ANGEL CLAW
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Autores: Alejandro Jodorowsky (texto) e Moebius (arte). Preço: US$ 19,95 Número de páginas: 72 Data de lançamento: 1996 Sinopse: "O funeral de meu pai durou horas", diz a protagonista de Angel Claw, logo no começo. "Meu pai insistiu em deixar o caixão para dançar com suas viúvas. Foram precisos seis guardas para superar sua resistência epiléptica e selar a tampa. Em vez de terra, eles encheram a cova com corpo de viúvas." Depois do sepultamento, quando está voltando para casa, a personagem é atraída por um cheiro forte de esperma - e entra em uma jornada de descoberta e libertação sexual sem precedentes. Positivo/Negativo: Angel claw (ou Griffes d'ange, no original francês da Les Humanoïdes Associés) é um álbum inédito no Brasil. Mas, nos últimos anos, a obra do chileno Alejandro Jodorowsky, até pouco tempo quase inédita, ganhou bastante exposição no país. A Planeta lançou o romance Quando Teresa brigou com Deus, seus filmes passaram em sessões malditas, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou uma importante retrospectiva cinematográfica em três capitais, sempre com a presença do próprio criador, e, na seara dos quadrinhos, a Conrad lançou dois volumes de Bórgia (com Milo Manara) e a Devir pôs nas livrarias dois arcos (de três álbuns cada um) de Incal - um deles justamente com a arte de Moebius. Mesmo que não seja um panorama amplo de toda a produção de Jodorowsky, já é um volume razoável, que permite que se tenha uma visão geral das intenções do autor, dos padrões que se repetem. Assim, Para isso, mistura literatura, mitologia, cinema, psicologia barata, quadrinhos e tarô com uma dose forte de teatro. O resultado é uma disciplina que chama de psicomagia - uma charlatanice que tem a magnitude de um grande espetáculo e, às vezes, dá a impressão de não passar de um grande circo com mitos no picadeiro. De certa forma, tudo que Jodorowsky cria é perpassado pelos preceitos da psicomagia. O Incal é um bom exemplo: mostra a grande jornada de John Difool, personagem que equivale à carta 0 do tarô, O Louco ou O Tolo, rumo à carta 21, O Mundo - e esse trajeto corresponde à iluminação plena do homem. Ao rever a obra de Jodorowsky disponível no Brasil, não é difícil imaginar os rumos que o criador dá a este álbum sobre sexo, lançado originalmente em meados dos anos de 1990. Angel claw não é uma propriamente história em quadrinhos. É um conto escrito por um roteirista (mas também escritor e prosista) e ilustrado, com quadros seqüenciais de página inteira, por um dos grandes artistas da arte seqüencial. As páginas pares, à esquerda, sempre têm um trecho do conto e uma imagem pequena, pouco mais que um selo. Nas ímpares, está o trabalho de Moebius em toda a sua plenitude. A trama, como não poderia deixar de ser, não tem nada de direta. É cheia de símbolos, de odores, de provações de rumo. A protagonista busca a liberdade, mas conquistá-la não é fichinha. Exige autoconhecimento do corpo, passagem pela submissão, entrega, resistência e aceitação da dor. A própria cena inicial, com o enterro do pai, é profundamente simbólica. O pai morto (e mais vivo que nunca) só se aquieta com suas amantes. Mesmo assim, não quer ficar para trás, e provoca a própria filha, não permitindo, mesmo passadas horas, que ela se vá. A questão do funeral é quem de fato morreu e quem viveu: se o pai (agora coberto de amantes) ou a filhinha de papai, uma Electra tardia que se cola ao primeiro cheiro de homem que sente. Das pranchas de Moebius vêm mais metáforas: a cada página, a filha é outra mulher. Às vezes loira, noutras castanha. É baixinha e gordinha - e, logo após, alta, voluptuosa, carnuda. Ou então magra e elegante, como uma modelo. De dominatrix, passa a freirinha. Chega a ganhar um pênis transplantado. É nas múltiplas experiências, com todo tipo de coisa, com toda espécie de gente, que Angel Claw evolui em sua autodescoberta. É provável que olhos mais interessados no erotismo não curtam as implicações metafóricas e metafísicas do álbum. Lê-lo como mera pornografia bizarra é, contudo, uma opção. Moebius fornece matéria-prima para toda sorte de devaneios: chuva de menstruação, pênis em formato de míssil, homossexualismo, coprofagia e um impressionante close em uma vagina lacrada com anéis de metal. Mesmo se fosse uma experiência estética destituída de enredo, Angel Claw seria uma obra monumental. Classificação: |
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