Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Entrevistas

Um retrato fiel do mercado

3 março 2001

Entrevista: Editora Conrad

com Rogério de Campos (Editor)

Editora ConradUniverso HQ: Qual a sua opinião sobre o mercado de quadrinhos no Brasil hoje? O que esperar desse mercado no próximo ano?

Rogério de Campos: Parece que irá acompanhar o resto do mundo: verá cada vez mais quadrinhos japoneses; “mangá” se tornará sinônimo de “gibi”; os quadrinhos alternativos crescerão nas livrarias e os quadrinhos de super-heróis irão cair sem parar. Mas surpresas surpreendentes podem nos surpreender no meio do caminho.

UHQ: Quais os principais problemas que você vê no mercado nacional? O que acha que deveria acontecer para mudar esse panorama?

Rogério: A fraqueza comercial de quadrinho brasileiro não infantil. Isso não é simplesmente um problema para os nacionalistas, mas é um problema do mercado. A existência de gibis brasileiros poderia dar mais estabilidade para o mercado. Não viveríamos uma situação de, a todo momento, estarmos à mercê das febres vindas de fora.

Na Itália, por exemplo, Tex e Dylan Dog existiam quando começou a febre dos gibis de super-heróis, continuaram a existir quando essa febre acabou; e convivem muito bem com todos os mangás que tomaram as bancas italianas nos últimos anos.

UHQ: Qual o balanço que a sua editora faz do ano 2000?

Rogério: Fomos a editora que mais cresceu no ano. A Nintendo World bateu o recorde de revista de videogames mais vendida na história do segmento. A Pokémon Club transformou-se não só no gibi mais vendido do País, mas serviu de referência para publicações que surgiram em toda a Europa. A Herói atingiu 42% do segmento das revistas que falam de cinema, quadrinhos, desenhos animados etc (que inclui, por exemplo, títulos tradicionais como a Set). Gen e Comic Book foram premiados com o HQ Mix. Nosso autor Joe Sacco (de Palestina) encabeça a lista de melhores quadrinhos do ano da revista Time. E nosso Marcelo Gaú tornou-se o primeiro brasileiro a ser publicado na Heavy Metal americana. Sendo assim, acho que foi um ano bonzinho.

UHQ: Quais são os planos da sua editora para 2001? O que vem por aí?

Rogério: O (André) Forastieri (nota do UHQ: sócio de Rogério de Campos, na Conrad) pretende que conquistemos o universo. Eu fico satisfeito em consolidar nossa posição como editora mais bacana do Brasil.

UHQ: Hoje, a história em quadrinhos é um produto caro. É possível reverter esse quadro ou a tendência é isso se manter?

Rogério: A vida está dura, mas não acho que os gibis sejam um produto assim tão caro. Pelo menos, não os nossos. Antigamente, os quadrinhos eram um pouco mais caros que um ingresso de cinema, hoje, nossos gibis não custam nem a metade.

UHQ: Mesmo nessa tremenda crise, poucas vezes tivemos tamanha variedade de lançamentos. O leitor pode optar entre super-heróis, europeu, mangá, quadrinho adulto, erótico, nacional etc, mas todos com tiragens reduzidas e preços altos. Como você encara essa segmentação?

Rogério: É maravilhoso. Mas acho que falta mais humor.

Palestina - Uma nação ocupada Dragon Ball # 5

UHQ: Por muito tempo, os quadrinhos de super-heróis dominaram o mercado nacional. Você acha que essa diversidade de títulos é sinal que eles estão em decadência?

Rogério: Acho que o que aconteceu, até por influência de autores de super-heróis como Alan Moore, foi uma redescoberta das infinitas possibilidades dos quadrinhos como linguagem. Quando os heróis perdem os super-poderes, quem fica mais poderoso é o autor. Melhor para os leitores.

UHQ: Qual sua opinião sobre a distribuição no Brasil?

Rogério: É a melhor possível para tiragens grandes. É a pior possível para tiragens pequenas.

UHQ: Os quadrinhos estão, cada vez mais, migrando para as livrarias. O que você acha desse nicho?

Rogério: É muito natural. Em qualquer lugar do mundo, livraria só tem moral de bacana quando tem sua prateleira de quadrinhos.

UHQ: Você acha que a falta de revistas e críticas especializadas no setor afeta o mercado?

Rogério: A Herói ganhou o prêmio HQ Mix de melhor revista sobre quadrinhos, mas realmente não é uma revista que se propõe a ser especializada no assunto. Parece-me que estão pintando vários espaços na Internet que cobrem bem essa lacuna.

UHQ: Qual a atual situação da editora, no mercado de bancas?

Rogério: Somos os tais. Veja o barulho que fazemos com tão poucos títulos.

UHQ: A decisão da Abril de migrar para o formato Premium, extingüindo o formatinho beneficiou vocês de alguma forma? Ou atrapalhou?

Rogério: Eu (rá rá rá) prefiro (rá rá rá) não falar (rá rá rá) do assunto (rá rá rá).

UHQ: A Conrad está apostando nos mangás. Vocês acham que esse é um caminho para ocupar a lacuna deixada no mercado de super-heróis?

Rogério: A moral dos gibis de super-heróis andou tão baixa, que essa lacuna ficou bem pequena. Seria muito pouco termos o objetivo de simplesmente ocupar o lugar que foi dos super-heróis. Em todos os países da Europa e América Latina em que foi lançado, Dragon Ball tem vendido mais do que a soma de todos os gibis de super-heróis juntos.

UHQ: Vocês têm atuado tanto em bancas, como em livrarias. Por quê? Há muitas diferenças entre os dois nichos?

Rogério: São dois mercados muito diferentes. E mantemos uma política diferente para cada um dos dois mercados: colocamos nas bancas aqueles gibis que todas as outras editoras adorariam publicar, colocamos nas livrarias aqueles gibis que ninguém mais teria coragem de publicar.

UHQ: A competição no mercado de livros parece estar mais acirrada do que nas bancas. Como você vê a posição de editoras como a Meribérica, a Devir, a Via Lettera, a Tendência e outras que estão entrando no setor?

Rogério: Não se engane: somos todos da mesma panela. Não há competição! Todos conhecem todos, todo mundo toma cerveja com todo mundo. Estou muito agradecido à Meribérica por fazer aqueles álbuns lindos dos franceses. A Devir publica os livros do Mutarelli; e eu gosto tanto, que até escrevi um prefácio para um desses livros. A Via Lettera lançou o From Hell, parabéns. E aTendência lançou um livro do Marcatti, que é o maior herói dos quadrinhos brasileiros. Como brother e, principalmente, como leitor torço muito para que eles prosperem.

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