Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Entrevistas

Stefan Petrucha: a verdade está nas páginas dos quadrinhos

29 agosto 2019

Autor responsável por levar conspirações, alienígenas e casos sobrenaturais da televisão para as HQs fala do desafio de adaptar o sucesso de Arquivo X.

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Stefan Petrucha é um prolífero autor norte-americano, com trabalhos publicados por grandes editoras lá fora, incluindo romances baseados em super-heróis da Marvel Comics.

Esta entrevista foi realizada por e-mail no final de 2018, e trata principalmente pelo trabalho do escritor na série Arquivo X Clássicos, lançada atualmente no Brasil pela New Order Editora.

Essas histórias, algumas delas publicadas pela primeira por aqui na década de 1990 pela Myhtos Editora, são consideradas um ponto importante em publicações de franquias licenciadas exatamente por ter um trabalho cuidadoso e apresentar temas e acontecimentos próprios, afastando-se da ideia de serem meras adaptações de episódios. Além de Petrucha nos roteiros, a série contou com Charles Adlard, conhecido no Brasil pelo por ser o artista de The Walking Dead.

Neste momento em que a New Order Editora está lançando o segundo volume de Arquivo X Clássicos, um encadernado em cada dura com 258 páginas, conversamos com Petrucha sobre levar o cultuado seriado de ficção científica para os quadrinhos e criar suas próprias histórias para os agentes Mulder e Scully.

Universo HQ: Olá Stefan. Para começar, gostaria de a você que nos contasse como foi seu início como escritor de quadrinhos profissional.

Stefan Petrucha: Olá, obrigado pelo interesse e oportunidade de falar aos leitores!

Como muitos profissionais, eu lia quadrinhos desde minha infância, e realmente aprendi a ler a partir deles. Na faculdade, comecei a enviar algumas histórias para a Marvel e eventualmente vendi duas histórias como testes, uma para o Doutor Estranho e outra para o Homem Aranha. Porém nada mais veio depois disso.

Houve um longo período até o final dos anos 1980, quando eu fiz minha primeira venda “real”, para a First Publishing: Squalor, uma minissérie original, com arte do grande Tom Sutton, agora disponível pela Caliber em mídia digital e encadernado. A partir dali, vendi várias séries autorais e diversos números como autor substituto (Nota do UHQ: histórias para preencher números específicos das revistas mensais enquanto a equipe criativa oficial descansa ou regulariza o atraso), a maioria deles entre os independentes.

Enquanto a maioria delas era muito bem falada, em termos de vendas e popularidade, meu grande avanço veio com Arquivo X.

UHQ: Como surgiu a ideia de uma HQ do Arquivo X?

Petrucha: Naquela época, meu amigo de infância Jim Salicrup (nós vivíamos na mesma rua no Bronx) se tornou editor chefe da Topps Comics. Eu já tinha feito algum trabalho para a editora, e sabia que Jim estava procurando por novas oportunidades de licenciamento.

Como um grande fã do paranormal, quando Arquivo  X estreou eu me apaixonei. Na hora liguei pro Jim, e disse que devíamos tentar pegar os direitos, e me deixar escrever a série.

Arquivo X Clássicos - Volume 1

UHQ: Diferente de outros quadrinhos licenciados, seu Arquivo X tem sua própria “mitologia”. Como foi o desenvolvimento dessas tramas?

Petrucha: Diferente de hoje em dia, em que alguns casos os roteiristas da série de tevê acabam escrevendo quadrinhos também, não havia qualquer relação próxima com o seriado. Sua popularidade estava apenas começando a crescer, e, em termos de licença, eles ainda estavam descobrindo como seriam as coisas. Adicione a isso o fato de que tudo no programa era um grande segredo. Como resultado, eu não tive nenhum conhecimento de antemão sobre qualquer trama ou desenvolvimento de história que estava sendo trabalhada. Como Mulder e Scully, eu estava, basicamente, trabalhando no escuro.

Então, eu criei minha própria conspiração para os quadrinhos, a qual esperei não colidir com nada que estivessem fazendo no seriado. Este é um planeta grande, não existe motivo para que você tenha apenas uma conspiração, certo? Além disso, como na televisão, eu quis fazer uma combinação entre histórias independentes e outras que se enquadravam à uma conspiração.

UHQ: O primeiro volume de Arquivo X Clássicos está situado em algum momento entre a primeira e segunda temporada. Você teve acesso a alguma informação antes de outras pessoas durante esse desenvolvimento?

Petrucha: Como já disse acima, além de aprovações, eu não tive acesso a informações. Uma vez me pediram para não fazer histórias envolvendo mitos nativo-americanos, mas àquela altura eu já tinha escrito a história com influência Asteca.

UHQ: Os quadrinhos de Arquivo X vieram em um grande momento de desenvolvimento dos quadrinhos mais adultos. Naquela época havia vários títulos com esse propósito. Além da série, quais foram suas mais importantes referências?

Petrucha: Minhas referências são, em sua maioria, contos sobre o paranormal e ficção científica que eu li, de Eram os deuses astronautas (Nota do UHQ: livro de Erich Von Daniken sobra a influência de alienígenas no desenvolvimento de culturas da Terra) a Robert Anton Wilson e Philip K. Dick. Alguns anos mais tarde, eu escrevi minha própria série paranormal, Meta-4, com arte de Ian Gibson, que seguiu temas similares. Em termos de quadrinhos, eu sou grande fã de Alan Moore, que leu o mesmo material literário que eu, e sabia como usá-lo.

Arquivo X Clássicos - Volume 2

UHQ: A série é de um tempo anterior a celulares e redes sociais. Algumas vezes ela girava em torno de Mulder ver algo e não ter como provar. Outras, da ideia que o governo era o inimigo, negando conhecimento aos cidadãos e fazendo o máximo para encobrir certos fatos. Você ainda vê espaço para esse tipo de histórias e ideias?

Petrucha: Por um lado, a constante presença de câmeras e a crescente vigilância nos céus torna difícil acreditar na foto borrada que pode ser o pé-grande, mas eles com certeza ainda estão por ai. Existem milhares de vídeos no YouTube sobre qualquer tópico sobrenatural imaginável. Então, sempre existe espaço para mais ficção nessas linhas.

Por outro lado, esse aumento de vigilância pelo governo serve muito bem para as teorias paranoicas de conspiração, com alguns resultados sombrios no mundo. Se existe um problema com esse tipo de história, é que ela se tornou muito real.

UHQ: Pode-se ver uma clara evolução da arte de Charles Adlard no primeiro volume. Como foi trabalhar como ele? Como funcionava o trabalho entre vocês dois?

Petrucha: Eu amei trabalhar com o Charlie. Ele tinha, e tem, um grande estilo humorado, sempre entendia todos os roteiros e nunca perdia um prazo. Ele também foi fantástico com todas as referências visuais estranhas que eu enviei.

Nós conversamos e nos encontramos algumas vezes, e sempre foi um prazer. Em termos de trabalho, entretanto, não havia muitas idas e vindas. Quando ele recebia meu roteiro completo, ele já tinha sido aprovado, então, mesmo que eu pudesse esclarecer as coisas, o básico não poderia ser mudado.

Dito isso, outro tipo de diálogo se fez presente. Conforme eu aprendia o que ele era capaz, eu ajustava meu roteiro (pelo menos era a minha intenção) para algo que fosse mais pertinente ao estilo dele. Eu acho que algo assim ocorreu no sentido contrário. Nós aprendemos a melhor forma de trabalhar um com o outro.

UHQ: Sua versão do Arquivo X é considerada um título cult. Algo que tem sua própria qualidade, além da série original. Você também acha isso? Qual seria a explicação para isso no seu ponto de vista?

Petrucha: Eu não me sinto confortável em julgar meu trabalho dessa forma. Inicialmente, a popularidade dos quadrinhos estava surfando grandes ondas. Dito isso, eu fico empolgado em saber que a série continua a ser lida, e gosto de pensar que isso tem algo relacionado a minha paixão pelo tema, pelas histórias e personagens.

Arquivo X Clássicos - Volume 2

UHQ: Trabalhar com revistas em quadrinhos é um sonho que você ajudou muitas pessoas a construir por meio dos seus cursos. Você tem algo em especial para dizer a quem quer tentar esse caminho?

Petrucha: Em termos de mecânica, muito do que tenho a dizer está nos meus vídeos e no meu livro Writing Comics (Escrevendo Quadrinhos). Eles podem ser comprados no Udemy por U$S 12.99 usando o cupom deste link.

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Em termos de carreira, a publicação digital mudou tudo. Editoras famosas de quadrinhos não olham mais apresentações longas de trabalhos. Em invés disso, eles olham para a internet e outras mídias relacionadas. Se você quer escrever quadrinhos hoje, meu conselho a você é que se junte a um artista compatível, produza um web comic, e construa um público ao longo do tempo.

É um jogo demorado, mas se você gostar da trajetória, pode ser bem compensador.

UHQ: De tudo que você já trabalhou, qual seu título favorito?

Petrucha: Essa é uma pergunta difícil, especialmente se você incluir os romances, e a resposta vai mudar de tempos em tempos. Em termos de quadrinhos, eu estou muito orgulhoso de The Bandy Man, publicado pela Caliber, com a arte dos colegas de Arquivo X, Charlie Adlard, Miran Kim e Jill Thompson. É sobre um homem não-terminado de Deus, uma espécie de monstro gnóstico que quer desfazer toda a criação, e explora muitos temas de identidade e memórias que eu lidei com Arquivo X.

Arquivo X Clássicos - Volume 2

Jorge Caffé passou a desconfiar de tudo e de todos após esta entrevista, e se dedicou a investigar teorias da conspiração. Arquivo X é fichinha perto de suas descobertas!

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