Panini comenta interrupção de Face Oculta e outros títulos
Recentemente, o site Melhores do Mundo noticiou o cancelamento da revista Face Oculta, da Panini Comics, após ter apenas dois números publicados no Brasil.
Por isso, o Universo HQ procurou a editora para saber por que a série, que tem 14 números, foi descontinuada. E também o que aconteceu com outros títulos que a Panini não concluiu ou nem sequer lançou, mesmo após tê-los anunciado. Quem nos atendeu e respondeu as perguntas foi Érico Rodrigo Maioli Rosa, gerente de publicações e colecionáveis e editor-chefe da Panini Brasil.
Universo HQ: A Panini interrompeu mesmo Face Oculta? Por quê?
Érico Rodrigo Maioli Rosa: O termo é apropriado – a série foi realmente “interrompida”. A Panini Group é a licenciante mundial da Sergio Bonelli Editore, o que torna natural a relação da Panini Brasil com os conteúdos disponíveis para publicação.
Existe um amplo catálogo de títulos e personagens, conhecido pela qualidade de suas histórias e pelo potencial de seus personagens. Acreditamos que Face Oculta poderia ser uma boa experiência e investimos numa apresentação do produto com a qualidade que o público sempre sinalizou como desejável e um preço de capa convidativo.
Não ficamos felizes em dizer que as vendas ficaram muito abaixo das expectativas e a continuidade do produto ficou comprometida. A partir desse resultado (que demora algum tempo a se consolidar, pois é necessário aguardar o fechamento do reporte de todas as operações comerciais), iniciamos um período de estudo, compartilhado com nossos correspondentes na Itália, para ver qual seria a melhor abordagem para dar sequência a essa linha.
Não há uma conclusão sobre o futuro de Face Oculta que possa ser anunciada nesse exato momento – mas o faremos em breve. O que temos é a vontade de todos os envolvidos de investir nesse segmento e algumas ideias que estão tomando forma.
UHQ: Mas por que fazer um "teste" de dois volumes sendo que a série tem apenas 14? Não valeria a pena lançar até o final, para garantir o respeito do leitor pelo trabalho da editora?
Erico Rosa: Acredito que o respeito pelos leitores está na tentativa de atendê-los da melhor forma possível, e não em publicar um material que, apesar da qualidade, possa não estar sendo bem recebido.
Dizer que a casa publicadora terá que lançar todas as edições de um determinado título seria o mesmo que dizer que o público é obrigado a comprar tudo. Alguns conteúdos não são tão bons se avaliados por critérios mais formais, e têm uma receptividade melhor do que alguns que poderiam ser considerados excelentes, mesmo tendo um tratamento à altura de sua excelência.
Temos uma grande responsabilidade, uma vez que publicamos praticamente o dobro do que as mais de vinte outras editoras lançam juntas no mesmo período – porque nosso foco é dar a mais ampla gama de opções que o público possa ter.
Gostaríamos muito de afirmar que a série poderá ser publicada até o final, e também de que isso se dará na melhor condição possível, e a nossa parte consiste em planejar e trabalhar muito para viabilizar esse caminho. Mas é a resposta e a mobilização dos colecionadores que dizem em que poderemos investir e se faz sentido (ou não) expandir nessa direção.
Existe uma atenção, com seriedade e dedicação, a tudo aquilo em que nossos editores acreditam. Quanto à continuidade, é certo que as histórias estão inseridas em um plano maior que se estende pelas 14 edições – mas cada volume em separado proporciona uma experiência na narrativa que pode ser apreciada e compreendida.
UHQ: O motivo dessa interrupção é somente vendas baixas? Como prevenir que isso aconteça?
Erico Rosa: Nosso monitoramento mostrou que a qualidade do produto lhe garantiu boa receptividade da crítica, mas as vendas são um fator definitivo para continuidade de qualquer produto.
Os leitores não podem esquecer que são as vendas, na forma dos royalties que geram, que remuneram os artistas que eles apreciam; e que, com essa remuneração, mais e novos projetos se tornam viáveis.
As abordagens são muito específicas para cada público, e são adaptadas conforme a resposta que se obtêm. Não existe uma fórmula mágica – algumas vezes uma determinada linha demora mais tempo para formar seu público, e a insistência da editora é que vai poder proporcionar esse tempo.
UHQ: Agora, falando de outros projetos,a edição 14 de Homunculus foi publicada em outubro de 2011, e falta apenas um volume. Tentamos contato com a editora em março deste ano, para falar sobre este mangá, mas não obtivemos resposta. Os leitores brasileiros poderão ler o final da saga? Por que tanto atraso para publicá-lo?
Erico Rosa: Essa questão envolve um certo nível de confidencialidade que, para esse momento, não nos permite afirmar como ou quando se dará o lançamento da última edição. Tão logo isso se resolva faremos o devido pronunciamento.
UHQ: Em 2008, a Panini anunciou a minissérie Shazam! - A sociedade dos monstros, divulgado como minissérie e depois adiado para sair num volume único. No ano seguinte, foi a vez de Rann Thanagar - Guerra Santa, minissérie bimestral em três edições, e do encadernado Poder Supremo. Nenhum deles foi lançado. Por quê?
Erico Rosa: Acredito que para as três situações citadas cabe a mesma resposta. Nosso planejamento sempre considera o momento seguinte – aquilo que está por vir.
Lançamos alguns títulos e seguimos com o planejamento, mas sempre atentos ao que está sendo publicado naquele exato momento no mercado original (norte-americano). Acho que isso é relativamente simples de entender, porque algumas coisas que nem iniciamos aqui muitas vezes já foram cancelados nos Estados Unidos, já venderam ou não – já foram bem recebidos ou não.
Não é tão complicado nem inserido em nenhuma daquelas teorias conspiratórias que rendem argumentações intermináveis – e geram dezenas de páginas de comentários sem que ninguém tenha em mãos sequer uma única revista pra saber do que está falando.
Em alguns momentos, tivemos que mudar nossa programação porque embora parecesse uma boa ideia, aquele produto específico poderia (ou até deveria) ceder lugar a uma opção melhor ou que fizesse mais sentido. Em certos casos, poderíamos comprometer toda uma direção, que seria mais bem desenvolvida adiante (será que aqui cito Poder Supremo, que não foi finalizado pelo autor e naquele momento fazia sentido esperar?) – e em outros, perderiam a relevância (como a Rann / Thanagar - Guerra Santa).
Alguns desses poderiam estar fazendo as vezes do Face Oculta e sendo o tema de questionamentos similares. Podem acreditar ou não, mas Shazam! - A sociedade dos monstros (tenho uma edição aqui na minha mesa e adoraria já ter publicado) tem seu espaço em nossas discussões.
Com o passar dos anos e o estreitamento na relação com nossos licenciantes, eles nos têm dado ferramentas para uma sinergia muito maior nesse sentido, principalmente porque entendem cada vez mais claramente a importância do mercado brasileiro para os produtos que geram.
Sabemos que esse caminho traz resultados e tanto um comprador ocasional quanto um leitor extremamente especializado poderá atestar, por experiência própria, bastando comparar a abrangência de hoje nas linhas que tanto admira com as opções que tinha alguns anos atrás.
UHQ: Liga da Justiça por Grant Morrison teve seu primeiro encadernado em 2008 e não teve novos volumes. A editora interrompeu a série ou pretende continuá-la? E Starman, ficará mesmo naquele único volume, lançado no mesmo ano?
Erico Rosa: Naquele momento, produtos como esses se configuravam com preços nem sempre competitivos, e muitas mudanças ocorreram no decorrer desses cinco a seis anos, favorecendo a produção de materiais cada vez mais sofisticados e com preço mais convidativo.
Um conteúdo como esse será certamente revisitado em algum momento, mas não seguirá necessariamente o formato proposto naquela ocasião.
UHQ: A série europeia XIII teve nove volumes lançados e a publicação foi interrompida sem desfecho, faltando apenas um álbum (já que as edições nacionais englobavam duas originais). Em 2007, a Panini disse ao Universo HQ que não interrompera a linha, mas nunca mais lançou nada. Existe alguma chance de esse material, bem como Aldebaran, Blacksad e Blueberry, ser retomado?
Erico Rosa: Não havia intenção de interromper nenhum dos títulos, mas a questão da renovação contratual se estendeu inconclusivamente e durante um longo período e a situação criou essa consequência indesejável para o título XIII.
Estamos em outro momento e, tanto para a continuidade quanto para novas possibilidades, nossos planos passam pelos mesmos caminhos trilhados por experiências como Face Oculta e outros, e serão adequadamente comunicados tão logo isso seja possível.
O período que vocês citaram (2007 a 2009) é anterior ao momento que vivemos – e de lá pra cá a Panini consolidou uma extensa linha de produtos para livrarias. Pelos nossos planos para o futuro passam muitas possibilidades – e ter uma linha de bons álbuns europeus é algo que acreditamos que valerá a pena investir, tão logo o momento certo se configure.