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ANGEL CLAW

14 agosto 2008

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MATERIAL IMPORTADO

ANGEL CLAW
Título: ANGEL CLAW (NBM)
- Edição especial

Autores: Alejandro Jodorowsky (texto) e Moebius (arte).

Preço: US$ 19,95

Número de páginas: 72

Data de lançamento: 1996

Sinopse: "O funeral de meu pai durou horas", diz a protagonista de Angel Claw, logo no começo. "Meu pai insistiu em deixar o caixão para dançar com suas viúvas. Foram precisos seis guardas para superar sua resistência epiléptica e selar a tampa. Em vez de terra, eles encheram a cova com corpo de viúvas."

Depois do sepultamento, quando está voltando para casa, a personagem é atraída por um cheiro forte de esperma - e entra em uma jornada de descoberta e libertação sexual sem precedentes.

Positivo/Negativo: Angel claw (ou Griffes d'ange, no original francês da Les Humanoïdes Associés) é um álbum inédito no Brasil.

Mas, nos últimos anos, a obra do chileno Alejandro Jodorowsky, até pouco tempo quase inédita, ganhou bastante exposição no país. A Planeta lançou o romance Quando Teresa brigou com Deus, seus filmes passaram em sessões malditas, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou uma importante retrospectiva cinematográfica em três capitais, sempre com a presença do próprio criador, e, na seara dos quadrinhos, a Conrad lançou dois volumes de Bórgia (com Milo Manara) e a Devir pôs nas livrarias dois arcos (de três álbuns cada um) de Incal - um deles justamente com a arte de Moebius.

Mesmo que não seja um panorama amplo de toda a produção de Jodorowsky, já é um volume razoável, que permite que se tenha uma visão geral das intenções do autor, dos padrões que se repetem.

ANGEL CLAWAssim,
fica mais do que claro o quanto o criador está interessado na transformação
do ser humano, que ele crê numa melhora e, mais do que isso, em uma grande
libertação da humanidade.

Para isso, mistura literatura, mitologia, cinema, psicologia barata, quadrinhos e tarô com uma dose forte de teatro. O resultado é uma disciplina que chama de psicomagia - uma charlatanice que tem a magnitude de um grande espetáculo e, às vezes, dá a impressão de não passar de um grande circo com mitos no picadeiro.

De certa forma, tudo que Jodorowsky cria é perpassado pelos preceitos da psicomagia. O Incal é um bom exemplo: mostra a grande jornada de John Difool, personagem que equivale à carta 0 do tarô, O Louco ou O Tolo, rumo à carta 21, O Mundo - e esse trajeto corresponde à iluminação plena do homem.

Ao rever a obra de Jodorowsky disponível no Brasil, não é difícil imaginar os rumos que o criador dá a este álbum sobre sexo, lançado originalmente em meados dos anos de 1990.

Angel claw não é uma propriamente história em quadrinhos. É um conto escrito por um roteirista (mas também escritor e prosista) e ilustrado, com quadros seqüenciais de página inteira, por um dos grandes artistas da arte seqüencial.

As páginas pares, à esquerda, sempre têm um trecho do conto e uma imagem pequena, pouco mais que um selo. Nas ímpares, está o trabalho de Moebius em toda a sua plenitude.

A trama, como não poderia deixar de ser, não tem nada de direta. É cheia de símbolos, de odores, de provações de rumo. A protagonista busca a liberdade, mas conquistá-la não é fichinha. Exige autoconhecimento do corpo, passagem pela submissão, entrega, resistência e aceitação da dor.

A própria cena inicial, com o enterro do pai, é profundamente simbólica. O pai morto (e mais vivo que nunca) só se aquieta com suas amantes. Mesmo assim, não quer ficar para trás, e provoca a própria filha, não permitindo, mesmo passadas horas, que ela se vá.

A questão do funeral é quem de fato morreu e quem viveu: se o pai (agora coberto de amantes) ou a filhinha de papai, uma Electra tardia que se cola ao primeiro cheiro de homem que sente.

Das pranchas de Moebius vêm mais metáforas: a cada página, a filha é outra mulher. Às vezes loira, noutras castanha. É baixinha e gordinha - e, logo após, alta, voluptuosa, carnuda. Ou então magra e elegante, como uma modelo. De dominatrix, passa a freirinha. Chega a ganhar um pênis transplantado. É nas múltiplas experiências, com todo tipo de coisa, com toda espécie de gente, que Angel Claw evolui em sua autodescoberta.

É provável que olhos mais interessados no erotismo não curtam as implicações metafóricas e metafísicas do álbum. Lê-lo como mera pornografia bizarra é, contudo, uma opção.

Moebius fornece matéria-prima para toda sorte de devaneios: chuva de menstruação, pênis em formato de míssil, homossexualismo, coprofagia e um impressionante close em uma vagina lacrada com anéis de metal. Mesmo se fosse uma experiência estética destituída de enredo, Angel Claw seria uma obra monumental.

Classificação:
- Eduardo Nasi

 



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