Comic Con: The Experience
O autor, por Ana Recalde
Caso tivesse que definir a CCXP em uma palavra, seria: organização.
Todo o tempo, desde que ficamos sabendo que ela aconteceria, foi assim: organizado. Ainda em fevereiro, foram abertas as inscrições para 64 mesas no Artists’ Alley, que passariam por uma seleção de trabalhos para aprovação do espaço.
Na época, houve controvérsia sobre como seria feita essa seleção e por serem poucas vagas. De fato, eram. Tanto que no evento tivemos 216 mesas disponíveis para os artistas.
As críticas que surgiram nesse primeiro momento foram diluídas conforme o andamento do ano.
Tanto pelo fato de mais mesas terem sido oferecidas (pelo tamanho da demanda, talvez), quanto pelas conversas entre os autores. Tudo levava para o "vamos ter que esperar pra ver".
Para autores de outros estados, como eu, que sou do Rio de Janeiro, era uma aposta alta. Passagem, o valor da mesa, estadia e alimentação; isso apenas como custo básico de estar lá. Quantas pessoas iriam? Quanto do público que pagaria para ver o painel da Marvel estaria disposto a comprar o meu quadrinho autoral? Eram muitas incertezas.
Porém, quem se arriscou teve um excelente retorno. O resultado é que todos os autores com quem conversei tiveram suas expectativas superadas em apenas dois dias. A maioria teve que buscar mais revistas e quem não tinha mais, bom, esgotou e ficou sem.
Com essa quantidade de público e de autores, somado ao fato de ser o primeiro evento, era uma receita para confusão. Mas qual não foi a minha surpresa quando tudo ocorreu na mais pura paz.
O cadastramento teve fila, mas apenas o normal, que seria 400 artistas entrando, mas ninguém teve que esperar demais. Além de termos recebido e-mails com as orientações de onde chegar, que horas, mapa do evento, código de conduta, ainda tivemos o apoio da organização na hora. Totalmente profissional.
O trabalho foi intenso e as vendas idem.
Era raro o momento em que estávamos no estande e não tinha alguém para conversar. Eram compradores, jornalistas, blogueiros, curiosos, outros autores, amigos. Quantas pessoas passaram naquele Artists’ Alley!
Também era raro estar andando pelo evento e não ver alguém com um quadrinho nacional na mão!
Os dias que passamos dentro do evento pareciam nos transportar para uma outra Terra, onde trabalhar 12 horas por dia com um sorriso no rosto não era um sacrifício. Muitas vezes, a gente não saía para comer, por exemplo. Mas nada disso era um martírio, e sim uma opção. Às vezes, até por não ver a hora passar.
Eu ainda consegui participar de um Master Class de roteiro com o Scott Snyder e de dois painéis. Ainda bem que não estava sozinha, mas dividindo a mesa com o Denis Mello e o Erick Carjes. Esses, sim, foram guerreiros demais e sempre estavam lá.
A energia que foi passada entre os autores naqueles momentos em que ficamos um do lado do outro não tem preço e, muitas vezes, tive a impressão de que é o que nos mantém seguindo nesse caminho. Compartilhar a nossa paixão com os colegas e o público sempre dá aquele gás e, claro, permite que a gente se encontre e aconteçam todos os planos para dominação mundial, um quadrinho por vez.
A verdade é que o trabalho de escrever e desenhar é solitário, feito numa mesa e geralmente com um fone de ouvido. Trocar isso pelo diálogo com os colegas é sensacional.
Depois, tudo acaba assim, meio do nada. Demora para a adrenalina ir embora.
Os comentários e comparações com o FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos foram um elogio, a meu ver, para receber a Comic Con Experience entre os grandes de uma vez, já que não tem evento dedicado aos quadrinhos maior que o FIQ no Brasil.
Então, às considerações finais: tinha muita gente, principalmente no sábado e domingo. E mesmo quem foi para o painel da Marvel e a estreia de O Hobbit comprou nossos quadrinhos normalmente. E, sim, no próximo ano planejo estar lá de novo, com lançamentos.
Preciso parabenizar os envolvidos no evento, que mostraram que uma boa organização sempre é a melhor opção para evitar imprevistos.
E, para as próximas edições, eu apenas gostaria de ter mais tempo para fazer tudo, acompanhar painéis e palestras, aulas, falar com as pessoas E vender revistas. Tarefa difícil, amigos, muito difícil.
Ana Recalde é quadrinhista, autora de Beladona.