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Entrevistas

Gerard Way: entre a música e os quadrinhos, os dois!

15 dezembro 2015

Cobertura UHQ

Por Isabelle Felix e Samir Naliato

Autor de The Umbrella Academy falou ao Universo HQ sobre a carreira nos quadrinhos, suas influências e, claro, seus próximos projetos.

 

Durante a Comic Con Experience 2015, que aconteceu de 3 a 6 de dezembro, o Universo HQ realizou uma rápida entrevista com Gerard Way. Conhecido pela sua ex-banda My Chemical Romance, da qual era o vocalista, e hoje em carreira solo, ele é o roteirista de The Umbrella Academy – Suíte do Apocalipse (2009) e The Umbrella Academy – Dallas (2011), lançadas no Brasil pela Devir, com desenhos de Gabriel Bá.

Way também roteirizou e idealizou The True Lives of the Fabulous Killjoys, lançado em 2013, pela Dark Horse, nos Estados Unidos, e ainda inédito por aqui, e assina uma das histórias complementares que integram o prólogo da saga Aranhaverso – anunciada pela Panini para este mês.

Universo HQ: Você cresceu como um nerd, um geek, que interpretou Peter Pan quando criança. E era muito tímido e tudo o que tinha eram os quadrinhos.  Então, quais foram os títulos que cresceu lendo?

Gerard Way: Cresci lendo a fase de Chris Claremont nos X-Men. Mas a primeira revista que ganhei da minha avó, quando eu estava no hospital, foi uma edição do Capitão América. Nada de X-Men. Só descobri os mutantes depois, nas comic shops. E ainda hoje suas aventuras me influenciam e me impulsionam a criar histórias.

Gerard Way

UHQ: Ou seja, super-heróis!

Way: A princípio, sim! Só quando aconteceu o grande boom na Image (no início da década de 1990), descobri o trabalho de Grant Morrison, Neil Gaiman e, depois, a Vertigo.

UHQ: Materiais mais adultos.

Way: Isso. Daí, mudei de super-heróis para esse tipo de quadrinhos.

UHQ: E Watchmen teve um grande impacto na sua vida...

Way: Sim! Watchmen teve um grande impacto. Na verdade, acho que teve um grande impacto na vida de todo mundo que leu!

UHQ: Na música, uma história é contada pela melodia, enquanto nos quadrinhos é pela arte sequencial. Produzir nessas duas áreas diferentes deram a você uma perspectiva diferente de como abordar o seu trabalho?

Way: Deram. Na verdade, creio que simplesmente atuar nas duas áreas, e ficar indo e voltando, me fizeram ser um contador de histórias melhor. E ambas se preenchem, uma inspira a outra. Então, estão muito conectadas.

UHQ: E estão muito conectados a você.

Way: Sim. Mas a única vez em que eu estive realmente conectado com música e quadrinhos, ao mesmo tempo, foi em Killjoys. E aquilo foi muito divertido! Eu não sabia se esse trabalho realmente funcionaria, mas deu certo! As pessoas gostaram!

UHQ: Mas é possível ver música em todos os seus trabalhos. Até mesmo em Homem-Aranha...

Way: Isso é verdade!

The True Lives of Fabulous Killjoys Edge of Spider-Man # 5

UHQ: Em Umbrella Academy também tem muita música. É como você cria?

Way: A música é o meu caminho para entrar em várias coisas. Muitas vezes, quando quero escrever uma história, geralmente é uma música que me inspira para escrevê-la. Então, a música é onde tudo começa.

UHQ: E você trabalha ouvindo música? Ou quando está escrevendo prefere o silêncio?

Way: Eu só não posso ouvir podcasts enquanto trabalho, porque me atrapalha.

UHQ: Várias pessoas falando ao mesmo tempo.

Way: Isso. É aleatório demais! Mas ouço muito Pixies, o novo álbum do Kid Cudi, que é incrível, ouvindo novas rimas...  Eu simplesmente ponho música, seja lá o que se encaixe. Às vezes, gosto de ouvir New York Dolls. Ou seja, depende do trabalho...

UHQ: Alguns criadores incluem letras de canções em suas histórias e vários fãs gostam de ouvir música enquanto leem. Como analisa essa intersecção entre as duas mídias? Elas realmente combinam?

Way: Acho que combinam só para algumas pessoas. Sim, há quem goste de ouvir música lendo quadrinhos, mas sei que muita gente não ouve nada enquanto escreve ou lê. De todo modo, não sei que conexão é essa, mas ela é forte!

Autores usam letras de músicas o tempo todo em seus roteiros. Isso é interessante, porque chega a um ponto em que se torna poesia, mas você não a está ouvindo. No entanto, como conhece a música, então está meio que ouvindo, o que é legal!

UHQ: Qual foi a reação dos seus fãs quando você anunciou que lançaria uma história em quadrinhos?

Way: Não sei, porque tudo estava crescendo na época. Nós (da antiga banda My Chemical Romance) estávamos em turnê do Black Parade e fazendo toneladas de coisas.

Eu saí de gravar um álbum direto para a turnê, então realmente não procurei/esperei por opiniões sobre meus quadrinhos. Eu simplesmente fiz.

Gerard Way

UHQ: E como você teve a ideia de Umbrella Academy?

Way: Sabe, foi o tipo de coisa que eu realmente queria. Sou um grande fã dos quadrinhos da Dark Horse. E minha porta de entrada para a editora foram as primeiras histórias de Aliens, Concreto e vários materiais incríveis, que não estou lembrando agora. Ah! Sin City, do Frank Miller, e Hellboy! Definitivamente, obras assim foram a grande razão para eu me tornar um grande fã da Dark Horse.

E eu senti que a editora não tinha um quadrinho sobre super-heróis, que era exatamente o que eu queria fazer. Então, literalmente, criei do nada toda essa história. Meio que senti esse vazio, como se algo estivesse fazendo falta, pois não existia uma equipe de super-heróis estranhos na época.

A inspiração foi Patrulha do Destino, do Grant Morrison, mas não é como Patrulha do Destino. É muito diferente.

UHQ: E como você conheceu Gabriel Bá, o desenhista de Umbrella Academy?

Way: Pelo Scott Allie, o editor original de Umbrela Academy. Nós não tínhamos um artista. Eu tinha feito todos os desenhos de como seriam os personagens, mas precisava de alguém para traduzir isso. Acho que, no início, eu estava procurando por um estilo mais realista, só que isso não estava se encaixando bem.

Então, o Scott disse “achei esses artistas do Brasil e eles são realmente incríveis; e acho que um deles é perfeito para isso. Seu nome é Gabriel”. Daí, ele me mostrou seu trabalho, fui até uma comic shop e peguei Casanova, que ele fez com Matt Fraction e com o Fabio (Moon) também. E, logo que vi, pensei: “Sim, esse é o cara!”.

Foi isso. Assim que começamos a trabalhar juntos. Foi um início lento, levou uns meses para eu escrever os roteiros. Mas depois que comecei...

The Umbrella Academy – Suíte do ApocalipseThe Umbrella Academy – Dallas

UHQ: Você cursou faculdade de Artes. Por que não desenha seus quadrinhos?

Way: Faço quando posso. É realmente difícil, por causa do tempo apertado. Se tivesse que escrever e desenhar um quadrinho, acho que demoraria muito para ser lançado.Então, fico só com os roteiros.

Até porque, para mim, os desenhistas têm o trabalho mais difícil.

UHQ: Por que todos os seus trabalhos em quadrinhos são sobre crianças? Crianças perdidas. Crianças que perderam seus pais, mas ainda assim têm alguma figura paterna ou algo do gênero.

Way: Não sei. Coloco muito de mim nos meus quadrinhos. Família é um assunto que sempre foi interessante para mim. Crianças, sabe, não sentem um senso parental muito forte. Acho que por isso, de alguma forma, estou sempre escrevendo sobre órfãos.

UHQ: Isso! Em Homem-Aranha, tem a menina que perdeu seus pais. Em Umbrella Academy, todas aquelas crianças... Em Killjoys, a garotinha...

Way: É verdade! Apesar de que a menina de Killjoys encontra a mãe no final. É meio que despercebido, mas acontece o reencontro. Mas, sim, tem muita gente perdida. E são pessoas que não têm aquele apoio... Não sei, simplesmente acho interessante.

UHQ: Poderia dizer algo sobre All Ages? Especialmente sobre Lemon (um dos três personagens da obra), pois você disse: “Ele sonha em deixar essa vida mundana para trás” e “música é a sua vida”. E como você disse em outra entrevista que a história era meio autobiográfica...

Way: Sim, quando concebi a ideia de All Ages, realmente queria escrever uma HQ autobiográfica. Na verdade, meio autobiográfico. Sobre crescer e descobrir o punk rock, sobre arte, sobre mudanças como uma pessoa que simplesmente está crescendo.

Então, realmente queria contar essa história, mas muitas outras coisas surgiram. E não sei se conseguirei fazer isso. Mas quero.

UHQ: As imagens de conceito estão incríveis. Tomara que tenha tempo para fazer.

Way: Eu também. Muita gente quer. Então, provavelmente eu faça.

All AgesAll Ages

UHQ: Também porque é quase um drama e muita gente pode enxergar-se/relacionar-se com isso. É o que acontece em quadrinhos como Retalhos, do Craig Thompson, por exemplo.

Way: Sim! Retalhos é ótimo!

UHQ: Há alguma espécie de realização pessoal ao fazer uma história em quadrinhos?

Way: Claro. É como fazer uma música, um álbum ou qualquer coisa assim. Tem esse grande senso de realização. Porque você passa por muitas coisas para chegar até o final.

UHQ: Você consegue comparar os sentimentos entre fazer música e quadrinhos?

Way: Eles são bem similares. Você começa com uma ideia e acha que ela é ótima. Então, começa a trabalhar em cima daquilo e passa a achar que aquilo é uma merda. Aí, precisa se forçar a continuar trabalhando e então, na maioria das vezes, em algum momento, volta a ficar legal novamente. É quando pensa: “isso é ótimo”. Mas nem sempre isso acontece, sabe? Às vezes, você acha que ótimo, mas é apenas uma merda!

UHQ: E sobre Umbrella Academy # 3 e # 4?

Way: Os dois estão sendo trabalhados agora. Tenho muitas histórias planejadas para resultarem em oito arcos. Estou escrevendo a edição # 3 da terceira série. Gabriel está para começar a desenhar. Então, estamos tentando que fique pronto em 2016 e, provavelmente, o quarto volume saia no ano seguinte. Assim, teremos mais Umbrella!

UHQ: O mais legal de Umbrella Academy é que, ao final da leitura, dá para sentir a falta daquelas pessoas...

Way: Ah! Isso é legal! Fico feliz por transmitir essa sensação. Sei que muitas pessoas sentem falta daqueles personagens. E é por isso que vou trazê-los de volta!

Gerard Way e Isabelle Felix

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