Um festival de quadrinhos na Sérbia
A
newsletter sérbia de quadrinhos Strip Vesti, que já existe
há seis anos, dirigida por Zlatko Milenkovic (quem conseguir pronunciar
"srpski" pode solicitar a assinatura da newsletter por e-mail),
trouxe como destaque a realização do II Šabacki Festival Stripa,
ou Segundo Festival de Quadrinhos em Šabac.
O evento acontece em paralelo ao Festival de Verão da cidade de
Šabac, entre 6 e 8 de agosto, e vai saudar a geração que ganhou força
em pleno início da II Guerra Mundial: a Beogradski Krug (Círculo
de Belgrado), e que teve seu ponto mais alto na revista Mikijevo
Carstvo, algo como um Jornal de Mickey à iugoslava, e também por ilustradores
que produziam para o jornal Politika e para as revistas Mika
Miš (O Rato Mickey) e Duga.
Aliás, a Mikijevo Carstvo veio exatamente para roubar a preponderância
absoluta de Mika Miš na cena local, que se estendeu até 1939.
A geração, conhecida como a da Época de Ouro dos quadrinhos sérbios, se
desenvolveu entre 1935 e 1941, e teve, inegavelmente, como no Brasil,
o impulso dos quadrinhos americanos dos anos 1930.
Dois destaques dos principais nomes da escola são:
O filho de emigrados russos Ðorde Lobacev, dono de um traço leve e satírico,
acusado às vezes de ser muito vanguardista, mas que acabou ficando na
memória e na história dos gibis sérbios exatamente por ser inovador. Lobacev
assinava com o pseudônimo de Dž. Strip (Quadrinhos).
O
personagem Zigomar, criado por Nikola Navojev e Branko Vidic para a Mikijevo
Carstvo. Zigomar é emblemático do período, pois enuncia claramente
a influência da boa geração americana dos anos 1930, sendo identificado,
quase imediatamente, ao Fantasma. Zigomar usava uma capa preta e tinha
como principal amigo um chinesinho de nome Chi Yang.
A programação integral não está fechada, mas, além da exposição, haverá
várias mesas de debates, exibição de vídeos da produção gráfica de Sérbia
e Montenegro, oficina de quadrinhos e noite de autógrafos do quadrinhista
e ilustrador macedônio Zlatko Krstevski, que colabora, entre outras publicações,
na Art Life USA.
Conheça as belezas de Šabac clicando
aqui.
Em tempo: até o ano de 1989, a grafia correta para se referir à etnia
do povo de maior população da Iugoslávia no Brasil - Sérbio - era também
a mais corrente. Tanto que o clube da colônia em São Paulo se chama Clube
Serbo-Brasileiro.
Infelizmente, a cobertura mediática dos conflitos nos Bálcãs, iniciada
por um jornal de São Paulo - e copiada acriticamente por outros meios
de comunicação no Brasil - acabou universalizando o uso da forma racista,
com 'v', que era até então, secundária em nosso país.
A associação entre sérbios e a servidão é tão racista quanto a associação
entre escravos e eslavos (através da forma latina sclavini), e ambas tem
origem italiana.