A América Latina na lista dos 100 Quadrinhos do Século
Finalmente,
vários veículos de comunicação trouxeram informações que permitem fazer
uma leitura latino-americana da chamada Lista dos 100 Quadrinhos do
Século XX do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora,
o FIBDA 2004, sem dúvida, um dos mais importantes salões do traço
de língua portuguesa.
Com uma elegância que merece registro, a revista diária Página 12,
de Buenos Aires, colocou a questão exatamente nestes termos: da América
Latina, só argentinos entraram na chamada lista dos 100 Quadrinhos do
Século XX.
A lista de argentinos teve à frente a Mafalda, mas incluiu também Mort
Cinder, de Albert Breccia e Hector Oesterheld, a série que mistura
humor e ação detetivesca Alack
Sinner, de Carlos Sampayo e José Muñoz, e a surpresa, até para
os argentinos: Cisco Kid, de José Luis Salinas, que o mundo conheceu
através da distribuição da King Features e por pelo menos 24 adaptações
para o cinema.
O caso de Cisco Kid, uma adaptação de romance para aventuras em
quadrinhos, é exemplar para explicar porque a série argentina Patoruzu,
artisticamente muito superior à boa série de Salinas, ou os brasileiros
e os mexicanos, por exemplo, não foram incluídos na lista. Foi a distribuição
mundial que pôs Cisco Kid - e vários outros personagens - em destaque.
A despeito da honestidade do propósito do comissário do salão - Paiva
Boléo - a "escolha" teve inúmeros problemas, o que acabou se refletindo
na exposição. Mas trouxe a dica: mesmo pessoas gabaritadas, como as que
foram escolhidas para compor o júri, acabam não retendo na memória séries
que não são vistas.
Antes de passar à análise contundente do FIBDA 2004, um registro
importante deve ser feito: uma das pessoas convidadas por Paiva Boléo
e que contribuiu para a escolha de 100 e não dos 100 quadrinhos do mundo
foi Tom Spurgoen, editor do Comics
Reporter, portal de quadrinhos que informa sobre muitas coisas
além dos comics americanos, e tem uma grande respeitabilidade.
Spurgeon se deu ao trabalho de escrever um longo artigo,
no qual explicou seus critérios pessoais e o que tinha sido pedido por
Paiva Boléo. Pelo texto, fica claro que os erros não foram, de nenhuma
forma, associados a algum objetivo pouco elogiável.
Então, onde foi que Amadora apresentou problemas?
Possivelmente as melhores respostas estão num artigo escrito e publicado
onde mais há apoio ao FIBDA: no jornal local Notícias da Amadora.
Num artigo
escrito por Pedro Mota, chamado As 100 BD's do Século XX foi uma má
opção do festival, o colaborador de várias edições do FIBDA
aponta:
"A pouca credibilidade do ambicioso projecto das 100 BDs do Século
XX veio a ser confirmada com a dificuldade em arranjar originais representativos,
e em assegurar a vinda de autores. A exposição que visava concretizar
o projecto não corresponde ao perfil (e, não duvido, empenho) do comissário
Paiva Boléo, nem ao prestígio do Festival".
Para além deste, Pedro Mota aponta outros 49 motivos do insucesso do festival,
e acreditamos que seja um guia sobre o qual se pode aprender detalhes
preciosos do que não fazer na realização de um festival de quadrinhos.
Tomara que as lições de Amadora sirvam a todos, especialmente,
ao próprio salão, tão importante para a respeitabilidade na Europa dos
quadrinhos de expressão portuguesa.
E, para concluir, não deixe de conferir o especial do jornal mexicano
El Universal, que (mais uma vez) encontrou uma ótima forma de expor
o assunto aos mais e aos menos iniciados. O jornal publicou não só publicou
a lista e uma fotogaleria dos dez mais importantes entre os 100 escolhidos,
como está permitindo aos internautas expressar suas opiniões sobre os
mesmos. Até porque - acreditamos - ninguém neste mundo conseguiria fazer
uma lista de 100 quadrinhos do século XX que fosse unanimidade.
Confira o especial
do El Universal.