"A
Saga do Tio Patinhas é o mais humano dos dramas, o mais realista dos
contos e a mais precisa biografia já dedicada a um personagem antropomórfico
- uma obra-prima Disney para colecionadores de todo o mundo e de
todas as idades".

O texto acima, transcrito da quarta capa das três edições da coleção A
Saga do Tio Patinhas (Editora
Abril, 2007), é talvez a melhor apresentação já feita para esse
clássico moderno que narra a origem e ascensão do pato mais rico do mundo.

Publicada originalmente pela editora dinamarquesa Egmont como uma
minissérie em 12 capítulos, em 1992, The Life and Times of Scrooge
McDuck (nome original) angariou prêmios em diversos países (incluindo
o Brasil), ganhou várias republicações em álbuns de luxo e alçou ao estrelato
- e à imortalidade no panteão dos mestres Disney - o quadrinhista
Keno
Don Rosa, escritor e desenhista da série.

Mais
do que isso, a importância dessa obra para a turma de Patópolis é comparada
ao que Carl Barks realizou com esses personagens. Não por acaso, a série
foi supervisionada pelo saudoso quadrinhista e desenvolvida com base nas
histórias em quadrinhos que ele escreveu e desenhou para a Família Pato
entre os anos 1940 e 1960.

A Saga do Tio Patinhas - e, por conseguinte, tudo o que Don Rosa
tem produzido desde então sobre a Família Pato, relacionado ou não com
aquela obra - é um dos principais responsáveis pela manutenção do interesse
dos leitores antigos e novos pelo que é criado atualmente nos quadrinhos
Disney.

E não seria para menos. Traçar cronologicamente a vida de um personagem
Disney, a partir de seu nascimento (não no sentido editorial),
conferindo-lhe humanidade, envolvendo-o em dramas pessoais e familiares,
situando-o em contextos históricos - com direito a contracenar com personagens
reais - e citando visual e textualmente passagens de HQs produzidas por
Carl Barks já foi algo bastante inusitado.

Somando
isso à qualidade da narrativa e a muito humor, tem-se o porquê de tanto
sucesso.

Nada melhor, entretanto, que ler A Saga do Tio Patinhas para entender
a razão pela qual a série é considerada não apenas uma obra-prima "disneyana",
mas uma das melhores HQs de todos os tempos.

Lançada tardiamente no Brasil pela Editora Abril em 2003, dividida
entre os dois volumes de 40
Anos da Revista Tio Patinhas, a série voltou às bancas do País
em maio de 2007, desta vez em três edições luxuosas no formato americano
e estampando seu nome no título.

O excelente acabamento gráfico e os textos bastante elucidativos sobre
cada capítulo, além da inclusão dos seis novos episódios produzidos nos
anos posteriores à série original e incorporados a sua cronologia, destoam
apenas do fato de que não há uma única menção a Don Rosa em qualquer um
desses três volumes.

Isso
aconteceu como conseqüência do recente entrevero que envolveu
o quadrinhista e a Editora Abril, tornado público pelo Universo
HQ quando Don Rosa entrou em contato com o site e expôs o assunto.

Há poucos dias, o UHQ contatou o autor para colher um depoimento
sobre os 15 anos da maior saga protagonizada pelo velho pato "quaquilionário".
Perguntado sobre se existe a possibilidade de serem produzidos novos capítulos
da série, Don Rosa respondeu:

"É improvável que eu produza algum trabalho adicional da saga ou qualquer
outro, e o argumento para isso é meu desgosto e frustração com as editoras
licenciadas da Disney que não demonstram nenhuma consideração às
pessoas que criam esses trabalhos, como eu." (...)

Se o desabafo significa que Keno Don Rosa pretende aposentar-se dos quadrinhos
Disney, ainda é cedo para dizer. Mas, caso isso aconteça, A
Saga do Tio Patinhas é um legado que fará seu nome ainda ser lembrado
por muitas gerações.