A trajetória da Editora Abril em novo livro da Opera Graphica
A
história das três primeiras décadas da Editora Abril, a partir
da visão e da vida profissional do jornalista e advogado Cláudio de Souza
que, em quase 25 anos, foi um de seus mais destacados colaboradores.
Este é o enfoque do livro O Homem-Abril - Cláudio de Souza e a história
da maior editora brasileira de revistas (formato 16 x 23 cm, 304 páginas,
sendo 32 em cores, R$ 49,00), do jornalista Gonçalo Junior, que a Opera
Graphica acaba de lançar.
Entre março de 1951 e setembro de 1975, Cláudio de Souza passou por quase
todos os departamentos da empresa. Por oito anos, trabalhou como assessor
pessoal de seu fundador, o americano Victor Civita (1907-1990) - ajudou-o
a falar corretamente o português, a inspecionar as bancas, organizou a
distribuidora Dinap e fez o que sabia melhor que ninguém: criou
incontáveis revistas que ajudaram a transformar a Abril na maior
empresa do ramo na América Latina.
Apaixonado por quadrinhos, Cláudio de Souza lançou gibis que existem ainda
há 30, 40, 50 anos, como Mickey, Zé Carioca, Disney Especial, Mônica,
Cebolinha e muitos outros. Entre 1971 e 1974, à frente do Departamento
de Publicações Infanto-Juvenis da editora, praticamente triplicou a tiragem
mensal das revistas, que pulou de 1,4 milhões para 4 milhões. Fundou ainda
o Centro de Criação, para formar desenhistas e roteiristas.
Entre suas outras realizações na área de publicações, destacaram-se os
Manuais Disney, cuja primeira edição de Escoteiros Mirins
vendeu 500 mil exemplares. Antes disso, envolveu-se diretamente com os
lançamentos de Capricho, Cláudia, InTerValo e fundou, praticamente
sozinho, em 1970, a revista Placar, cujo título foi sugestão sua
ainda em 1952.
Cláudio tomou para si o sonho de Civita de fazer da Abril uma grande
editora. Trabalhou até catorze horas por dia, sem nunca perder o entusiasmo
e colocou seu nome no alto do expediente das revistas do grupo. Fez também
trabalhos indigestos como demitir funcionários.
Para a história da editora, porém, ele se transformou num dos milhares
de anônimos que, durante muito tempo, sacrificaram-se com salários baixos
e muitos esforços para construção de um projeto empresarial.
Gonçalo faz revelações surpreendentes. Como o fato de Victor Civita permanecer
no anonimato por dez anos, uma vez que era estrangeiro e não podia ser
dono de uma empresa de comunicação. Revela como os fascículos ajudaram
a Abril a se tornar uma grande editora e dá detalhes de como o
grupo americano Time-Life quase conseguiu convencer Civita a criar
um canal de TV em São Paulo - ele, então, sugeriu que procurasse seu amigo,
Roberto Marinho.
O Homem-Abril chegou a ser anunciado entre 2001 e 2002, mas o autor
preferiu adiar o lançamento, uma vez que seu propósito era ser um complemento
de A Guerra dos Gibis, publicado em 2004 pela Companhia das
Letras - e considerado o mais profundo trabalho já realizado sobre
censura e a formação do mercado de revistas em quadrinhos do Brasil.
Segundo o autor, o livro procurou principalmente recuperar, como pano
de fundo, o surgimento da imprensa de revistas em São Paulo. "Embora fale
das relações da Abril com o regime militar e destaque documentos
encontrados no arquivo do Deops, minha preocupação foi cobrir o
período em que o editor trabalhou lá", explica Gonçalo.
"Longe da pretensão de contar tudo sobre a Abril, creio que deixo
pistas interessantes para que outros pesquisadores venham a desenvolver
trabalhos complementares sobre a editora", acrescenta ele.
A tarde de autógrafos de lançamento do livro acontece no sábado, 17 de
dezembro, a partir das 15h, na Comix
Book Shop (Alameda Jaú, 1998 - São Paulo/SP - Telefone 0XX11-3088-9116).