Os Caçadores: elementos da HQ deram força ao seriado Arrow
Seriado de sucesso teve alguns dos seus elementos inspirados no trabalho de Mike Grell com o personagem
É de amplo conhecimento que a TV e o cinema finalmente descobriram as possibilidades dos quadrinhos, com numerosas adaptações que não param de ser divulgadas, graças, especialmente, aos super-heróis. Mas também é divertido percorrer o caminho inverso e descobrir onde os autores que transportam os personagens para a telinha (ou a tela grande) foram buscar suas inspirações.
Como na minissérie Os Caçadores, publicada no Brasil pela Editora Abril entre fevereiro e abril de 1989, em três edições – Predadores, Dragão e Rastros. O autor é Mike Grell, conhecido também por sua passagem em O Guerreiro (Warlord), John Sable, Homem de Ferro e vários outros personagens.
O sucesso do autor com o Arqueiro Verde fez com que ele fosse responsável por escrever (e desenhar algumas das HQs) uma longa sequência de cerca de 80 edições mensais, das quais uma parte foi publicada no Brasil – algumas saíram, logo após esta minissérie, no título Os Caçadores, que durou 15 números e publicou também personagens como o Questão e o Falcão Negro, além das revistas DC 2000 e Super Powers.
Embora o Arqueiro já tivesse ganhado conotação mais “adulta” anteriormente, em conjunto com o Lanterna Verde, na elogiada fase criada por Dennis O’Neil e Neal Adams, que também pautou o seriado Arrow, fato é que nas HQs de Mike Grell temas como a escalada da violência, crimes cotidianos e o tráfico de drogas passaram a fazer parte da rotina de Oliver Queen, que opta por parar de utilizar suas flechas especiais e retornar às suas origens, inspirado pela lembranças tanto de seu início como arqueiro como por um ator que fez o papel de Robin Hood por anos, mas que nunca deixou de lado o velho arco que utilizava.
“Esqueci a simplicidade e deixei que as flechas especiais e seus truques fizessem o serviço por mim. Eu perdi o jeito”, afirma o herói.
Na trama, Oliver já se considera um “avô”, um senhor de 43 anos, cujo “filho”, na verdade um "quase filho", Roy Harper, já é pai. Agora vivendo em Seattle com Dinah Lance, Oliver propõe casamento e conta que quer ser pai, mas a parceira se esquiva, pois afirma que ambos têm no sangue a emoção e o perigo de atuar como justiceiros, algo que nunca vão deixar de lado. E que os vilões atuais não são caçadores, são predadores. “Eu te amo, Oliver, e adoraria ter filhos com você. Mas não quero gerar órfãos”.
Eles estão numa investigação sobre dois crimes, para descobrir quem é o assassino das prostitutas locais, e quem está matando com flechas uma longa lista de homens de idade, aparentemente de modo aleatório.
Oliver encontra a arqueira, uma oriental assassina enviada pela Yakuza em busca de lavar a honra do pai, assassinado há muitos anos pelo grupo de homens do qual está atrás, que torturaram sua esposa e levaram todo seu dinheiro que era, na verdade, da máfia japonesa, o que fez com que cometesse hara-kiri.
Ela é uma perita no domínio do arco e flecha, treinada quando criança por um mestre da arte. Seu nome é Shado, e o arco e flecha são uma extensão espiritual dessa matadora tatuada com um dragão vermelho – o arqueiro não é páreo para ela, pois ele não é assassino.
Mas Dinah e capturada e é vítima de muita violência e tortura por parte dos bandidos locais, cujo líder é um dos homens que Shado busca. Guiado pela raiva, Queen também passa a agir como um assassino, e muitos corpos ficam pelo caminho dos dois arqueiros.
Durante a aventura, Oliver relembra sua trajetória de playboy, interrompida ao cair de uma embarcação e chegar a uma ilha, quase morrer de fome e aprender a interagir com o ambiente ao utilizar o arco e flecha para sobreviver.
Uma HQ belamente ilustrada, com um competente jogo de sombras, trama cativante e personagens carismáticos, que teve alguns de seus elementos levados diretamente para o seriado Arrow.
Como, por exemplo, a preocupação com a ambientação no cotidiano urbano ("Eu falhei com essa cidade!”, repete “n” vezes o Oliver Queen da TV).
Foi nessa HQ que Oliver Queen começou a literalmente trespassar sem dó os vilões com suas flechas pontiagudas – seja num braço, numa perna, numa orelha ou em lugares fatais, pois os bandidos são malvados de verdade. E ele está decidido a enfrentá-los.
A garota oriental chamada Shado na HQ foi adaptada para o seriado. Ainda que esta última tenha uma origem e caracterização bem diferente dos quadrinhos, ambas acabam por ser um interesse romântico na vida de Oliver Queen.
Finalmente e mais evidente, o uniforme do herói, alterado por Mike Grell – agora com o seu capuz único, quase uma marca registrada de Queen quando se transforma em Arqueiro Verde no seriado, inclusive com a vestimenta aparecendo de modo chamativo no tema de abertura.
Alguns destes elementos até podem – ou possivelmente foram - utilizados previamente nos quadrinhos, mas sem dúvida o talento de Grell fez com que ganhassem destaque a ponto de se tornarem a força motriz no seriado Arrow, que, entre seus erros e acertos, deve bastante a esse talentoso criador.
Marcelo Naranjo assistiu às duas primeiras temporadas de Arrow, mas não está com coragem de assistir à terceira, pois andam falando que ficou sem graça!