Ataque à Charlie Hebdo causa comoção mundial e cartunistas homenageiam colegas
O ataque terrorista de ontem à redação do semanário satírico francês Charlie Hebdo, que vitimou cinco cartunistas e outras sete pessoas, causou comoção mundial. A tragédia ocorre em meio a um período conturbado em toda a Europa a respeito da imigração, e a França é justamente um dos lugares em que o assunto causa mais polêmica.
Movimentos contra imigrantes têm aumentado consideravelmente nos últimos anos, e o atentado pode acirrar os ânimos.
O presidente francês François Hollande pediu a união da França, prometeu uma caça aos autores do crime e disse que o país não se curvará ao terrorismo.
Milhares de agentes foram destacados para a busca dos atiradores, e a polícia chegou a três suspeitos. De acordo com essa investigação, dois deles são irmãos, Saïd e Cherif Kouachi, de 32 e 34 anos, e seriam franco-argelinos nascidos em Paris. Segundo o serviço secreto francês, eles eram monitorados pela agência dentre centenas de outros suspeitos de práticas terroristas.
O terceiro, de 18 anos, se chama Hamyd Mourad, e teria participado como motorista. Hamyd se entregou à polícia nesta madrugada, afirmando ser inocente
Até o fechamento desta matéria, os dois irmãos continuavam foragidos. Informes dão conta que eles seriam membros da organização Al Qaeda, mas as investigações continuam.
Repercussões
Nas redes sociais, a hashtag #JeSuisCharlie (Eu Sou Charlie) ganhou força e foi usada em apoio à publicação. O próprio site da Charlie Hebdo adotou a frase, e passou a exibi-lo em vários idiomas contra um fundo preto em luto pelo acontecimento.
Na noite da última quarta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas na França espontaneamente, empunhando lápis e canetas. De acordo com autoridades, aproximadamente 35 mil pessoas se reuniram em vigília na Praça da República, em Paris. Outros lugares tiveram manifestações semelhantes, com participação estimada de mais de 100 mil pessoas.
Aqui no Brasil, franceses residentes no País se uniram a brasileiros no vão do Masp, em São Paulo.
O Google francês também homenageou as vítimas na página inicial, com a inclusão de uma pequena fita preta de luto.
Líderes de vários países repudiaram o atentado, classificando-o como um ataque à democracia, à liberdade de imprensa e de expressão. Representantes de entidades islâmicas também condenaram o ato. Enquanto isso, a mídia francesa ofereceu equipe e apoio para que o semanário continue sendo publicado.
Cartunistas e desenhistas de todo o mundo, inclusive brasileiros, lamentaram o ocorrido em diversos veículos de comunicação. Dentre eles Laerte, Ziraldo, Ique, Chico Caruso, Fernando Gonsales, Rafael Campos, Caco Galhardo, André Dahmer, Allan Sieber, Adão e muitos outros.
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Além da declaração da Associação dos Cartunistas do Brasil – ACB, divulgada ontem, veja outras manifestações.
“O desenho, de todos os tempos, foi para o homem o meio de se expressar: para dizer, partilhar, testemunhar, protestar, dialogar, questionar, significar, reunir. Para portar as ideias. As tiras vieram enriquecer esse modo de expressão, que precede a escrita. Às vezes no humor, às vezes com gravidade.
Hoje, na sede do Charlie Hedbo, homens foram mortos por serem desenhistas, espíritos livres. Alguns entre eles nos eram bastante familiares, em particular Georges Wolinski., premiado no festival em 2005. Nós éramos todos próximos, porque eles tinham o mesmo talento de saber dizer tudo em traços quaisquer, para nos dar o que pensar.
E porque nossa vocação, graças aos autores de quadrinhos que nos mostram o caminho, nós fazem continuar a pensar, com eles e por nós mesmos. De duvidar antes de agir, para sempre agir bem. E com uma certeza: o desenho, ele, é eterno. Dentro de nossos corações, os desenhistas desaparecidos o serão também.”
– Festival de Angôuleme, maior mostra de quadrinhos da França.
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“Em nome do Conselho Consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, venho manifestar o nosso mais veemente repúdio ao atentado terrorista ocorrido hoje em Paris, contra o semanário Charlie Hedbo, que resultou em 12 mortes e outros feridos graves. A revista, que tradicionalmente ironizava a intolerância política islamita, foi assaltada e fuzilada.
O humor gráfico tem como traço principal, historicamente, no mundo todo, a sua não subserviência contra quaisquer tipos de ditaduras, sejam políticas, militares ou religiosas. Lançamos por ocasião dos 40 anos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, o livro Balas não matam, em coautoria com a academia do Curso de Publicidade, de Leticia Ciasi. Infelizmente, nunca o título daquele livro esteve tão atual.
Que as autoridades francesas e a comunidade política e artística internacional manifestem seu profundo repúdio contra um atentado à livre manifestação do pensamento, uma das maiores conquistas da sociedade contemporânea”
– Adolpho Queiroz, presidente do Conselho Consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
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“A liberdade de expressão está de luto pelo atentado à revista satírica Charlie Hebdo, em Paris. Doze pessoas morreram na ação, dentre as quais três desenhistas. Um deles Wolinski, considerado um dos maiores cartunistas do mundo, que com seu traço descontraído e humor irreverente, influenciou um bom número de artistas brasileiros. Ele os fazia rir às lágrimas. Como muitos dos seus personagens. Nossas homenagens às vítimas da intolerância.”
– Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica.
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“Hoje, a sede do jornal francês Charlie Hebdo foi palco de um covarde e abominável atentado terrorista. Dentre as 12 vítimas fatais estão os cartunistas Tignous, Charb, Cabu e Wolinski. Nossa solidariedade às vítimas e seus familiares, neste momento de profunda dor e indignação. Infelizmente, não é a primeira vez que jornalistas e cartunistas são assassinados por razões ideológicas. Esperamos que os assassinos sejam presos e punidos e que crimes como esse tenham um fim. Balas não são resposta para canetas e pincéis. Também esperamos que este atentado absurdo não seja usado como desculpa para revanchismos xenófobos e racistas.”
– Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ).
Homenagens
A motivação do ataque foram charges polêmicas publicadas pela Charlie Hebdo, principalmente as que abordavam o islamismo e representações do profeta Maomé. Desde 2006, a publicação sofria ameaças, e em 2011 um ataque incendiário destruiu a redação.
Cartunistas de todo o mundo homenagearam os colegas que perderam a vida no atentado, e responderam fazendo aquilo que sabem melhor: desenhando.
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