Faleceu o quadrinhista Ely Barbosa
Os
quadrinhos brasileiros perderam um de seus nomes mais importantes. No
último dia 19 de janeiro, faleceu Ely Barbosa, criador de personagens
que dos anos 1970 a 1990 fizeram grande sucesso e marcaram toda uma geração
de leitores mirins.
A história de Ely Barbosa nos quadrinhos infantis teve início nos primeiros
anos da década de 1970, quando seu estúdio começou a produzir o gibi dos
Trapalhões para a editora Bloch. Mas foi em 1976, com a
estréia da Turma da Fofura e da Turma do Cacá na coleção
de livros infantis Silvio Santos para as Crianças (relançada com
sucesso em 2002), que seus próprios personagens se tornaram famosos e
migraram para as HQs nos anos seguintes, publicados pela RGE e
Editora Abril.
Outras criações do quadrinhista se destacaram, como os impagáveis Amendoins
(talvez os únicos personagens de Ely Barbosa que atingiam o público juvenil/adulto
com seu conceito e humor mais escrachados), e os garotos Gordo e Patrícia,
que ganharam títulos próprios no final da década de 1980 pela Editora
Abril e permaneceram nas bancas até 1992.
Como reconhecimento por tudo que fez até então para os quadrinhos brasileiros,
ele recebeu o Prêmio Angelo Agostini na categoria Mestre,
em 1993.
Fã incondicional das obras de Monteiro Lobato, em 1997 o quadrinhista
criou um novo visual para os personagens do Sítio do Picapau Amarelo,
utilizado até 2001, quando a Globo resolveu mudar para o estilo de desenho
que hoje é usado nas
revistas em quadrinhos.
"O Ely foi realmente uma figura importante para o desenho
brasileiro. Ele empregou e formou muitos desenhistas. O Brasil precisava
de mais artistas empreendedores como ele", disse o ilustrador Newton Verlangieri,
que estagiou no estúdio do quadrinhista em 1982.
Paulo Borges, outro ilustrador que trabalhou com Ely Barbosa, pensa da
mesma forma. "Para quem conhece a história dos quadrinhos no Brasil, essa
é uma grande perda".
O premiado Bira
Dantas, ex-desenhista do gibi Os Trapalhões, também exprime
o sentimento que paira entre os que conviveram com aquele que consideram
seu mestre. "Por todas as dicas, a paciência e a liderança, eu agradeço
e dedico a ele o Prêmio Angelo Agostini que recebi há alguns anos",
disse o cartunista, que trabalhou no estúdio de Ely Barbosa entre 1979
e 1982. "Profissional extremamente competente, ele fez parte da história
da HQ brasileira, com louvor", concluiu.
Apesar do nome ligado aos quadrinhos, Ely Barbosa também produziu animações
e comerciais de TV, peças de teatro e séries televisivas infantis com
seus personagens, como Tutti-Frutti (vencedor em 1983 do Prêmio APCA,
da Associação Paulista dos Críticos de Arte, como melhor programa
infantil) e Boa Noite, Amiguinhos na década de 1980 e Fofura
na TV, nos anos 1990.
Seus personagens também foram alguns dos campeões de licenciamento no
Brasil, até meados da década de 1990, estampando os mais diversos produtos,
como roupas, calçados, artigos escolares e até alimentos. Por muitos anos,
suas criações ainda ajudaram a divulgar o Baú da Felicidade, um
dos grandes sucessos do empresário e apresentador de TV Sílvio Santos.
Consta, ainda, de seu extenso currículo artístico, a autoria de dezenas
de livros infantis (o último deles lançado em 2000) e o romance literário
Yanomami, um grito nas selvas (Editora Maltese, 1991). Este
livro leva consigo uma curiosidade: foi escrito originalmente para ser
uma novela da TV Globo. Quem o incentivou a apresentar a sinopse
àquela emissora foi seu famoso irmão, o escritor de novelas Benedito Ruy
Barbosa. Embora aprovada, a telenovela não foi produzida porque exigiria
um orçamento nada animador no Brasil que vivia sob os efeitos do famigerado
pacote econômico Plano Collor.
Em 2004, o artista informou
ao Universo HQ que estava preparando um retorno triunfal à
mídia, na forma de tiras em quadrinhos, livros e programas de TV. Acometido
do Mal de Parkinson, porém, ele não pôde realizar o sonho de apresentar
seus personagens às novas gerações.
Ely Rubens Barbosa morreu aos 69 anos.