O homem que tem o Universo DC nas mãos
Em passagem por São Paulo, Eddie Berganza, editor-sênior da DC, concedeu uma entrevista exclusiva ao Universo HQ e falou sobre artistas brasileiros, a Crise Final e muito mais
Por Eduardo Nasi
"Ele é gente boa" foi a frase mais escutada na tarde do dia 16 de outubro,
na recepção do sobrado de Higienópolis que abriga a Quanta
Academia de Artes, em São Paulo. E a segunda foi "Você não pode
se importar com crítica, porque ele diz tudo na sua cara".
Quem provocou os comentários foi Eddie Berganza, editor sênior da DC
Comics, em passagem pelo Brasil para uma série de eventos em São
Paulo e Belo Horizonte, onde acontece o 5º
FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos.
Berganza passou a tarde quente e abafada avaliando pastas de desenhistas
brasileiros numa área ao ar livre nos fundos da escola. E havia bastante
gente com portfólio debaixo do braço. Afinal, o editor é "peixe grande"
justamente no cobiçado mercado norte-americano: depois de anos como o
responsável pelos títulos de Superman, cuidou de Crise Infinita
e assumiu revistas como Íon, Lanterna Verde, Novos Titãs e a elogiadíssima
Liga da Justiça de Brad Meltzer.
É
prato cheio para brasileiros a fim de seguir a trilha de artistas como
Ivan Reis, Ed Benes e Marcelo Campos, que já trabalharam com o editor.
Apesar de aparentar cansaço, ele fazia comentários contundentes sobre
os trabalhos vistos. Mas disse gostar do que estava vendo.
Foi num intervalo entre as avaliações que Berganza falou com o Universo
HQ sobre seus novos títulos na DC, Crise Final, a relação
com criadores internacionais, download ilegal de quadrinhos, brasileiras
gostosas e Lost.
Universo HQ: Bem, a primeira pergunta é inevitável. É sobre...
Eddie Berganza: A Crise Final?
UHQ: É.
Berganza: Hm, isso vai ser uma resposta longa. (risos)
UHQ: Bem, é bem provável que você não vai nos adiantar nada, mas não
custa tentar.
Berganza: Grant Morrison é o escritor, J.G. Jones é o
artista e a série é muito legal.
UHQ: Aqui no Brasil estamos acabando de ler Sete Soldados da Vitória
no mês que vem. A minissérie é realmente tão conectada com a Crise
Final quanto parece?
Berganza: Sim, eu contaria isso pra todo mundo. É isso.
UHQ: E o Homem-Animal do Grant Morrison, que já tinha uma relação com
Crise nas Infinitas Terras?
Berganza: É uma série muito boa, mas eu apostaria mais
em Sete Soldados.
UHQ:
Tem sido um excelente momento para se acompanhar os títulos da DC. O que
mudou na editora?
Berganza: É verdade. Tem coisas grandes acontecendo.
E está tudo coordenado. Cada história adiciona um fato novo e torna o
Universo DC maior. É uma coisa que estamos fazendo bem desde Crise
Infinita, quando a Guerra Rann-Thanagar, o Pacto das Sombras, tudo
fazia parte de um plano maior. E isso vai até a Crise Final, passando
por Countdown e por uma série que estou coordenando diretamente,
Sinestro Corps.
E isso vai ser grandioso. Eu a chamo de "O Império Contra-Ataca
por Geoff Johns". E então há um O Retorno de Jedi que será realmente
bom!
UHQ: Essa fase que está saindo no Brasil é justamente a que
marca a sua saída de Superman e o começo do trabalho em novos títulos.
Tem algo em especial de que se orgulhe?
Berganza: Definitivamente, a Liga da Justiça.
O Tornado Vermelho é um personagem fantástico. Se você nunca deu bola
para ele, vai rever seus conceitos. Meltzer faz coisas incríveis com os
heróis menores, como Vixen.
UHQ:
E tem algo de que você se arrepende?
Berganza: Não, não tem. Novos Titãs também entra
em uma fase boa, a equipe sai renovada... Vocês têm Titãs aqui?
UHQ: Sim, agora há duas novas revistas dedicadas à DC e lemos praticamente
tudo que vocês publicam. Possivelmente, temos quase todos os seus títulos
nas bancas.
Berganza: Então, os leitores vão perceber que Titãs
também está completamente ligado à Crise. O grande lance é que
o grupo muda, sai em busca de algumas coisas. Até Íon é interessante,
porque foi onde comecei. Eu era editor-assistente quando o Kyle surgiu
e é natural, para mim, ter editado o título.
E agora estou com Lanterna Verde, porque o editor que cuidava da
revista saiu. Eu queria muito esse título, muito mesmo, então insisti.
UHQ: É uma fase em que os Lanternas Verdes estão recuperando a importância
que já tiveram.
Berganza: É, eles estão grandes agora. Se bem que sempre
estiveram por perto. Pode conferir: todo grande evento da DC tem
um Lanterna Verde envolvido. Tivemos a Noite Final, em que Hal
Jordan reacende o Sol, depois Kyle Rayner estava na Zero Hora...
Sempre tem um Lanterna Verde.
UHQ:
Você tem trabalhado com artistas brasileiros e do mundo inteiro. Como
isso aconteceu?
Berganza: Foi a internet. Dá uma tranqüilidade imensa
não ter que esperar por um pacote amarelo que chega pelo correio de um
país estrangeiro. E, por outro lado, qualquer um pode nos encontrar.
O que é excelente para mim é que posso trabalhar com artistas que, no
passado, não teria como. (Berganza aponta para Joe Prado, que estava ao
lado) Veja o Joe: se preciso de um artista, digo o perfil para ele e logo
recebo as amostras. Não tem nenhum pacote envolvido. É muito fácil. (Nota
do UHQ: Prado trabalha para o Art & Comics, que licencia artistas
brasileiros no exterior)
E há outros artistas de quem corro atrás para trabalhar, que é caso do
Ed Benes, que acompanho desde WildCats.
UHQ: E você chega a ler quadrinhos feitos em outros lugares do mundo
em busca de artistas?
Berganza: Bem, depende. Eu só leio espanhol, que é a
única outra língua que sei.
UHQ: Nem material que é traduzido para o inglês?
Berganza: Até há alguns, mas não tanto quanto se pensa.
E esses eu leio para ver se encontro algo diferente. Mas é difícil acompanhar
tudo. Por isso, é bom fazer viagens como esta. É assim que tenho tempo
de olhar trabalhos de artistas e até mesmo álbuns.
UHQ: Que diferenças você vê entre os artistas internacionais e norte-americanos?
Berganza: Muitas, com certeza. Os mexicanos, por exemplo,
têm um estilo mais próximo do cartum, do desenho animado. Os espanhóis
são sombrios. Até o Brasil tem um estilo, mesmo que vá de um Ed Benes
a um Ivan Reis.
UHQ:
Há uma lenda local de que brasileiros desenham mulheres mais gostosas...
Berganza: He, he. Mas isso é fácil pra vocês! É só olhar
pra rua. Esse... hmmm... traseiro das mulheres do Ed Benes estão por todo
lugar. É sensacional.
UHQ: Por aqui, o download ilegal de quadrinhos já é bem grande,
até por causa do atraso de um ano em relação à publicação norte-americana.
Como você tem visto isso nos Estados Unidos?
Berganza: A experiência de vocês aqui é parecida com
a que temos com encadernados. E, ao mesmo tempo, é o oposto, porque lá
as pessoas esperam para comprar as histórias nos encadernados.
Mas o ponto é que mais do que nunca precisamos fazer boas histórias, porque
essas vão ser lidas sempre.
UHQ: Para fazer um filme em Hollywood se faz muita pesquisa
para entender o público e as necessidades. Nos quadrinhos isso existe?
Berganza: Não tem quase nenhuma, porque não dá tempo.
É pouco eficiente, até porque não há como mudar. O que precisamos é de
boas histórias, porque são elas que ultrapassam limites demográficos e
tal.
Confiamos nos nossos criadores, gente como Grant Morrison. Quando você
tem uma boa história, ela te pega de qualquer jeito. É por essa liberdade
que tantos autores de TV têm vindo para os quadrinhos.
UHQ: Você trabalhou naquela edição do Lanterna Verde que foi citada
no começo de Lost. Por acaso ficou sabendo qual o mistério por
trás daquela aparição?
Berganza: Tudo que sei é o que todo mundo sabe: na revista
e no episódio aparecem um urso polar.
Eduardo Nasi é um grande fã dos quadrinhos da DC Comics. Pena que
Berganza não teve tempo de ouvir as teorias dele para a Crise Final.
Talvez fosse a chance de um brasileiro salvar o universo de Superman,
Batman e companhia...