Marvel comprou direitos de Marvelman
Joe
Quesada, editor-chefe da Marvel,
fez uma grande revelação durante a conferência Cup O Joe, na
San Diego Comic-Con: a Marvel comprou
os direitos de Marvelman.
A "Casa das Ideias" comprou os direitos do desenhista inglês Mick Anglo,
criador de Marvelman, que tem atualmente 94 anos de idade. O contrato
foi assinado com a empresa escocesa Emotiv, que representa
Anglo.
Anglo,
que sempre afirmou ser o detentor dos direitos do personagem, está aliviado.
"Eu achava que isso nunca aconteceria. É maravilhoso ver que minha criação
de volta", disse Anglo, num comunicado oficial.
Inicialmente, serão republicadas as aventuras de Marvelman das décadas
de 1950 e 1960. Em setembro, a Marvel vai vender camisetas
de Miracleman e um cartaz do personagem criado por Joe Quesada, que custará
8,99 dólares. Quesada mostrou passo a passo, na coluna Cup
O Doodle, como foi criado o cartaz.
Segundo Joe Quesada e Dan Buckley (diretor-executivo da Marvel),
isso só foi possível graças a informações fornecidas por Neil Gaiman,
que durante anos batalhou pelos direitos de Miracleman.
Miracleman e Marvelman são, para quem não sabe, basicamente o mesmo personagem.
Será
que a Marvel vai reimprimir o material de Marvelman/Miracleman
publicado pela Warrior e pela Eclipse comics?
Esta é a pergunta que está na cabeça de todos, neste momento.
A Marvel está conversando sobre seus planos com outros
autores envolvidos com Marvelman/Miracleman, como Alan Moore, Neil Gaiman,
Alan Davis e Mark Buckingham.
Buckingham, o último desenhista a trabalhar oficialmente em Miracleman,
estava na plateia da conferência durante o anúncio, pois lhe haviam dito
que seria de seu interesse assistir.
Posteriormente, Buckingham declarou que esta é uma ótima oportunidade
para ele e para Gaiman de terminarem seu trabalho com Miracleman,
da década de 1990, no arco Silver Age e quem sabe realizar a
saga final, Dark Age.
Gaiman
comentou em seu twitter
que achou a notícia fantástica e que está feliz de ver a volta das histórias
de Mick Anglo. E está esperançoso de que seu trabalho, e o de Buckingham,
venha a ser republicado.
Segundo o jornalista inglês Rich Johnston (do site Bleeding
Cool), a Marvel está trabalhando ativamente
para conseguir autorização para publicar o material mencionado acima,
que envolve autores como Alan Moore, Garry Leach, Dez Skinn, Alan Davis,
Chuck Austen, Rick Veitch, John Totleben, Neil Gaiman e Mark Buckingham.
A editora está em contato com todos estes autores, negociando a possibilidade
e resolvendo todo o tipo de empecilhos. Há rumores - por enquanto sem
muita substância - de que o acordo envolve milhões de dólares e o licenciamento
de brinquedos, filmes e quadrinhos.
Alan
Moore já havia se pronunciado
sobre a volta de Miracleman, em maio de 2009. Na época ele
explicou que todo dinheiro da primeira impressão do primeiro livro de
Miracleman seria dado a Anglo, e falou sobre a possibilidade
da realização de um desenho animado com o personagem. Moore teria concordado
com tudo, desde que seu nome não seja incluído nos créditos e que todo
o dinheiro seja direcionado a Anglo.
Para entender o caso Marvelman/Miracleman é preciso voltar ao
passado. Em 1954, a editora norte-americana Fawcett Comics
cancelou as aventuras do Capitão Marvel (Shazam), depois de perder uma
batalha legal com a DC Comics (que na época ainda era
a National Comics Publications) relativa às semelhanças
do personagem com o Super-Homem.
Na Inglaterra, as aventuras de Shazam eram republicadas em preto e branco
pela editora L. Miller and Son. Ao invés de cancelar
a revista, Len Miller pediu ao artista inglês que criasse um personagem
para dar continuidade a ela.
Foi
assim que surgiu, em 1954, Micky Moran, o Marvelman, que ao pronunciar
a palavra Kimota (o reverso de Atomic, com o K substituindo a letra C)
se transformava num super-herói. O personagem ganhou imensa popularidade
ao longo das décadas.
Marvelman é considerado por muitos como o primeiro super-herói inglês.
Em 1972, a Marvel criou uma subdivisão, a Marvel
UK, para republicar suas histórias na Grã-Bretanha. Inicialmente
eram apenas republicações dos materiais originais, mas em preto e branco.
Em 1976 a situação muda com o lançamento de Captain Britain Weekly
que trazia histórias inéditas do Capitão Bretanha, criadas por Chris Claremont
e Herb Trimpe.
Depois de alguns anos, a Marvel UK estava enfraquecida,
e Stan Lee contratou o experiente editor Dez Skinn para revitalizar o
selo.
Em 1981, insatisfeito com alguns problemas, incluindo a maneira como a
Marvel tratava a questão dos direitos dos artistas sobre
suas criações, naquela época, Skinn abandona o cargo para criar a Quality
Communications.
Em 1982, a Quality Communications lança a revista Warrior,
que teve 26 edições. Skinn publica uma versão modernizada de Marvelman,
recriada por Alan Moore e Alan Davis. Também foi na Warrior que
surgiu V de Vingança e Miracleman foi inicialmente publicado
em preto e branco.
Na época, os direitos do personagem foram divididos em quatro: 30% para
Alan Moore, 30% para Alan Davis (que depois cedeu sua parte a Gary Leach),
30% para Dez Skinn e 10% para a Quality Communications.
Na época, Moore e Leach acreditavam que Skinn havia comprado os
direitos de Mick Anglo.
Mais tarde, Skinn revelou, no livro Kimota!, que ele pegou o
personagem, que estava abandonado e esquecido e havia sido publicado por
uma editora extinta. Achando que não existia nenhum interesse nele, assumiu
que os direitos eram de domínio público.
Mas como a Marvel Comics possuía a marca registrada do
termo "Marvel", a publicação do nome Marvelman nas revistas das editoras
norte-americanas Pacific Comics e Eclipse Comics
só foi possível com a alteração do título (e do nome do personagem) para
Miracleman.
Aliás, o acordo com a Eclipse, de 1985, foi assinado
com Dez Skinn e os outros autores de Marvelman, exceto Alan Davis,
que não queria mais saber de confusões com Moore e com outras editoras
e cedeu seus direitos a Gary Leach.
O problema com o nome do personagem foi uma das causas do feudo de Alan
Moore com a Marvel Comics, durante muitos anos. Outras
razões incluem a republicação das histórias do Capitão Bretanha e Dr.
Who, escritas por Moore, sem sua permissão. E, por fim, no começo da década
de 1990 a editora usou o slogan "Marvel tem Moore",
quando contratou o escritor John Francis Moore.
Os primeiro contatos para reatar as relações com Moore partiram de Joe
Quesada, em 2001, mas não
foram muito bem-sucedidos. A
situação só melhorou graças à insistência de Joe Quesada, apesar das
turbulências
do processo.
Quando a Eclipse Comics quebrou, os direitos de todos
os envolvidos acabaram nas mãos de Alan Moore, que os repassou para Neil
Gaiman. Todd McFarlane, da Image Comics, comprou o que
sobrara da Eclipse e foi assim que surgiu a batalha entre
McFarlane e Gaiman pelos direitos de Miracleman.
Em 2001, ainda brigando com McFarlane quanto a Miracleman, Angela
e outras coisas, Gaiman
se considerava detentor de 85% dos direitos. Os outros 15% ainda eram
de Mark Buckingham.
Ainda em 2001, numa entrevista
concedida ao UHQ, Gaiman falou sobre os direitos
de Miracleman e também sobre os rumores da época de que ele e Joe Quesada
estavam discutindo a possibilidade da Marvel publicar
Miracleman #25 (a última edição da Eclipse foi
Miracleman #24).
Neil Gaiman ganhou
a batalha com McFarlane em 2004. O irônico é que, após a vitória de
Gaiman, se descobriu que o verdadeiro detentor dos direitos ainda era
Mick Anglo, pois Skinn não havia resolvido esta questão. E com isso chegamos
ao ponto em que os direitos pertencem à Marvel.