Comic Con: The Experience
O fã, por Marcelo Naranjo
Algumas vezes, a gente dá sorte. O Expo Imigrantes não é muito longe de casa. Assim, o jeito foi me programar com antecedência, adiantar o serviço na “vida real”, conferir o material a ser autografado e correr para a primeira edição da Comic Con Experience.
Vale citar a impressão que tive no primeiro momento que entrei no local: estupefação. Não esperava encontrar aquilo, parecia uma feira de negócios, dessas que tanto acontecem em São Paulo, mas voltada somente para a cultura pop, com alguns espaços específicos para diversas atrações. Havia estandes de figuras de ação e estatuetas, as editoras maiores, o espaço dos quadrinhistas, espaço para fotos com o pessoal da TV e cinema, editoras e lojas menores, além da área de alimentação. Fiquei impressionado. Afinal, tudo que eu curto num só lugar? Não é possível! Que nada, a partir de agora é possível, sim.
Falando sobre os dois dias iniciais em que estive no evento, uma das primeiras intenções (frustradas) era conseguir o autógrafo do Don Rosa, um dos maiores quadrinhistas Disney de todos os tempos.
Logo descobri que o homem é atencioso e não tem pressa. Assim, levava um bom tempinho para cada um chegar à sua mesa. Tempo demais. A fila não andava! Eram cerca de quatro horas para falar com ele. Perguntei para uma das pessoas que estava organizando o local se não seria interessante pedir para ele “agilizar” um pouco. A resposta: “Quer ir lá e pedir você? Eu não tenho coragem. Você tem ideia de como o homem é bravo?”. Sim, eu tinha. Deixei pra lá. O problema é que a CCXP tem coisa demais pra ver e pra fazer, muita gente pra conversar. Não queria ficar tanto tempo na fila. Assim, deixei o atual Homem dos Patos para sábado – era só chegar cedo, certo? Errado.
Cheguei cedo no sábado. E daí? Já tinha uma multidão esperando para entrar no evento! Quanta gente! Diacho! Santa fila enorme! Pelas barbas de Odin! Fazer o quê? Entrar na fila. E esperar. Esperar. Esperar. Conversar com quem estava por perto (descobri que todo mundo conhecia o Universo HQ, foi bacana demais papear com as pessoas). Enfim, aleluia! A fila andou. Entrei. Não, não tive coragem de ir correndo para o estande da Comix, onde estava Don Rosa. A gente se sente como uma criança empolgada, mas sair correndo seria demais da conta.
Conclusão: a fila já estava formada. Tanto trabalho e dancei de novo... Não, espera! Um (bendito) amigo sabia da minha intenção e estava na fila esperando por mim! Quase no começo, pertinho do Don Rosa! Ele saiu e eu fiquei em seu lugar (lógico, nada de provocar um tumulto social nem uma tragédia maior que a da Ilha de Genosha no local – entendedores entenderão).
Consegui! Elogio pra lá, elogio pra cá, comentei minha admiração pelo traço minucioso nos cenários, falei do quanto eu gostava dos quadrinhos dele, autografei minhas edições de A Saga do Tio Patinhas e Mestres Disney, comprei dois prints lindos, ganhei uma arte do Tio Patinhas feita na hora e um caloroso aperto de mão. Valeu demais. Se fosse simples, certamente não teria tido tanta graça.
Mas não podemos parar nunca. O dia passava voando e a sensação era de que não daria tempo de fazer nada. Corri pra outra fila – o painel da Mauricio de Sousa Produções começaria em duas horas. E já tinha um montão de gente esperando. Não faz mal, lá fui eu!
Conversa um pouco com o cara da fila do lado, que voltou a ler quadrinhos recentemente. Pessoal da frente adora o selo Graphic MSP. Todos conhecem o UHQ. Demora. Começa a andar. Para. Continua. A moça lá na frente pede pressa pra todo mundo entrar no auditório já lotado, vou eu lá para o fundo e sento na cadeira. Já tinha começado a apresentação, o som dos microfones estava um tanto ruim, mas tudo bem.
Brincadeiras, revelações, emoções. Tem de tudo um pouco. Mauricio de Sousa e Sidney Gusman, num ótimo timing, brincam no palco. Mauricio pergunta quem da plateia aprendeu a ler com a Turma da Mônica. Quase tudo mundo em catarse levanta a mão, eu incluso. “De novo, pessoal, para a foto”. Todo mundo levanta a mão e grita. Legal demais!
Mauricio não se contém e quer contar novidades. Ele deixa escapar que o selo Graphic MSP vai virar filme enquanto o Sidão grita “Não, chefe, não!”. Risadas. Mauricio conta também do novo estúdio, que possibilitará visitas diárias do público. Conta da importância dos gibis e faz um comparativo com o que pensavam da mídia quadrinhos antigamente – até na fogueira eles iam parar, com o aval inclusive de alguns professores. Mas tudo mudou.
O carinho do público é nítido, perpassa cada risada. O mestre ganhou uma homenagem na CCXP pelo seu trabalho – mais que merecida. No encerramento, ele é ovacionado. Minha nossa, já acabou o painel? Como assim?
Agora é hora de escolher – ficar para o próximo painel sobre a Terra Média? Passear pelo pavilhão? Ah, esse problema de não poder estar em dois lugares ao mesmo tempo. Os painéis, as palestras, as filas para autógrafos, visitar tudo... Tinha que escolher.
Optei por andar pelo pavilhão e fui caminhar. Hora de passar novamente por um dos espaços que mais curti (nos dois dias anteriores foram horas ali), o Artists’ Alley, ou Beco dos Artistas. O pessoal que faz acontecer o quadrinho nacional independente, juntamente com algumas estrelas nacionais e internacionais estavam lá, cara a cara com o público.
Que bacana conversar com aqueles artistas cujo trabalho você conhece da internet, uma revista em quadrinhos que você curtiu e quer cumprimentar o autor, uma edição que você olha na mesa e chama sua atenção – é hora de comprar.
E o melhor: com algo que só a mídia quadrinhos proporciona, diferente da literatura ou da TV/Cinema, um autógrafo personalizado com um desenho. Obrigatório. Momento bacana, no qual o fã é foco da atenção do autor, que vai lhe dedicar minutos preciosos para personalizar e tornar única aquela arte, aquela revistas em quadrinhos.
E olha quanto autor diferente dos mais variados gêneros das HQS, em títulos como Captar, Klaus, A Tribo, A História Mais Triste do Mundo, Homem de Neandertal, 2 x 10!, As Aventuras da Bruxinha Mô, Mistifório, Muiraquitã e a Fúria do Anhangá, Edgar em busca da energia dos ventos, Red Door HQs, A Busca, Anarquia, Velhaco’s, Pátria Armada, A Terrível Elizabeth Dumn contra o Diabo de Terno, Bobo da Corte – Mau Humor é um Terror, Grump 20 Anos de História, Quad 2, Fronteira Livre, DUO, Mayara & Annabelle, Cripta do Shogum, Verdugo, o Inacreditável, Brummmmm! Volume 2, Os Segredos de Jack, Visões de Claudeciro, Ópera Jones, São Paulo dos Mortos # 2, A Última Bailarina... Isso é só um pouquinho do que vi por lá.
Impossível perder a chance de conversar com os autores, mais de 200 quadrinhistas dividiam o espaço, e não é todo dia que dá pra encontrar esse baita time de craques do traço e dos roteiros da HQ brasileira no mesmo lugar. O jeito era aproveitar. Incomodar um, cumprimentar outro, pedir autógrafo daquele, comprar uma HQ deste, comprar duas, três, quatro... um montão.
Não para, não para, não para.
Difícil era conseguir um autógrafo dos autores do selo Graphic MSP. Não que eles não estivessem à disposição e com toda a boa vontade do mundo, só que era preciso coragem para enfrentar as filas. Mas valia a pena.
Fora todos aqueles autores talentosos e simpáticos sempre à disposição para bater papo! Era o momento deles. Azar de quem bobeou. Eu tirei fotos, comprei HQs, ganhei autógrafos, ri muito. Se pelo Universo HQ fui com a intenção de noticiar, como fã, o coração falou mais alto. Assim, obrigado a todos que me dispensaram um segundo que seja de sua atenção – vocês são demais.
Hora de continuar e visitar as editoras consolidadas, divididas entre as majors e as menores. E tome a verdadeira farra dos gibis – Preacher, Astronauta – Singularidade, Shazam e a Sociedade dos Monstros, Batman’66, Miracleman, As Aventuras de Sir Holland, o Bravo, Lucky Luke, Mestres Modernos – Volume 3 – José Luis García-López, Guerra 1914 – 1918, Feitiço da Vila. Esses são alguns dos títulos que me ocorreram ao escrever o texto, mas tinha mais – muito mais.
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Nos estandes, as campeãs no quesito “volume de pessoas tentando ocupar um espaço físico que não as comporta” eram a Panini e a Comix Book Shop. Devido aos descontos e lançamentos, a impressão nesses espaços era de que eu e cerca de cinco mil pessoas tivemos a mesma ideia, ao mesmo tempo. Não dava pra entrar. Não dava pra achar a revista que tinha em mente. Não dava pra achar o fim da fila. Não dava pra não comprar.
Mas outras editoras também capricharam no evento, como a JBC, com extensa programação, concursos e bate-papo toda hora com o público. Os dois volumes de All You Need is Kill e Green Blood eram algumas das novidades na linha de mangás. Leva um. Leva dois. Leva os três, fazer o quê? Nos estandes menores, a Jambô e a Marsupial estavam com títulos realmente bacanas à venda.
Seguindo pela peregrinação, chamavam demais a atenção os colecionáveis de super-heróis e congêneres. Batman e Robin, Homem de Ferro, Homem Aranha, Mickey, Dr. Who, Star Wars, tudo podia ser encontrado, em diferentes tamanhos, para os mais variados gostos. Cada estatueta lindona! Em comum, o preço por vezes não tão convidativo e o fato de que ficariam lindas em qualquer estante. Na minha, por exemplo. Quem nunca?
E não só: também tinha uma Tardis em tamanho real no local. Impossível não tirar uma foto dentro dela, fazendo pose num “momento Dr. Who”. Allons-y! Geronimo! Mas os comandos da nave não estavam visíveis. Que pena... Não foi dessa vez que viajei no tempo.
Ainda sobre Dr. Who, no estande da Eaglemoss a coleção de miniaturas que chegará em breve às bancas, serão dez estatuetas com alguns dos principais personagens dessa antiga série de ficção britânica que, de surpresa, conquistou o coração de muita gente por aqui.
Agora, voltemos no tempo e no texto. Lembra que falei que fiquei na fila para o painel da MSP? Neste interim, passou por ali, escoltado, o ator Sean Astin. Que legal. Logo depois, Brad Dourif acenou para todo mundo.
De minha parte, quem eu precisava encontrar era o desenhista José Luis García-López. E olha a sorte (só que não): quando a fila para o painel MSP começou a andar, vejo o veterano quadrinhista passando calmamente perto do local, sem ser incomodado, indo em direção ao pavilhão. O que fazer? Largar a fila? Torcer para encontrá-lo mais tarde? Decidi tentar mais tarde. Não tinha ideia da sorte que tive ao tomar essa sábia decisão.
Pula para várias horas depois.
Quem, como eu, gosta de quadrinhos de super-heróis e, além disso, cresceu entre as décadas de 1970/1980, sabe da necessidade de ter um autógrafo de García-López. Um artista clássico que influenciou gerações principalmente com seu elegante Superman (sabia que ele gosta mais do Batman?).
Enfim, como fazer? Sabia que ele estava no estande do Chiaroscuro Studios, mas, por mais que os artistas lá fossem muito simpáticos e acessíveis, eu não teria cara de pau para pedir para chamar o homem. O que fazer?
Chegando lá, quem é aquele cara batendo papo com o mestre García-Lopez? Meu amigo Sidney Gusman? Ah, vá. Fiquei lá aguardando uma oportunidade – e não é que o Sidney foi para a sala de imprensa conversar com o mestre (a entrevista você verá em breve, no UHQ)? Conclusão: eu fui junto. E tudo que eu queria foi autografado. Yes! Valeu, Sidão!
E sei que ele vai querer me esganar, mas vou contar: quem disse que o Sidney conseguia andar sossegadamente pelo evento? Era autógrafo pra cá, autógrafo pra lá, e o mais divertido é que ele fica muito sem graça com isso, pois, como afirma sempre, é apenas o editor, quem tem todo o crédito são os artistas. Mas não é muito mais legal ter os autógrafos de ambos na edição? Que tal um título do selo Graphic MSP com autógrafos do Mauricio, do Sidney e dos (incríveis) artistas responsáveis?
Enfim, como amigos também servem para tirar sarro... “Ei, Sidão, quer que eu organize fila de autógrafo?” Não demora nada, ele fica vermelho e começa a nos xingar – eu e o Samir Naliato, aqui do UHQ. Rimos. E mudamos de assunto, que era mais seguro.
Tudo isso feito, também visitei dois estandes menores de quadrinhos antigos ou recentes, com preço mais em conta – o Comic Hunter e o Empório HQ, dos meus amigos Celso e Márcio, respectivamente.
Aliás, no estande Empório HQ, acabei até ajudando a vender revistas em quadrinhos! Com argumentos de venda como “está na dúvida? Pense que você nunca mais vai achar isso!”, fico na dúvida se colaborei ou se traumatizei alguns possíveis compradores...
Falando em compras, levei para casa um Thanos da linha Marvel Select. A culpa foi do Jota Silvestre, do Papo de Quadrinho, que utilizou este mesmo argumento comigo: “Pense que daqui um ano você não vai mais achar esse item, muito menos por esse preço”. Não teve jeito. O “malvadão” da Marvel tornou-se parte da minha coleção.
Outro item que chamou demais a atenção foi a estatueta do Astronauta, do selo Graphic MSP, no traço do Danilo Beyruth. Com 40 cm de altura e a possibilidade de “trocar” o visual do personagem “com barba” e “sem barba” (conforme a HQ), muita gente ficou lá paquerando o incrível item colecionável. Sensacional.
(Estava pensando... Para 2015, devo contratar um caminhão baú para levar as compras que farei. Se eu ganhar na mega da virada, claro, para conseguir pagar tudo e ter onde guardar.)
Um tópico que não tem como não citar são os cosplayers. Extremamente caprichados. Tinha gente que não estava pra brincadeira, como um Jack Sparrow que parecia ter saído diretamente do filme, um Caveira Vermelha de rosto assustador, uma Mulher-Maravilha maravilhosa e tantos, mas tantos outros, que tem até um tópico exclusivo sobre o assunto no UHQ – clique aqui.
Além de dar um toque todo especial para o evento, os cosplayers são aquela atração que mais chama a atenção, embora parte da imprensa que não entende do assunto ache que é tão somente disso que se trata uma Comic Con tão incrível quanto esta...
Mas nós sabemos que essa é só a ponta do iceberg em um encontro que reuniu um número elevado de pessoas no mesmo lugar, com gostos parecidos, sem nenhum tipo de incidente ou situação desagradável. Muito pelo contrário: os fãs queriam apenas mostrar o carinho e a admiração por seus ídolos, e fiquei sabendo que alguns dos convidados estrangeiros acharam o máximo esse calor por parte dos brasileiros.
Alegria, empolgação, diversão, emoção, e até alguma tristeza (afinal, quem disse que era possível conseguir todos os autógrafos desejados?) – em maior ou menor escala, todos que foram ao local e estão lendo este texto tiveram momentos marcantes. Se quiserem compartilhar nos comentários, seria legal demais.
Assim, fica o agradecimento ao pessoal do Omelete e do Chiaroscuro por proporcionar aos fãs a oportunidade de visitar um evento tão incrível e os parabéns pelo sucesso. Com certeza, estarei na próxima edição. Que venha logo 2015, pois #VaiSerÉpico. De novo.
Marcelo Naranjo é editor do Universo HQ.