Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Entrevistas

Tom DeFalco: o roteirista que amava editar

30 outubro 2018

Um rápido bate-papo com um dos mais emblemáticos editores da Marvel em todos os tempos.

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Tom DeFalco nasceu em Nova York, no dia 26 de junho de 1950. Apesar de inicialmente ter trabalhado nas editoras Archie e DC Comics, a maioria esmagadora de sua produção como editor e roteirista foi na Marvel.

Foi na “Casa das Ideias” que atuou como editor-chefe de 1987 a 1994 e se destacou nos roteiros de Homem-Aranha, Thor, Quarteto Fantástico e Garota-Aranha – esta última, criação sua.

Somando roteiros e edições, o site especializado Comic Vine atribui 4542 créditos a DeFalco, que também já escreveu romances, cyber comics e livros infantis. Nesta entrevista exclusiva ao Universo HQ, ele fala um pouco da carreira e compartilha algumas de suas opiniões.

Tom DeFalco

Universo HQ: Você prefere trabalhar como editor ou roteirista?

Tom DeFalco: Eu sempre me vi como um roteirista que se passava por editor. Escrever é o meu primeiro amor – invento histórias desde criancinha. Editar é algo que aprendi para me tornar um melhor roteirista.

Só que, pra minha surpresa, descobri que gostava muito de editar, trabalhar com outros roteiristas e artistas para criar histórias, e hoje eu sinto muita saudade de fazer isso.

Às vezes, me dá vontade de pegar um emprego como editor em meio período, mas isso nunca vai acontecer.

UHQ: Quais eram as suas principais regras para os roteiristas do Homem-Aranha, quando foi editor do personagem?

DeFalco: Eu dizia que eles precisavam saber quatro coisas: 1) O tema principal nas histórias do personagem é responsabilidade; 2) A revista conta as aventuras de Peter Parker, que frequentemente põe a máscara e o uniforme do Homem-Aranha (ou seja, o foco principal de nossos roteiros é o Pete, e as aventuras como Homem-Aranha são apenas parte de sua história); 3) Em cada aventura, Peter deve fazer escolhas (como aquela na sua origem, quando decidiu não prender o ladrão) e sempre ficar em dúvida quanto a elas; e 4) Pete enxerga o lado ruim de cada notícia boa. Apesar de ser um vencedor, ele só se vê como perdedor.

Spider-Man - The Ultimate Guide

UHQ: Quais foram as principais medidas que você tomou como editor-chefe que, na época, resultaram no aumento de 500% no lucro das publicações da Marvel?

DeFalco: Na minha opinião, a Marvel era um negócio como outro qualquer, e meu dever era vender o máximo de revistas possível. E consegui isso ao constantemente planejar o futuro.

Assim que virei editor-chefe, eu e Mark Gruenwald traçamos um ambicioso plano trienal, que incluía o aumento do número de títulos em bancas e expandia os diferentes tipos de revistas e publicações em nosso cronograma.

Também tomei cuidado para que meus gostos pessoais jamais interferissem nas decisões profissionais. Investi em títulos que vendiam e cancelei os que não vendiam. Fora isso, eu vivia testando novos formatos, recursos e ideias.

UHQ: Pode nos contar alguma história de bastidores envolvendo as discussões sobre o uniforme negro do Homem-Aranha após Guerras Secretas?

DeFalco: Antes de lançarmos Guerras Secretas, todos na redação acreditavam que o uniforme negro do Aranha seria um colossal fracasso, e que os fãs iriam odiar. Mandaram que eu me livrasse dele assim que fosse possível.

Depois de Guerras Secretas, todos chegaram à conclusão de que o novo uniforme era o máximo e me pediram pra continuar com ele o máximo possível.

Homem-Aranha com o uniforme negro Garota-Aranha

UHQ: E quais foram os aspectos positivos e negativos da Saga do Clone, do Homem-Aranha?

DeFalco: O aspecto mais positivo da Saga do Clone é que ela se concentrava na essência de Peter Parker. De repente, pessoas que não davam bola pro Homem-Aranha ou não liam suas histórias havia anos voltaram a acompanhar o título, emocionalmente envolvidas com o destino dele.

O aspecto mais negativo: a Saga foi bem-sucedida demais, indo muito além do que planejamos originalmente. Esticaram demais a história pro meu gosto.

UHQ: Você é superprotetor com relação à Garota-Aranha? Como a vê neste novo contexto do Aranhaverso?

DeFalco: Eu gosto muito da Garota-Aranha e adorei trabalhar na personagem com Ron Frenz e Pat Olliffe. Acho que a perda do pai mudou Mayday, obrigando-a a levar bem mais a sério seu papel como heroína.

Ela sempre encarou sua vida heroica de forma positiva – quando faz tudo certo, as pessoas vivem (ao contrário do pai) – e, quando falha, as pessoas morrem.

Não sei ao certo como ela será no futuro. Como eu duvido que volte a ter chance de escrever suas histórias, não vou me dar ao trabalho de analisar seu novo contexto. Não tenho tanto tempo a perder.

UHQ: Você tem uma parceria prolífera com o desenhista Ron Frenz, com quem já produziu várias edições de Homem-Aranha, Thor, Garota-Aranha, Torpedos (Novo Universo Marvel), dentre outros. Vocês dois têm um método ou rotina quando trabalham juntos?

DeFalco: Eu e o Ron trabalhamos bem porque colocamos a história acima de nós e deixamos os egos de lado. Sempre que discutimos uma história, nos sentimos à vontade pra dar qualquer ideia – por mais boba que pareça –, para ver se funciona.

Não importa qual dos dois é “o pai da criança”: nós usamos tudo que dê mais qualidade à trama e descartamos o que prejudica. As ideias individuais em si não têm valor pra nós, pois sempre podemos ter outras.

A Saga do CloneKickers Inc, para o Novo Universo Marvel

UHQ: Qual é a sua opinião sobre os constantes reboots na Marvel e na DC? Acha que eles são mesmo necessários?

DeFalco: Todos esses reboots e recontagens sobre a primeira vez que o Homem-Banana encontrou o Incrível Oswald são muito chatos. Na minha opinião, as equipes de criação deviam sempre seguir em frente, criando novos conceitos, heróis e universos.

UHQ: Você é muito produtivo e criativo. Qual é o seu conselho para os novos roteiristas à espera de uma chance nos diferentes meios em que já trabalhou?

DeFalco: Acho que, primeiro, o roteirista deve pensar em si como escritor – uma pessoa capaz de escrever sobre qualquer gênero, em qualquer meio.

Editores e produtores gostam de rotular os roteiristas: “Esse cara só escreve comédia”; “Esse outro só sabe trabalhar com mistério”.

Odeio quando o escritor cria uma “marca” e se apega deliberadamente a ela. Eu gosto da possibilidade de trabalhar com super-heróis, mistério, humor, horror, histórias curtas, gibis, artigos, enfim, tudo. É importante ampliar seus talentos e experimentar as mais diversas mídias.

UHQ: No seu primeiro contato com os quadrinhos, um primo mais velho leu uma edição de Batman para você. O tempo passou e você já escreveu histórias de Superboy, Legião dos Super-Heróis e até Asa Noturna. Quando vai chegar a vez do Cavaleiro das Trevas?

DeFalco: Duvido que o Cavaleiro tenha sua vez. É bem provável que eu já tenha escrito minha última história em quadrinhos. Atualmente, ando ocupado com outras coisas, mas, claro, posso estar errado.

Nightwing #0 Superboy

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