.
Ou seja, no mercado norte-americano, a conta ainda não fecha para quem produz.
Por outro lado, no Japão, um dos mercados com mais consumidores e leitores do mundo, as vendas do digital superaram o impresso pelo segundo ano consecutivo, em 2019.
Se por um lado o digital facilita e simplifica etapas da produção (como a distribuição, o principal problema por aqui) e do consumo, por outro exige características que nem sempre estão disponíveis em âmbito nacional com a mesma eficácia: uma rede de internet fixa e móvel estáveis, computadores e notebooks.
A leitura dos quadrinhos (virada de página, zoom e outros recursos próprios, como leitura guiada) é feita com o uso do mouse ou do teclado.
Aparelhos como tablets Samsung ou iPad com telas de 10 polegadas também podem ser ótimas saídas, por simularem uma experiência bem próxima de revistas tradicionais.
A leitura digital aparece como uma opção viável e rápida em momentos como o que o mundo está vivendo agora, com a pandemia do coronavírus e o pedido de autoridades para as pessoas permanecerem em suas casas. Não é por acaso que vários autores independentes e editoras como Panini, Europa, Marsupial, Mythos, Jambô, MSP, Comix Zone e outras estão disponibilizando conteúdo gratuito pelo meio digital, uma vez que a facilidade, rapidez e alcance são justamente os seus grandes benefícios.
Plataformas de streaming de filmes e séries são as mais utilizadas, já que as opções para leitura são mais limitadas.
O mercado editorial brasileiro, como um todo, enfrenta uma crise há alguns anos. Gigantes do meio, como a Editora Abril e diversas livrarias passam por dificuldades. Se as vendas tradicionais sofrem esses problemas, um campo novo, ainda em formação, também vivencia essa realidade.
No Brasil, há algumas opções disponíveis para leitores lerem quadrinhos digitalmente.
A Amazon, com o serviço Kindle, tem vários títulos disponíveis.
O Social Comics é um streaming que disponibiliza lançamentos de algumas editoras nacionais, independentes e licencia materiais diretamente para a sua plataforma, como os super-heróis da Valiant Entertainment (Bloodshot, X-O Manowar, Ninjak e outros), Abstract Studios (Estranhos no Paraíso e Rachel Rising) e Hasbro (Transformers).
O Digital Comics oferece quadrinhos independentes e algumas obras da Oni Press e IDW.
O Super Comics é ainda mais uma opção para leitura via streaming., com quadrinhos nacionais, Rick and Morty, Turma do Pernalonga e outros.
O digital é um mercado com muito potencial a ser explorado, mas ainda está começando. Plataformas, editoras e autores estudam como ele se desenvolve e as opções que oferece, mas é fato que chegou para ficar.
Afinal, oferece facilidade para ler, comprar e armazenar.
O digital e o físico não são concorrentes, mas sim complementos do mesmo negócio. A quebra de paradigma de um modelo tradicional para outro que oferece mais alternativas é o que estamos vivendo neste momento.
Talvez daqui a alguns anos este texto não faça sentido. É o que se espera, pois significaria que quadrinhos estarão chegando a mais pessoas, sem precisarem da deficitária distribuição física e, especialmente, remunerando os autores de forma justa e correta, pelo trabalho que realizam.