Alan Moore comenta declarações de Frank Miller sobre Ocuppy Wall Street
Primeiro, Frank Miller criticou duramente os manifestantes do Ocuppy Wall Street. Depois, foi a vez de outro consagrado autor de quadrinhos, Alan Moore, comentar o movimento.
Devido à opinião conflitante entre os dois escritores, o site Honest Publishing conseguiu uma entrevista com Moore. Uma das perguntas foi justamente sobre a opinião dele quanto à declaração de Miller.
"Mal vi os trabalhos de Frank Miller nos últimos 20 anos. Achei Sin City tão misógino e 300 de Esparta equivocado e homofóbico. Acho que o trabalho dele tem sido de uma sensibilidade bastante desagradável, há bastante tempo", analisou Alan Moore. "Ouvi falar desses últimos desabafos sobre o movimento e é o que eu esperava dele. Sempre me pareceu que a maior parte da indústria de quadrinhos, politicamente, é de centro-direita. Acho que seria correto dizer que eu e Frank Miller temos visões opostas sobre todo o tipo de coisas e certamente sobre o movimento Ocuppy."
Para o autor, o movimento é feito por pessoas comuns exigindo direitos que sempre deveriam ter sido delas. "Não imagino um motivo de a população ter que ficar parada ao ver uma redução brusca nos padrões de vida, possivelmente por algumas gerações, enquanto as pessoas que causaram isso estão sendo recompensadas. Elas não estão sendo punidas, pois são grandes demais para falhar", explica.
"Acho que o movimento Ocuppy é, de certa maneira, as pessoas dizendo que elas deveriam ser aqueles a decidir quem é grande demais. É um grito de indignação moral completamente justificado e parece estar sendo conduzido de maneira inteligente e não violenta. Essa é, provavelmente, outra razão pela qual Frank Miller não está satisfeito. Tenho certeza que, se fossem um grupo de jovens sociopatas, com a máscara do Batman em seus rostos, ele estaria a favor. Definitivamente, temos que concordar em discordar nesse caso", completou.
Sobre o atual sistema político, Moore também não poupou críticas. Para ele, tudo precisa mudar. "Precisamos rever a maneira que pensamos o dinheiro e a forma sobre quem comanda as coisas. Como um anarquista, acredito que o poder deve ser dado ao povo, pessoas cujas vidas estão sendo afetadas. Não é bom que um grupo de pessoas controle os nossos destinos. O único motivo de eles terem poder é porque controlam a circulação de dinheiro e não possuem autoridade moral".
Na mesma entrevista, Alan Moore falou sobre quadrinhos e livros estarem migrando para o formato digital.
"Tenho uma abordagem bastante arcaica sobre artefatos, gosto de segurá-los nas minhas mãos. Meu contato com tecnologia é muito pouco e a minha casa é cheia de livros. Jamais preferiria tê-los dentro de um Kindle (leitor de e-books da Amazon), porque os livros físicos têm valor como artefatos. Tenho primeiras edições com lindas ilustrações e livros autografados. Isso faz parte da mística dos livros, para mim. Algumas pessoas podem achar que isso não é relevante, mas eu acho que nossa ligação emocional com um objeto faz parte de tudo isso", comparou.
Entretanto, o escritor afirma não ter nada contra o formato digital, apesar de não achar que os livros físicos estejam à beira da extinção por causa dos novos produtos tecnológicos.