Morreu Deodato Borges, pai de Mike Deodato Jr. e criador do Flama
“O Flama morreu”, postou Mike Deodato Jr. no seu perfil no Facebook. O quadrinhista se referiu ao alter ego de seu pai, Deodato Taumaturgo Borges, que morreu no começo da tarde de 25 de agosto, aos 80 anos.
Jornalista, radialista e quadrinhista natural de Campina Grande, Paraíba, Deodato Borges lutava contra um câncer renal. Na última quinta-feira, ele foi submetido a uma cirurgia para retirar um dos rins. Ontem, em um hospital de João Pessoa, durante a sessão de hemodiálise, teve uma parada cardíaca e não resistiu.
Na “árvore genealógica” dos quadrinhos paraibanos, em 1963, o Flama foi a primeira raiz que germinava no inédito cenário do Estado. Três anos antes, o próprio Deodato Borges emprestava seu punho não para socar os vilões, mas para escrever os episódios nas ondas do rádio de Campina Grande. Ele também personificava a voz do pioneiro personagem, um detetive de capa e máscara inspirado em ícones norte-americanos como The Spirit, de Will Eisner, e Flash Gordon, de Alex Raymond.
Sucesso de audiência radiofônica, Flama nasceu para "combater" outra novela, Jerônimo – O herói do Sertão, personagem criado em 1953, por Moysés Weltman, para a Rádio Nacional.
Migrou para as páginas impressas em clichê “a quente” de As aventuras do Flama, no mesmo ano em que seu filho Mike – parceiro de futuras HQs e um dos grandes nomes da atualidade na profissão – nascia. Durou raríssimas cinco edições, todas lançadas no mesmo ano de 1963.
O sucesso do Flama de papel era tamanho na Paraíba, que suas edições se esgotavam na porta da rádio. Acerca dessa fama, Deodato chegou a contar um caso que mais parecia uma “história de pescador”: certo dia, ele sofreu um acidente com um anzol que lhe atravessou um dedo. Na enfermaria, após o médico fazer os procedimentos do seu curativo, retirou do bolso de maneira altiva uma carteirinha do fã-clube oficial do herói, chamando o próprio criador de Flama.
Nos anos 1980, ao lado do filho, fez HQs como a saga de sci-fi 3000 anos depois e o didático A História da Paraíba em quadrinhos, dentre outros trabalhos. Nesta época, os dois chegaram a participar do tradicional Festival de Angoulême, na França, com suas obras.
Como editor, incentivou vários nomes do cenário paraibano como Emir Ribeiro (Velta) e Henrique Magalhães (Maria), abrindo espaço para tiras e HQs nos jornais e suplementos da Paraíba.
Deodato Borges estava confirmado pela organização do Brasil Comic Con como um dos convidados da edição deste ano.
Recentemente, o pai virou personagem do filho (e alvo da sua veia cômica e autoral) no seu tumblr Quadros.