Estudante quer banir graphic novels de faculdade dos Estados Unidos
Até parece que voltamos a 1954, quando o psiquiatra alemão Fredric Wertham lançou o livro Seduction of the Innocent (leia review aqui) e causou furor no mercado de quadrinhos nos Estados Unidos, com efeitos devastadores na indústria.
Em pleno ano de 2015, conteúdos de graphic novels causaram espanto à aluna Tara Shultz, de 20 anos, e seus pais, que agora querem que esses materiais sejam banidos da biblioteca do Crafton Hills College (Yucaipa, Califórnia), onde ela faz curso de inglês (similar ao curso de Letras, no Brasil). Dentre os álbuns citados por ela, estão Sandman – A Casa de Bonecas, Y – O Último Homem, Persépolis e Fun Home.
De acordo com a aluna, essas histórias seriam muito violentas e pornográficas, mesmo com algumas delas sendo autobiográficas. Ou seja, ocorrem na realidade, mas, ao serem transportadas para a mídia, se tornam obscenas.
“Eu não esperava abrir esses livros e ver esse tipo de material gráfico. Eu esperava Batman e Robin, não pornografia”, disse ela. “Gostaria que esses livros fossem erradicados do sistema. Não quero que sejam mais usados para ensinar. Não quero que outras pessoas tenham que ler este lixo.”
A leitura foi feita como exercício de classe, passado pelo professor Ryan Bartlett, cuja matéria, English 250, se dedica justamente ao estudo de graphic novels como mídia viável de literatura, e inclui análise de obras e discussões em classe.
“Escolhi obras aclamadas e vencedoras de prêmios. Não por serem supostamente atrevidas, mas por falarem da luta sobre as condições humanas. Como Faulkner (William Faulkner, escritor americano vencedor do Nobel de Literatura, em 1949) disse, ‘A única coisa digna de leitura é sobre o coração humano em conflito com si mesmo’. O mesmo pode ser dito sobre literatura. Os personagens nas graphic novels escolhidas estão todos lutando com assuntos que envolvem moralidade, autodescoberta, corações partidos etc.”, afirmou o professor.
Como em todas as outras matérias do curso, os alunos recebem informações completas sobre o conteúdo das aulas. Um programa de estudos é distribuído no primeiro dia, o que derruba uma das principais reclamações da aluna: a de que não foi avisada sobre o conteúdo das histórias.
Sem mencionar a contradição de alguém envolvida no tipo de curso como o dela peça banimento de livros.