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10 Pãezinhos: Fanzine é o novo álbum da Devir

18 outubro 2007

10 Pãezinhos: FanzineFábio
Moon e Gabriel Ba são gêmeos, trabalham juntos e são apaixonados por Histórias
em Quadrinhos.

Suas histórias já foram publicadas em inglês, espanhol e italiano. Mas,
antes de tudo isso acontecer, eles criaram o fanzine 10 Pãezinhos.

10 Pãezinhos: Fanzine (formato 16,5 x 24 cm, 216 páginas), novo
álbum da Devir,
conta como tudo começou, reunindo as histórias curtas publicadas no fanzine
de 1997 a 2001, além de tiras, editoriais e muitas imagens.

A edição traz as primeiras idéias e a evolução dos gêmeos no trato com
a Nona Arte.

Confira o prefácio do álbum, que será lançado durante o
FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos
, com a presença dos
autores:

10 Pãezinhos: FanzineDesde
muito cedo, nós dois lemos Histórias em Quadrinhos. Meu bisavô gostava
de Quadrinhos, meu avô ganhou muitas revistas de uma casa que reformou
e minha mãe até hoje ama um bom gibi. A porta estava aberta. Como toda
criança, líamos de tudo, sem discriminação. Não tinha bom e ruim, gosto
e não gosto. Tudo era igualmente maravilhoso, desde Mônica até Chiclete
com Banana, de Superaventuras Marvel até O Clic. Não importava quem escrevia,
quem desenhava, se era em preto e branco ou colorido, líamos tudo
.

Para nós, foi muito natural saber como fazer quadrinhos, não por termos
nascido abençoados ou nada do gênero, mas porque estava tudo ali na nossa
frente, era só copiar. Todas aquelas revistas mostravam os tipos de histórias
pra contar - da turma, de aventura, da criança que fala com seu bicho
de estimação, tiroteios, de heróis e viagem interplanetárias, de piratas
e punks - e como desenhar tudo que quiséssemos. Dessa forma, começamos
a fazer quadrinhos copiando tudo que víamos, fazendo releituras das histórias,
imitando os estilos, criando novos personagens para a turma ou para a
equipe. O que mais nos maravilhou nos quadrinhos é que podíamos criar
qualquer coisa, tudo era possível
.

10 Pãezinhos: FanzineOs
grandes leitores de quadrinhos são, na sua maioria, grandes fãs. Quem
gosta de fazer quadrinhos também é, antes de mais nada, um grande fã e
acaba, dessa forma, querendo fazer o tipo de história que mais gosta.
É uma questão de osmose, pois o que você consome acaba influenciando a
sua produção. Já quisemos desenhar o Garfield, o Calvin, o Bob Cuspe e
até o Pedro Bala. Mas por mais eclética que fosse a nossa formação naquela
época, o que mais se encontrava nas bancas e o que nós mais líamos eram
os super-heróis
.

Conseqüentemente, durante muito tempo o nosso maior sonho foi
fazer histórias do Batman e do Homem-Aranha. Foi somente depois de muitos
anos, muitas tentativas e erros e de conhecer novas pessoas e novos tipos
de revistas que nós finalmente vimos que pode existir uma diferença enorme
entre os quadrinhos que você gosta de ler e as histórias que você quer
contar
.

10 Pãezinhos: FanzineTudo
começou em 1991, no Estúdio Pinheiros, do Domingos Takeshita (TAK), um
lugar que parecia um playground onde os pais deixavam os filhos durante
a tarde, um curso que não ensinava ninguém a desenhar, mas a pensar. Todos
os exercícios tratavam de como contar melhor a história, o que tal desenho
queria dizer, qual a melhor forma de retratar esta cena e assim por diante.
É importante notar que a variedade era o maior atributo do Estúdio Pinheiros,
tanto de livros, como de professores, quanto de alunos. Foi vendo aquele
bando de gente diferente fazendo uns desenhos e umas histórias malucas
que a gente começou a perceber que existia algo além do mundo dos super-heróis,
algo mais humano e imperfeito, que nos agradava mais
.

Esta coletânea que você tem em mãos tem três histórias que fizemos
muito antes de existir 10 Pãezinhos, mas que já apontavam para o tipo
de história que acabaríamos contando e se tornando o nosso estilo no fanzine.
A primeira chama-se Marcela, e foi a primeira história que um de nós escreveu
e o outro desenhou. É uma história que o Fábio escreveu em 93, quando
estávamos no 3º colegial. Ela foi feita para o jornal do colégio, que
naquele mesmo ano parou de ser produzido. Empolgados com o ambiente de
produção e distribuição adquirido no jornal, criamos nosso primeiro fanzine,
o Vez em Quando, com o apoio de outro amigo do nosso ano. A outra história
presente aqui neste livro é a história de abertura dessa revista, uma
típica introdução, onde os personagens se apresentam pro leitor e abrem
as portas para as páginas que se seguirão, uma fórmula que existe desde
a tragédia grega
.

10 Pãezinhos: FanzineA
última história que colocamos aqui era um exercício no Estúdio Pinheiros,
uma história de 3 páginas que o Fábio fez. Foi um sonho que ele teve,
onde um casal refém de um "vilão" é guiado por um desfiladeiro. O mais
interessante sobre esta história é que ela acabou virando uma seqüência
do Girassol e a Lua muitos anos depois. A narrativa é muito semelhante,
muitos enquadramentos são os mesmos. Foi uma semente que ficou esperando
sua hora de brotar
.

Nós queríamos participar de tudo que tinha relação com quadrinhos.
Nos inscrevemos num curso com o Luiz Gê em 1993, na Oficina Amácio Mazarope,
loucos pra desenhar mil histórias cheias de aventuras. Chegando lá, ninguém
tinha que desenhar nada, o curso era todo voltado pra narrativa, uso do
espaço e nós tínhamos que contar histórias de bolinhas de papel contact
preto pelas páginas sulfite dobradas ao meio. Na época, ficamos meio frustrados,
mas hoje sabemos a importância que aquelas aulas tiveram nas nossas páginas.
No final do colegial, veio a dúvida sobre o que fazer na faculdade. Sabíamos
o que queríamos fazer da vida - quadrinhos - mas ainda faltava um curso
mais especializado. Pensamos em ir pra Espanha, cogitamos estudar na Kubert
School, mas no final, escolhemos prestar Artes Plásticas no vestibular
pra ver no que dava. Foi a melhor coisa que podíamos ter feito e aconteceu
da melhor forma possível. O Fábio entrou na FAAP e eu entrei na ECA. O
mesmo curso, mas com abordagens completamente diferentes e, o mais importante,
com um público completamente diferente
.

10 Pãezinhos: FanzineA
faculdade ampliou nosso mundo e conhecemos mais gente interessada em Quadrinhos,
com vontade de produzir. Fizemos então nosso segundo fanzine, o Ícones,
com mais 3 amigos - João Prado, Daniel Vardi e Thiago Micalopolus - e
cada um contava a sua história. Na maioria, super-heróis, um reflexo do
que a gente gostava de ler e do que fazia sucesso no início da década
de 90. Era a época da Image, do Akira, Spawn e Jim Lee. A minha história
era de ficção científica, a do Fábio era de fantasia, mas não tinha como
fugir da força avassaladora das mudanças dos tempos. Pra nossa sorte,
também era a época em que surgiu o Sin City e o Hellboy e vimos que nem
tudo precisava brilhar metalizado e ter a melhor cor feita no computador.
Foi aí também que descobrimos como é difícil manter o ritmo de produção
de uma revista e o Ícones durou apenas 3 edições
.

Em 1994 e 1995, aconteceram dois eventos que nos aproximaram muito
do sonho de fazer quadrinhos, pois envolviam profissionais do ramo, nomes
que conhecíamos, ídolos da nossa infância. O primeiro evento na Escola
Panamericana de Artes. Assistimos uma palestra com Laerte, Angeli e Glauco,
los três amigos ali na nossa frente, em carne e osso. E oficinas com os
americanos Jules Feifer e Howard Chaykin. Vimos o trabalho de muitos outros
jovens, vários estilos, muita gente boa, mas o que mais marcou é que aquela
foi a primeira vez que alguém apontou defeitos reais nas nossas páginas,
coisas que precisávamos melhorar
.

10 Pãezinhos: FanzineO
segundo evento foi na FAU, em 95, organizado pelo estúdio ArtComics, responsável
por agenciar artistas que trabalham para o mercado americano de quadrinhos.
Ali estava a porta de entrada que todo moleque sonha em ter. Os desenhistas
de sucesso que admirávamos e víamos nas revistas que comprávamos na banca
- como o Roger Cruz e o Deodato - estavam ali pra nos dar dicas e conselhos.
Além disso, o Hélcio de Carvalho e o David Campiti estavam analisando
o trabalho de cada um, falando o que precisava melhorar, o que era preciso
pra que nós pudéssemos desenhar um gibi de super-heróis. Mais uma vez,
pessoas estavam apontando defeitos, mostrando o que não funcionava e o
que estava inconsistente no nosso trabalho
.

Fizemos várias páginas de testes, copiamos os estilos que estavam na
moda, queríamos de qualquer jeito desenhar super-heróis, mas fracassamos.
Nunca ficava bom o suficiente, as nossas páginas eram vazias de conteúdo
e isso refletia na arte sem personalidade. Fomos perdendo a energia e
acabamos sendo consumidos pelos compromissos da faculdade e de trabalho
.

10 Pãezinhos: FanzineEm
1996, trabalhamos na Bienal de Arte de São Paulo e, mais uma vez, conhecemos
muita gente diferente, mais velhos e mais novos, com interesses diversos
e, por mais incrível que pudesse parecer, tinha gente que gostava de quadrinhos
no meio daquele povo sério que queria estudar e discutir arte. Não desenhamos
nada durante um ano, mas conversamos sobre muitas coisas, estudamos artistas
de vários países e épocas diferentes. Demos monitorias para crianças,
velhinhos e executivos e tínhamos que contar as mesmas histórias para
públicos totalmente diferentes. Foi também em 1996 que, numa viagem de
férias para a Califórnia, conhecemos por acaso um moleque que gostava
de quadrinhos e tinha um roteiro de uma história medieval. Seu nome era
Shane Amaya e a história se chamava Roland (Rolando, em português). Começamos
a produzir o Rolando naquele mesmo ano, mas em seis meses o Fábio só desenhou
6 páginas e eu colori 3 (eu era o colorista original da série). Com a
faculdade, Bienal, aulas e todas as outras coisas que estavam acontecendo,
o nosso tempo e nossa energia voltada para os Quadrinhos eram muito escassos,
mas isso estava prestes a mudar
.

Quando o ano acabou, a Bienal acabou, pedi demissão de um emprego e
fui despedido de outro e nós decidimos não pegar mais trabalhos e nos
concentrar na produção do Rolando, que era a nossa porta de entrada para
o mercado norte-americano. Mas toda essa vontade e determinação acabaram
não cabendo em uma só produção, principalmente na história de outra pessoa.
Queríamos contar histórias, nossas histórias e queríamos mostrar nosso
trabalho para os amigos. Precisávamos de alguma válvula de escape, uma
forma de alimentar essa nossa vontade de contar histórias, algo pequeno
que desse pra fazer conjuntamente com o Roland. Não precisávamos de uma
refeição completa, de um almoço ou um jantar. Queríamos somente um café
da manhã
.

Gabriel Bá

10 Pãezinhos: Fanzine10 Pãezinhos: Fanzine

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