Júlio Schneider comenta o final de Mágico Vento no Brasil
Em 2002, chegava às bancas brasileiras a série Mágico Vento, lançada pela Mythos Editora.
Com roteiros elogiados do italiano Gianfranco Manfredi e arte de nomes como José Ortiz, Ivo Milazzo, Goran Parlov e Pasquale Frisenda, dentre outros, a saga de Ned Ellis, um soldado acolhido por uma tribo indígena e que assume o papel de xamã, conquistou um bom número de leitores fiéis, que garantiram a publicação do título até seu final - que se dará na edição # 131, programada para chegar às bancas em maio de 2013.
E esse "vento" passou rápido como um furacão. Afinal, a sensação é que, nem bem o título começou a ser publicado, e o Universo HQ já saudava os primeiros 50 números que foram lançados. Mais um pouquinho e, sem tempo para calmaria, a capa da edição # 100 era divulgada.
Nesse ínterim, a revista celebrou dez anos na Itália, sofreu mudanças no Brasil e seu criador contou com exclusividade ao Universo HQ sobre o final da série, na edição # 131.
Ainda sobre o título, outro diferencial é a Blizzard Gazette, página de texto escrita por Manfredi com elementos e conceitos da época, além de acontecimentos relevantes para melhor situar o leitor na HQ.
Manfredi concedeu uma entrevista ao Universo HQ, na qual contou sobre suas influências e do motivo para a mistura de horror e sobrenatural nas tramas ambientadas no Velho Oeste, dentre outras curiosidades.
Sobre o final da série no Brasil, o UHQ conversou com o tradutor Júlio Schneider, responsável pela seção O Correio de Poe, espaço mensal com mensagens dos leitores, dicas de leituras e de sites, informações extras sobre o contexto e os personagens das HQs e outros assuntos. Confira o bate-papo.
Universo HQ: Como foi a experiência de trabalhar na série Mágico Vento?
Júlio Schneider: Tenho um carinho especial pela série brasileira de Mágico Vento porque, dentre outras coisas, foi fruto de um paciente e constante trabalho de convencimento junto à Mythos, que, havia pouco (1999), adquirira os direitos de publicação de Tex em nosso país e havia a incerteza da aceitação de outras iniciativas por parte do mercado.
Mas, em 2002, os editores Dorival e Hélcio decidiram dar um voto de confiança ao personagem - ou talvez tenham decidido publicar para eu parar de insistir (risos), que foi o primeiro depois dos tradicionais Tex e Zagor a chegar às nossas bancas com o logotipo da fogueirinha da editora na capa, em julho daquele ano.
Enquanto outros ficaram pelo caminho (Mister No, Martin Mystère, Dylan Dog, Nick Raider, Nathan Never), Mágico Vento foi em frente, firme e forte até o fim, demonstrando que a aposta de mais de dez anos atrás era vencedora.
UHQ: Os editorais do título foram sempre muito bacanas. Como foi prepará-los?
Júlio: Escrever os editoriais foi uma experiência muito gratificante, sobretudo porque eu gosto demais de falar sobre assuntos que envolvem o mundo dos quadrinhos, gosto de papear sobre HQs - não por acaso, a página do correio sempre foi montada como um bate-papo, não como uma seção "pergunta e resposta".
Se em determinado mês nenhum leitor perguntava nada, eu saía atrás de informações e curiosidades sobre o mundo do nosso xamã, buscava saber o que se dizia dele em revistas e sites (como o uBC da Itália e o UHQ do Brasil) e, sempre que certas perguntas dos leitores envolviam características específicas dos personagens ou dos fatos abordados nas aventuras, eu repassava a questão ao criador da série, Gianfranco Manfredi, que respondia com muito prazer, também se sentindo em contato com os leitores do Brasil.
Foi realmente uma honra partilhar as edições com Manfredi, eu no Correio de Poe e ele no Blizzard Gazette . Aliás, ele até mencionou esse fato - de responder aos leitores brasileiros - no editorial da última edição italiana, que será reproduzido na edição # 131 da Mythos.
UHQ: Para você, o que mais vai deixar saudades do título?
Júlio: Mágico Vento vai deixar muita saudade. Vai ser meio complicado conviver sem a deliciosa rotina mensal de traduzir a HQ e o Blizzard, elaborar o Correio de Poe, mandar para a editora, aguardar ansioso para folhear (e cheirar!) a edição impressa e, mais ansioso ainda, buscar saber o que os leitores acharam da história daquele mês.
11 anos de convivência não são 11 meses. Quando a série começou aqui no Brasil, os meus meninos eram pequenos, hoje são adultos, e Ned Ellis, mais que um personagem, tornou- se para mim e para muitos leitores um companheiro, um amigo que todo mês aparecia para contar o que andou aprontando.
Bem que Gianfranco Manfredi poderia nos fazer uma surpresa e no futuro escrever alguma aventura especial do nosso xamã, não?
UHQ: Deixe um recado para os leitores e fãs da série.
Júlio: A série só conseguiu ser publicada na íntegra graças à aceitação dos leitores brasileiros e à insistência da Mythos, cujos editores não se deixaram abater por certos momentos de vendas baixas e sempre afirmavam que a publicação devia seguir em frente para não deixar os aficionados (dentre os quais nós mesmos, que somos primeiro leitores e só depois profissionais de editoria) sem a publicação. E os leitores corresponderam.
Aos "magicoventianos" tupiniquins eu agradeço em meu nome e também transmito os agradecimentos da Mythos e do próprio Gianfranco Manfredi, que recebeu pessoalmente o carinho dos brasileiros quando veio ao FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, em 2005, e desde então sempre sonha em voltar. Quem sabe isso não aconteça, para que o autor receba os cumprimentos ao vivo pelo belo trabalho que vem fazendo com Tex? Ou por alguma nova série de sua autoria que aporte em nossas bancas.