Alan Moore comenta movimento Ocuppy Wall Street
Depois de Frank Miller dar uma declaração sobre o movimento Ocuppy Wall Street, chegou a vez de outro grande escritor dar sua opinião sobre as manifestações que estão acontecendo nos últimos meses - Alan Moore.
Dentre os clássicos trabalhos de Moore estão Watchmen,
Do
Inferno e V
de Vingança. Todas as três obras chegaram a ganhar adaptações cinematográficas,
sendo que a última apresentava a história de um misterioso anarquista se rebelando
contra um sistema de governo opressor que tomou conta do Reino Unido em uma
imaginária realidade distópica no ano de 1997. A graphic novel
foi publicada originalmente entre 1982 e 1983.
A máscara estilizada utilizada pelo anarquista em V de Vingança é baseada no rosto do inglês Guy Fawkes, que em 5 de novembro de 1605 tentou explodir o parlamento da Inglaterra e assassinar seus membros, junto com o rei Jaime I. O marcante design, associado ao tema central da graphic novel e a popularização da história depois de estrear nos cinemas, acabou fazendo com que a máscara ganhasse as ruas nos últimos tempos em diferentes manifestações populares ao redor de mundo e até mesmo no Brasil.
"Acho que, enquanto estava escrevendo a história, bem lá no fundo imaginei se não seria legal se aquelas ideias tivessem algum impacto. E quando vejo essa fantasia invadir o mundo real... é peculiar. Parece que esse personagem que criei há 30 anos escapou do reino da ficção", declarou Alan Moore ao jornal The Guardian.
"Aquele sorriso é tão assustador. Tentei usar a natureza enigmática desse sorriso
para efeito dramático. Podíamos mostrar uma imagem do personagem apenas parado
em pé, silencioso, com uma expressão que podia ser de alegria ou de
maneira mais sinistra. Ver máscaras com os manifestantes faz com que eles
se pareçam um único organismo, esse tal de 99% de que ouvimos tanto falar.
Nesse sentido é formidável, posso ver o motivo de estarem usando a máscara",
analisou.
Para o autor, isso transforma os protestos quase que em algo performático. "Parece uma ópera. Cria uma sensação de romance e drama. Quero dizer, as manifestações podem ser muito exigentes e desgastantes, e assim trazer certo desânimo. São coisas que precisam ser feitas, mas isso não significa que são tremendamente prazerosas. Acho apropriado que essa geração de manifestantes tenha transformado sua rebelião em algo que o público em geral possa se envolver com mais facilidade. Elas parecem gostar disso, e assim passam uma mensagem poderosa".
Os diretos sob a máscara pertencem à Time Warner, um dos maiores
conglomerados empresariais do mundo. Curiosamente, esse tipo de empresa é
um dos principais alvos do movimento Ocuppy Wall Street, o que não
deixa de ser irônico para o autor. "É cômico assistir a Time
Warner tentando se equilibrar nessa corda bamba. É embaraçoso ser
uma empresa que parece estar lucrando com um protesto contra grandes corporações.
Não é que eles querem estar associados com o movimento, mas também não querem
recusar o dinheiro que está entrando. Isso vai contra o instinto deles", afirmou.
Por fim, Alan Moore também comentou o movimento em si. "No momento, os manifestantes
parecem fazer um movimento com clareza moral, protestando contra o estado
ridículo causado por nossos bancos, empresas e líderes políticos. Provavelmente,
seria melhor se as autoridades aceitassem que esta é uma nova situação, que
a história está sendo escrita. História é algo que acontece em ondas, geralmente
é melhor seguir a corrente e não nadar contra elas. Espero que os líderes
mundiais percebam isso", analisou.
"O último capítulo de V de Vingança se chama Vox Populi. A voz do povo. E acho que, se a máscara significa algo no contexto atual, é isso. É o povo, essa entidade misteriosa que com frequência é evocada", finalizou.