Confins do Universo 217 - Snikt! Wolverine: o melhor naquilo que faz!
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Entrevistas

Textos… Páginas… Ação! Com a assinatura de Mark Waid!

5 janeiro 2001

Um dos maiores roteiristas de super-herói da atualidade fala sobre, em entrevista EXCLUSIVA ao Universo HQ, os seus projetos futuros, sua carreira, os personagens que mais gosta, as diferenças entre trabalhar na Marvel e naDC e muito mais

 

Mark WaidEle foi o homem que “matou” o Capitão Marvel, na mini-série Reino do Amanhã.

O Flash (Wally West) viveu sua melhor fase sob os seus textos.

Graças aos seus roteiros criativos e bem elaborados, o Capitão América viveu um bom momento, depois de um longo e tenebroso inverno.

Nas suas mãos, Ka-Zar deixou de ser um simples coadjuvante, voltando a ter destaque no Universo Marvel.

Ele é um dos donos da promissora Gorilla Comics.

Acaba de assinar um contrato de exclusividade com a CrossGen Comics.

Certa vez, disse que o mercado de quadrinhos de super-heróis está em crise, porque as pessoas estão lendo as mesmas histórias da década de 30.

Você, evidentemente, já sacou que a “fera” mencionada acima é Mark Waid, um dos maiores roteiristas de super-heróis da atualidade.

Em comemoração ao primeiro aniversário do Universo HQ (05/01/2001), quem ganha o presente é você: uma entrevista EXCLUSIVA, na qual ele fala de sua carreira, dos seus projetos futuros, dos personagens que mais gosta, das diferenças entre trabalhar na Marvel e na DC, dos… Ei, peraí! Que tal ir direto pra entrevista? ;o)

Bom divertimento!

Universo HQ: Você começou sua carreira como articulista freelancer, nas revistas Amazing Heroes e Comic Buyer’s Guide. Como aconteceu a mudança de sair de revistas especializadas e escrever quadrinhos?

Mark Waid: Trabalhar em revistas especializadas me permitiu manter um contato constante com os editores e escritores. Essa sorte – que chamamos de “networking”, aqui nos Estados Unidos – me permitiu ficar conhecido entre eles. Assim, quando entrei no escritório do Julius Schwartz (Nota doUHQ: na época, editor da DC), em 1984, para mostrar uma história do Super-Homem, já nos conhecíamos, o que facilitou ele me escutar e me dar uma chance. Tudo nasceu a partir daí.

UHQ: Em janeiro, será publicado aqui o arco de histórias Futuro Relâmpago, em uma edição especial de 160 páginas. Fale um pouco mais sobre essa saga para os leitores brasileiros; e como ela irá afetar Wally. Você gostou do trabalho?

Waid: Eu gostei muito do que foi feito nessa história. Só lamento o prólogo sobre o vilão Azul Cobalto, pois sua origem não foi muito bem aceita pelos fãs americanos, que reagiram de maneira não muito educada (Nota do UHQ: a origem foi publicada no Brasil na revista Superman #4). Mas a saga Futuro Relâmpago me deu a chance de explorar um assunto que não havia sido abordado até então: a reação de Wally ao reencontrar Barry, agora que ele não é apenas seu parceiro mirim de aventuras, e sim alguém mais poderoso e com mais conhecimento do que Barry JAMAIS teve.

UHQ: Você trabalhou com o Flash durante oito anos, e não seria exagero dizer que definiu a personalidade de Wally e todo o universo do personagem. Como você vê o Flash hoje e por que resolveu deixar o título?

Waid: Francamente, a maneira como vejo o Flash é a RAZÃO de eu ter deixado o título. Quando eu comecei, há oito anos, eu via muitos, muitos paralelos em nossas vidas; e uma chance para eu trabalhar alguns dos meus próprios problemas através do Wally… A distância da minha família, minha frustração em nunca poder fazer as coisas tão rapidamente quanto eu queria, jamais realizar o suficiente, minha inabilidade em aproveitar plenamente uma relação com uma mulher.

A boa notícia é que, tanto eu quanto Wally, resolvemos essas questões. A má notícia é que isso colocou Wally em um lugar no qual eu não me identifico com ele, tanto quanto antes. Nós “crescemos separadamente”… Então, eu já não tenho muito o que dizer “através” dele. Ele não é mais um veículo apropriado para eu, como escritor, continuar me auto-explorando.

Flash Superman em O Reino do Amanhã

UHQ: Agora você está escrevendo a Liga da Justiça. Tem algo reservado para o Flash, em especial?

Waid: A-HÁ! Na verdade, não… Apesar de ser difícil de resistir à tentação de fazê-lo salvar o dia o tempo todo!

UHQ: Vamos falar um pouco do Super-Homem. Você, Grant Morrison, Mark Millar e Tom Peyer apresentaram um projeto para a DC, mas ele foi recusado. O que vocês queriam realmente fazer? Por que a DC vetou a idéia?

Waid: Eu nunca vou entender completamente as razões da DC. Os motivos apresentados pela editora não fizeram sentido para mim, e ainda não fazem! Temo que muito disso seja decorrência da desgastada relação entre a DC e o Grant e, algumas vezes, até comigo mesmo. Sobre o que pretendíamos fazer, não posso ser muito específico, já que nós quatro fizemos um pacto de guardar muitas dessas idéias e conceitos, com a esperança de que elas possam ser usadas em ALGUM LUGAR, no futuro.

Entretanto, asseguro que o principal objetivo era restabelecer o Super-Homem que Siegel e Shuster conceberam… Nossa intenção era enfatizar o “Super” acima do “Homem”, ao invés do contrário.

UHQ: A DC chegou a dizer que nenhum super star trabalharia nas revistas mensais do Super-Homem. O que achou dessa declaração? Isso não desmerece os atuais profissionais que trabalham com o Homem de Aço?

Waid: Só se você levar a sério essa declaração da DC. Não tenho certeza do que eles quiseram dizer. Não tenho certeza nenhuma sobre esse assunto.

UHQ: Certa vez, você disse que resolveu trabalhar com quadrinhos depois de assistir três vezes a Superman: The Movie. Vem daí a sua admiração pelo personagem?

Waid: Em grande parte, sim. Sempre gostei do Super-Homem. Sempre acompanhei suas revistas. Mas a imagem do herói interpretada pelo Christopher Reeve foi a que me despertou, pela primeira vez, a sensação de admiração e grandeza de caráter do personagem. Me fez ver o lado humano que existe dentro dele. O Super-Homem do Reeve tem uma nobreza e humildade que o transformaram na figura do pai que eu nunca tive, de verdade, durante minha juventude.

UHQ: Você também mencionou que poderia escrever o Super-Homem em projetos especiais (graphic novels, edições especiais etc), mas não as revistas mensais. Por quê? Essa decisão vem da DC? Se, no futuro, lhe oferecerem o título mensal do Super-Homem, você aceitaria?

Waid: Sim, mas sob certas circunstâncias, e cercado de criadores com os mesmos interesses que os meus.

UHQ: O Reino do Amanhã mexeu com os fãs da DC no mundo inteiro. Como foi para você, um fã confesso dos personagens DC, “matar” um ícone como o Capitão Marvel?

Waid: Partiu meu coração… Mas o fato de se tratar de um Elseworld (Nota do UHQ: Túnel do Tempo, no Brasil), me aliviou um pouco. Eu não suportaria alguém matar o personagem “permanentemente”.

UHQ: E como foi trabalhar com Alex Ross? Você tem planos para trabalhar com ele novamente?

Waid: Nenhum plano… Alex é um cara MUITO ocupado. Mas ele é muito criativo e desafiador. A vantagem de se trabalhar com ele é que todo o processo me forçou a examinar o meu próprio trabalho mais cuidadosamente do já havia feito antes.

UHQ: No Brasil, será publicada, em fevereiro, a mini-série The Kingdom. Por que voltar com o conceito de vários universos depois de Crise nas Infinitas Terras?

Waid: Porque eu e Grant Morrison estávamos cansados por todos os eventos publicados pela DC, nos últimos 15 anos, estarem DIMINUINDO o seu Universo… fazendo-o ficar MENOR. Quando nós criamos o Hipertempo, estávamos tornando o Universo DC GRANDE novamente, e cheios de POSSIBILIDADES. É por isso que nós amamos tanto os personagens da DC.

Capitão Marvel em O Reino do Amanhã The Kingdom, continuação de O Reino do Amanhã

UHQ: Por que Alex Ross não participou de The Kingdom? Houve pressão da DC para ser feita uma continuação de O Reino do Amanhã devido ao seu grande sucesso?

Waid: Houve sim, mas eu resisti, até me darem a chance de escrever as cinco revistas Kingdom, as quais saíram entre Kingdom #1 e #2. Alex escolheu não trabalhar comigo, porque o que eu tinha em mente não combinava com a sua visão.

UHQ: Na sua opinião, por que The Kingdom não teve uma história tão boa quanto O Reino do Amanhã?

Waid: Em parte, porque a arte foi feita apressadamente; e era imprópria para a história. Mas, principalmente, porque eu simplesmente tive que produzir muita coisa em pouco tempo: sete roteiros de uma vez! Acabei pondo grande parte da minha atenção nas cinco revistas “do meio”. O que foi mostrado em Kingdom #1 e #2 não foi ótimo, mas eu acho que Offspring, Planet Krypton e Son of the Bat são tão bons quanto qualquer outra coisa que eu já escrevi ou irei escrever.

UHQ: Qual a sua opinião sobre novo Espectro, Hal Jordan? Acredita ter sido uma boa idéia?

Waid: Qualquer coisa que nos deixe mais perto de trazer o Hal de volta ao Universo DC, como um dos mocinhos, está bom pra mim.

UHQ: Existem rumores que o novo Espectro é o começo de algo que se tornará um novo evento, como Crise nas Infinitas Terras. Poderia nos falar se há algo de verdade nisso?

Waid: Não que eu saiba.

UHQ: Você prefere os personagens clássicos ou os novos? Barry ou Wally? Hal ou Kyle? Oliver ou Connor? Por quê? O que acha dessas mudanças?

Waid: Em geral, eu prefiro os personagens clássicos. Não tenho preconceitos contra novas versões, a não ser que sejam criados de uma maneira que suje a memória e o espírito dos super-heróis clássicos, que eu tanto amo. Para isso, não existem desculpas. Estou feliz de ter Oliver de volta (obrigado, Kevin Smith!), pois ele tem uma personalidade única no Universo DC. E nós ficamos pobres sem ele.

UHQ: O que você planeja para a Liga, no futuro? Como a equipe irá reagir à expulsão do Batman?

Waid: A divisão que isso cria, a crescente paranóia e a falta de confiança irão afetar tremendamente a equipe, e é algo que o Super-Homem terá que encontrar uma maneira de resolver, se quiser que a Liga continue funcionando.

Liga da Justiça

UHQ: Com seu contrato de exclusividade com a CrossGen, você terá que sair do título. Já tem alguma história planejada para sua despedida? Quando isso acontecerá?

Waid: Não há nada planejado para uma “despedida”. Minha última edição não será publicada antes do final de 2001, aqui nos Estados Unidos. Então, eu tenho tempo!

UHQ: Quem você gostaria que o substituísse? Por quê?

Waid: Tom Peyer seria a minha escolha, mas… Vamos ver.

UHQ: Apesar de você ser mais conhecido por seus trabalhos na DC Comics, também fez bons trabalhos na Marvel, entre eles X-Men, Capitão América e Ka-Zar. É muito diferente trabalhar nas duas editoras?

Waid: Muito diferente… pelo menos era, quando eu trabalhava na Marvel. Lá, cada palavra que eu escrevia, cada situação criada com os personagens, era colocada em dúvida e tinha que passar por uma segunda opinião. Isso me deixava com pouca, ou nenhuma, confiança nas minhas histórias.

UHQ: O que achou das mudanças editoriais da Marvel? Gostou de Joe Quesada como novo Editor-Chefe, substituindo Bob Harras?

Waid: MEU DEUS, sim! Joe pensa no futuro, é generoso e honesto.

UHQ: Aqui no Brasil estão sendo publicadas suas últimas histórias com o Capitão América. O que aconteceu para você sair do título?

Waid: Eu estava sendo constantemente cobrado sobre que tipo de histórias deveria contar. Me falavam que o que eu estava fazendo, ou querendo fazer (abordar mais a temática sobre a América e o Sonho Americano) era “errado”; e a Marvel não queria isso. Mas, quando perguntei, a Marvel não soube dizer o que QUERIAM. A resposta exata me foi dada por Bob Harras: “Capitão América não tem que ser sobre a América, assim como o Homem-Aranha não tem que ser sobre aranhas”.

Essa era a sua decisão. A Marvel é dona dos personagens, eu não. E, sob essa filosofia, eu, pessoalmente, sabia que não poderia produzir mais histórias de qualquer tipo.

UHQ: Durante a convenção de San Diego deste ano, voltou a ser comentado um possívelcrossover entre JLA e Vingadores. Depois que Quesada assumiu o cargo de editor-chefe, ele desmentiu os rumores. Parece que você e Kurt Busiek tinham planos para esse encontro. Por que não aconteceu? Será que algum dia os leitores verão essa história? O que você planejava para as duas equipes?

Waid: Acredito que irá acontecer, eventualmente. Eu e Busiek conversamos informalmente sobre o que GOSTARÍAMOS de fazer, mas foi apenas um papo entre amigos. Além disso, revelar qualquer detalhe seria injusto com Kurt. Se eu estarei ou não envolvido quando o encontro acontecer? Eu duvido! Mas… quem sabe o que o futuro nos reserva?

Capitão América Ka-Zar

UHQ: Na convenção de San Diego de 1998, você chegou a distribuir revistas do Homem-Hora pagas do próprio bolso para ajudar a promover a revista, que era uma de suas preferidas. O que achou da decisão da DC de cancelar o título?

Waid: Não foi exatamente a DC que cancelou a revista. Tom Peyer escolheu terminá-la por decisão própria, pois sabia que, cedo ou tarde, a DC CANCELARIA, e aí ele não teria qualquer controle de quando isso aconteceria. Eu acho uma vergonha! Era uma das melhores revistas da DC, mas o mercado está TÃO RESTRITO no momento, que não há espaço para NADA experimental.

UHQ: Como surgiu a idéia de se criar a Gorilla Comics? Por que escolheu Empire para estrear?

Waid: Eu venho querendo lançar Empire há cinco anos ou mais, antes que outra pessoa tivesse essa idéia e fizesse antes de mim. A Gorilla surgiu porque eu e Kurt estávamos frustrados com a crescente interferência editorial da Marvel e, algumas vezes, da DC. Nós queríamos ser livres para fazer nosso próprio material, sem nenhuma restrição.

UHQ: Como ficará seu trabalho na Gorilla Comics no próximo ano, já que assinou um contrato de exclusividade com a CrossGen? Alguns rumores diziam que suas revistas (Empire e futuros projetos, como John Doe), poderiam se transferir para a CrossGen. Existe essa possibilidade?

Waid: Nada definido, por enquanto. Vamos ver. Enquanto isso, o meu contrato com a CrossGen me permite continuar com Empire.

UHQ: Agora, vamos falar a CrossGen e seu trabalho na editora. Como aconteceu o contato entre você e Mark Alessi, e quanto tempo demorou a negociação?

Waid: Levou algumas semanas, mas só porque é uma grande mudança para mim deixar de ser freelancer e trabalhar como empregado novamente, dentro de um escritório. Então, isso envolveu uma certa “lábia”, por parte do Mark. Por sugestão da Barbara Kesel, ele foi atrás de mim no último verão (Nota do UHQ: o verão americano acontece durante o nosso inverno) e começamos a negociação. Eu gosto dele. Ele é franco e honesto.

UHQ: O que você fará exatamente? Qual será sua função administrativa?

Waid: O nome da minha função é simplesmente “escritor sênior”, o que não descreve exatamente o meu trabalho. Eu estarei escrevendo dois títulos, mas, mais que isso, vou ajudar a administrar a companhia, ensinando novos escritores e artistas; e supervisionando todos os aspectos do crescimento da editora.

Empire Crux

UHQ: Você irá escrever dois títulos: Sigil e Crux. Quais os seus planos para eles, principalmente o segundo, que será criado por você?

Waid: Eu gostaria de poder contar para vocês, mas os detalhes ainda são um segredo. Vamos apenas dizer que Crux não será apenas a primeira revista da editora com uma equipe, mas também, como previu Mark Alessi, será o título mais importante do Universo CrossGen, daí o seu nome (Nota do UHQ: “Crux” é cruz em latim, mas em inglês significa peça central, essência, coração – em sentido figurado. Também pode ser um problema aparentemente insolúvel).

UHQ: Como você analisa o mercado de quadrinhos atualmente, com baixas vendas e a Marvel sofrendo uma nova crise?

Waid: As coisas estão muito precárias, e isso não é segredo. Mas tudo que eu posso fazer, no momento, é me concentrar no aqui e agora; e não me preocupar muito com um futuro sobre o qual eu não tenho controle.

UHQ: Você espera ajudar o mercado de maneira mais significativa com suas novas funções na CrossGen? Quais suas perspectivas para o futuro?

Waid: Minhas esperanças são que os quadrinhos – não só as revistas da CrossGen, mas sim todos os quadrinhos – sejam mais uma vez distribuídos em massa. Crianças AMAM quadrinhos. Elas apenas não sabem onde encontrá-los nos Estados Unidos (Nota do UHQ: nos EUA, revistas em quadrinhos são vendidas apenas em lojas especializadas, o que eles chamam de “mercado direto”. Não existem bancas, como aqui no Brasil. As edições encadernadas e alguns títulos mais populares podem ser encontrados em displays de livrarias).

Se elas pudessem ENCONTRAR revistas, iriam COMPRAR, e todos ficaríamos melhores. A CrossGen tem muitos, muitos planos altamente secretos para distribuição alternativa. Vamos desejar sorte!

UHQ: Então, boa sorte! E obrigado pela entrevista.

Waid: Obrigado e um abraço aos leitores brasileiros.

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