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Editoras refazem planejamentos por conta da pandemia do coronavírus

26 março 2020

A pandemia do coronavírus é um grande risco à saúde da população, mas a doença atingiu também um alvo que outras não conseguiram em tempos modernos: a economia.

Com o pedido de quarentena da população para minimizar a fácil transmissão, comércios foram fechados e diversas áreas estão sendo afetadas.

As editoras de quadrinhos, que já vinham enfrentando uma grave crise, que incluiu falência da gigante Editora Abril, fechamentos e pedidos de recuperação judicial de livrarias e caos na distribuição, agora se veem de olho na alta do dólar (contratos com empresas estrangeiras e o preço do papel nas gráficas são cotados na moeda norte-americana) e mercados mundiais sendo paralisados.

O Brasil foi um dos últimos países a ser atingido pelo coronavírus, que começou na China e se espalhou pela Europa.

Agora, as editoras enfrentam o dilema de reestruturar sua grade de publicações para 2020, ainda sem ter um claro panorama da situação ou por quanto tempo ela vai durar.

O Universo HQ entrou em contato com algumas editoras de quadrinhos para saber como elas estão vendo a situação. Culturama e Eaglemoss e não responderam.

Panini Comics

De acordo com Marcelo Adriano da Silva, gerente de marketing da Panini Brasil, a editora possui um amplo portfólio de títulos que são ideais para entreter as crianças, jovens e adultos. Por isso, estão em constante atenção em relação aos lançamentos e, até o momento, os ajustes são de títulos que acompanhariam filmes que foram adiados, como Novos Mutantes, Viúva Negra e Mulher-Maravilha.

"A Panini preza pela saúde e o bem-estar de seus funcionários. Por conta disso, a empresa buscou formas adequadas de manter as operações, bem como as distribuições, que continuam com equipes responsáveis para manter o mercado abastecido", explica Marcelo. "Para o canal de bancas, a Panini está expedindo material para todos os distribuidores, exceto para aqueles que estão com bancas fechadas por determinação dos governos municipais ou estaduais. Esses nos solicitaram a suspensão das remessas."

Quanto aos produtos de livrarias, eles continuarão na loja online oficial da editora e também nos e-commerces parceiros que garantem a entrega para os clientes.

A Panini também disponibilizou uma seleção de quadrinhos da Marvel e mangás gratuitamente em plataformas digitais (saiba mais aqui).

Lançamentos Panini

Mythos Editora

O calendário foi reduzido e os lançamentos dos meses de abril, maio e junho foram, por ora, congelados. Mas as edições com distribuição em banca para o mês de março e primeira semana de abril foram mantidas. Os demais títulos e publicações do selos Prime, Gold e Silver Edition foram postergados para o segundo semestre.

"Tudo será afetado. É impossível pensar em normalidade no quadro atual de saúde mundial e de medidas de restrição, ainda mais com o decreto de quarentena", enfatiza Joana Russo, diretora de marketing da Mythos. "Ao contrário do que muitos imaginam, a musculatura da Mythos não é equivalente à da Panini, por exemplo. Por isso, nossas medidas devem ser prudentes, para que não haja problemas de maior ordem num futuro próximo."

Entretanto, a editora irá reforçar seu trabalho de marketing junto a lojistas e leitores. "Links de compra, disponibilidade do serviço, resenhas... faremos tudo que está ao nosso alcance. E o mesmo vale para nossos parceiros de divulgação: retomamos o compartilhamento direto, o que torna mais pessoal e intimista a análise, fazendo com que o potencial consumidor sinta-se livre para tecer sua convicção de compra, de acordo com as opiniões e avaliações de cada um, mas centralizando tudo isso em nossas redes sociais", explica. "Nosso consumidor não é idiota e tratá-lo diferente desta conclusão é um risco de perda irreversível de uma unidade pagante."

Para tentar quebrar um pouco esse problema, a editora está investindo no acesso à plataforma Issuu, com um catálogo permanente de prévias, além de permitir o acesso a alguns dos títulos de forma integral para a leitura. Dentre eles, histórias curtas e selecionadas de Hellboy, Sombra e Juiz Dredd (clique aqui para conferir).

O objetivo é tornar a plataforma um auxiliar permanente da criação de demanda de consumo.

Por fim, Joana faz um apelo: "Clientes, amigos e leitores, por favor, não sejam individualistas em momentos assim. Continuem espalhando doses de recomendação, indicação, de sabedoria e de consideração ao próximo. Não importa se o que você pode fazer é pouco ou muito. Não importa a quantidade, mas a ação daquilo que se faz. Continue apoiando os pequenos, siga espalhando conhecimento sobre as publicações que gosta. Gere futuro interesse".

"Mesmo que você não possa comprar no momento, não tem problema. Contamos com o interesse, seja mediato ou imediato. Sabemos que as entregas estão sujeitas a atrasos (ainda mais considerando os novos prazos de entrega dos Correios), mas não depreciem aquilo que gostam. Se acharem por bem não mais se relacionar com a editora x, y ou z, não se relacionem. Mas não deixem de apoiar aqueles que sempre operaram por você: os lojistas", finaliza.

Mythos na plataforma Issuu

Devir

Por enquanto, a pandemia teve pouco impacto na produção da editora, mas ela está na dependência das gráficas. "Elas já sinalizaram que devemos nos preparar para algum atraso. Apesar disso, continuamos a programação para março e abril", esclareceu Paulo Roberto, gerente editorial.

Os lançamentos listados no checklist de março sairão como programados. Em abril e maio, chegarão The Boys – Volume 5 (reimpressão), Dead Letters– Volume 3, Dias Gigantes– Volume 3, Astra Lost in Space– Volume 1, Imperdoável– Volume 4, The Boys– Volume 9, The Ancient Magus Bride– Volume 8 e Estranhos no Paraíso– Volume 4.

O principal ponto para Paulo Roberto é a situação dos lojistas. "Mas estou mesmo preocupado com o impacto sobre as lojas especializadas (comic shops e hobby stores), que só agora estavam começando a se recuperar dos tumultuados últimos dois anos. Especialmente aquelas que não têm venda online. Gostaria de ver alguém falando mais sobre isso por aqui".

A Liga Extraordinária - A Tempestade Estranhos no Paraíso - Volume 4 - Admirável mundo novo

Mino

A editora ainda está se reorganizando e a programação é incerta, pois tudo estava atrelado ao evento Mino Day, que aconteceria nopróximo 1º de maio e precisou ser cancelado.

"Vários de nossos lançamentos e anúncios giravam em torno desse evento, e tivemos que adiá-lo. Isso acabou criando um enorme imprevisto para lidarmos. Nossos títulos já agendados para o ano seguem em pé. Porém, eles devem sair mais espaçados, por causa da ausência do evento e das outras dificuldades relacionadas ao Covid-19", explicou o editor e quadrinhista Pedro Cobiaco.

"Uma das duas gráficas com as quais estávamos trabalhando acabou de anunciar que fecha por tempo indeterminado durante a quarentena. Então, estamos mesmo tentando reorganizar o cronograma", revelou.

Ainda assim, a edição A gangue da margem esquerda, de Jason, já em pré-venda, está garantida, mesmo que tenha um pequeno atraso. Os seis livros do projeto Narrativas Periféricas, financiado via Catarse, também continuam no cronograma.

"Heavy Liquid, do Paul Pope; Tetris, do Box Brown e outro internacional que ainda não anunciamos também vêm logo", assegurou Cobiaco. "Mas é isso, ainda estamos reequilibrando os pratos e torcendo pela chegada de um momento mais estável."

A gangue da margem esquerda Tetris

Quadrinhos na Cia.

A editora divulgou para a imprensa que não lançará livros em abril. Todos os envios de obras estão sendo organizados por livrarias locais e, por enquanto, não há previsão de volta e normalização de lançamentos e entregas.

Nemo

"A chegada do coronavírus ao Brasil, sem dúvida, afetará não só o mercado editorial, mas a economia como um todo. Ainda não sabemos qual será a extensão de tudo o que está acontecendo. Por isso, estamos avaliando cuidadosamente todos os nossos movimentos", afirmou a editora, via assessoria de imprensa.

A odisseia de Hakim, primeiro volume da trilogia de Fabien Toulmé, está confirmado para abril, mas a editora aguardará o desenrolar da situação para se manifestar  em relação aos demais lançamentos previstos para o primeiro semestre.

A odisseia de Hakim A Marcha

Veneta

Acontecerão mudanças no cronograma de lançamentos, mas novos prazos ainda estão sendo estudados. A editora deve dar mais detalhes sobre a nova programação, em breve.

DarkSide Books

A editora, que aposta em livros de alta qualidade gráfica voltados para livrarias, confirmou que os lançamentos estão todos postergados por conta da pandemia. Semblant – Blood Chronicles, Antologia Dark e O Silêncio da Casa Fria, que seriam os próximos da lista, foram reprogramados para 20 de maio.

Planeta DeAgostini

De maneira geral, a editora suspenderá a distribuição de todas as coleções em bancas, retornando-as assim que possível. As assinaturas seguem normalmente até o presente momento.

Atualmente, as coleções de quadrinhos distribuídas pela Planeta são: Príncipe Valente e A Lenda do Batman. Entretanto, há também colecionáveis de outros produtos, como miniaturas e figuras, modelismo e livros.

Príncipe Valente A Lenda do Batman

NewPop

Os lançamentos de março ocorreram normalmente, mas a partir de agora a editora analisará o cenário. "Teremos alterações e reduções na quantidades de lançamentos, levando em conta que haverá diminuição dos canais de vendas e mudanças em todos os serviços utilizados pela editora, como transportadoras, gráficas e outros", explicou o diretor Júnior Fonseca.

Comix Zone

Uma das editoras mais novas do mercado, com três publicações em 2019. O quarto título, Sherlock Time – por Héctor Germán Oesterheld e Alberto Breccia – já está pronto para ir para a gráfica e teria o início da pré-venda no final de março, mas tudo está adiado para, pelo menos, até o início de maio.

Pipoca & Nanquim

Os dois livros programados para o final de março sofrerão um pequeno atraso devido à redução de pessoal das gráficas e transportadoras. Maxwell – O gato mágico chegará em 10 de abril, enquanto O Máskara sairá no dia 13 do mesmo mês.

Ainda em abril, aconteceriam mais três lançamentos, mas agora apenas um deles sairá (o título será revelado nos próximos dias). Os outros dois serão reprogramados no calendário. A ideia inicial era lançar entre 28 e 30 títulos em 2020, mas isso foi reduzido para 25 ou 26, considerando o cenário atual, com esse número podendo ser revisto dependendo da gravidade da situação nas próximas semanas ou meses.

Maxwell - O gato mágico O Máskara

Culturama

Apesar de não ter respondido nosso contato, a editora, responsável por vários quadrinhos da Disney, se manifestou em suas redes sociais dias após a publicação deste artigo.

Segundo ela, a publicação de Grande Almanaque # 4, previsto para abril; e o especial temático Super-Heróis, para maio, foram suspensas. Além disso, a distribuição de quadrinhos mensais nas bancas possivelmente será afetada. Quando a situação se normalizar, os lançamentos serão retomados. Enquanto isso, as publicações continuam à venda em sua loja online oficial.

Editora JBC

Editora JBC também foi afetada e terá mudanças em seus planos com tudo o que está acontecendo. “O mundo mudou. Da noite para o dia, a realidade de todos foi drasticamente alterada por conta da pandemia do covid-19 (coronavírus). A editora precisou rever toda a sua estratégia de lançamentos para o ano de 2020, desde títulos em linha, mangás digitais até obras recentemente anunciadas”, afirmou Edi Carlos Rodrigues, gerente de marketing e comunicação.

Os meses de março e abril não chegaram a ter sua programação de lançamentos afetada. Neste período, são dez novas edições, dentre elas Os Cavaleiros do Zodíacoo Kanzenban – Volume 17, a versão trig (três volumes japoneses em um exemplar brasileiro) exclusiva para o Brasil de Sakura WarsHokuto no Ken # 6, as edições finais de Fire Punch e outros.

Em abril, chegam Fruits Basket # 3UQ Holder # 16 e # 17 e Fire Punch # 7 e # 8.

A editora planeja ainda focar no meio digital e o serviço de P.O.D. (Print on Demand). Saiba mais clicando aqui.

Os Cavaleiros do Zodíacoo Kanzenban – Volume 17 Sakura Wars

Bancas

A distribuição de bancas é feita pela Dinap, que pertence ao Grupo Abril, e foi atingida com a crise que causou a derrubada da empresa em 2018. Muitas cidades pararam com o comércio e, apesar de bancas de revistas estarem listadas como estabelecimentos que podem continuar em funcionamento, muitos decidiram fechar temporariamente.

O número de bancas cai a cada ano, e neste período ficará ainda menor. De acordo com previsões, pelo menos 30% delas não abrirão.

A Dinap já informou a fornecedores que haverá uma queda na quantidade de produtos que serão distribuídos.

Banca de revista

Livrarias

O fechamento obrigatório das livrarias por conta da suspensão do comércio em diversas cidades é outro impacto grande, e as vendas ficarão restritas às respectivas lojas virtuais. A Livraria Cultura já comunicou que isso impedirá que honre seus compromissos com fornecedores.

"Diante das incertezas impostas pelo momento atual e da falta de clareza quanto aos desafios que enfrentaremos, suspendemos temporariamente a maioria das nossas atividades nas lojas físicas e estamos tomando todas as precauções para evitarmos contatos pessoais e a disseminação do coronavírus. Além disso, tivemos que tomar a drástica atitude de suspender momentaneamente os pagamentos a prestadores de serviços, fornecedores e parceiros. São medidas duras, mas absolutamente necessárias para garantir a sobrevivência da Livraria Cultura nesse momento crítico", afirma o comunicado.

​"Voltaremos a cumprir regularmente as nossas obrigações de pagamento tão logo haja a retomada sustentável das atividades do varejo, com a liberação pelas autoridades da circulação de pessoas em locais públicos e a superação dessa crise de saúde pública", garante.

Vale lembrar que a Cultura, assim como a Saraiva, está em recuperação judicial, o que a obrigaria a manter os pagamentos em dia sob pena de fechamento por falência.

Livraria Cultura

Correios

O serviço dos Correios é amplamente utilizado por editoras e, principalmente, autores para entregas de vendas online. A empresa já anunciou mudanças nos serviços de entrega, com novas práticas e aumento do prazo. Inclusive, chegou a anunciar que uma das modalidades mais comuns para envios de livro, o impresso com registro módico, que tem um custo mais baixo, seria suspenso por tempo indeterminado. Mas os Correios revogaram a decisão.

Caso a suspensão fosse mantida, as opções de envios seriam PAC e Sedex. O custo maior deste, principalmente em algumas regiões fora do Sudeste, encareceria o produto para leitores e poderia ocasionar possível queda de vendas para as editoras.

Os principais atingidos seriam pequenas editoras, lojistas, livreiros e autores independentes (no Catarse, por exemplo, o envio dos livros é feito nessa modalidade). Além, claro, dos leitores.

Correios

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