Casterman e Moulinsart lançarão aventura inacabada de Tintim
A editora Casterman e a Moulistart pretendem lançar um álbum inacabado de Tintim: Tintin et le Thermozéro.
Quem divulgou a notícia foi Benoît Mouchart, editor-chefe da Casterman (e autor do livro teórico La Bande Dessiné), numa entrevista ao jornal Le Parisien, no último dia 24 de março.
Segundo Mouchart, é uma história hitchcockiana. "Tintim testemunha um acidente de automóvel e tenta ajudar o motorista, que está preso no carro capotado. Antes de morrer, o homem coloca um papel no bolso de Tintim, com um segredo que outros homens estão tentando recuperar."
O volume será publicado de forma similar a Tintin e a Alfa-Arte, uma vez que a aventura nunca foi desenhada por completo. Existem um enredo original, um storyboard completo e oito páginas de lápis feitas por Hergé.
A história desse álbum começa em 1957, quando Hergé, bastante ocupado com diversos projetos, procurava ideias para uma nova história, para ser lançada após Tintim no Tibet. Ele lê um artigo na revista Marie-France, chamado O Medo que vem do Futuro, assinado por Philippe Labro.
O artigo falava sobre duas famílias nos Estados Unidos que morreram envenenadas após tomarem pílulas radiativas, num laboratório do Texas. O escândalo envolvia experiências do exército americano com material radioativo e foi abafado.
Hergé imagina uma história da Guerra Fria, na qual Tintim encontra um homem que morre de uma substância misteriosa (num frasco, por exemplo), que ele nomeia como Thermozéro. A história envolveria espiões traidores como os agentes duplos infiltrados no serviço secreto britânico, Guy Burgess e Donald MacLean (que desertaram para a União Soviética por volta de 1951).
Em 1958, muito ocupado com diversos projetos - e num momento de pouca inspiração criativa - o autor decidiu contatar o roteirista e desenhista Greg (falecido em 1999) para lhe ajudar com o roteiro. Greg, pseudônimo de Michel Régnier, é o criador do personagem Achiles Talon e trabalhou durante anos na revista Pilote. Ele também foi editor-chefe do Journal de Tintin, entre 1965 e 1973. Na época, Greg supervisionava os desenhos animados de Tintim no estúdio Belvision, um braço da editora Lombard.
Greg produziu uma sinopse de 15 páginas com uma história que leva Tintim e Haddock numa aventura pela Itália, Suíça e Alemanha. A história termina em Berlim, na época uma capital dividida pelo muro e que foi símbolo da Guerra Fria entre o Ocidente e os países do bloco soviético.
Hergé chegou a fazer uma série de trabalhos preparatórios, inclusive desenhou oito páginas à lápis, mas se sentiu aprisionado pelo enredo. Foi quando disse "Eu sou Tintim", uma frase que passou a sintetizar a relação do autor e seu personagem mais famoso.
Ele desistiu dessas ideias e optou por fazer o álbum que ficou conhecido com As Jóias da Castafiore.
Numa das mais bem-sucedidas tentativas de transformar essa sinopse num álbum, as ideias de Greg e Hergé foram decupadas em 43 páginas (sendo que os álbuns de Tintim possuem 62 páginas).
O enredo quase foi transformado numa aventura de Jo, Zette e Jocko (outros personagens de Hergé), que seria ilustrado por Bob DeMoor, mas esse artista ficou encarregado de redesenhar o álbum Tintim e a Ilha Misteriosa, para modernizar a história para seu lançamento na Inglaterra, na década de 1960.
Numa outra oportunidade, a história serviria de base para um filme de animação, dirigido por Jacques Martin, de Alix, e a ação ocorreria no Canadá, mas esse projeto também não vingou.
A Casterman não divulgou a data do lançamento nem detalhes do formato do álbum.
As duas casas editoriais também pretendem publicar uma versão colorida remasterizada de Tintim no País dos Sovietes, mas esse projeto ainda está numa fase de teste de cores, sem data definida para lançamento.