As controvérsias sobre distribuição de gibis nos Estados Unidos
Quando
surgiu em meados dos anos 1970 e deu início a uma explosão de comics
shops nos Estados Unidos, o mercado direto de quadrinhos naquele país
tirou os gibis das bancas de revistas e virou um monopólio da distribuidora
Diamond.
Não raro, há publicações, principalmente de editoras pequenas, que são
recusadas pela distribuidora por motivos pouco ou nada convincentes, e
sofrem agruras para conseguir, quando muito, chegar minguadas às mãos
dos leitores, amargando prejuízos com encalhe.
O mercado direto de quadrinhos nos EUA é, atualmente, uma espécie de simbiose
entre lojas de quadrinhos e editoras, no qual Marvel e DC
dão as cartas. Tanto que as maxisséries Guerra Civil e 52
foram a salvação
das vendas nas comics shops norte-americanas no ano passado.
Mesmo assim, muitas gibiterias fecharam as portas nesse período. A respeito
disso, o roteirista Matt Fraction (Punisher: War Journal) concedeu
uma contundente entrevista em vídeo
ao jornal GoUpstate, durante o último Heroes Con, evento
sobre quadrinhos realizado no mês passado na cidade de Charlotte, Estados
Unidos.
Apesar de produzir HQs autorais, Fraction faz trabalhos para a Marvel,
mas não poupou a "Casa das Idéias" e outras editoras em suas críticas.
"O mercado direto é um sistema fechado, e não é feito para acomodar os
leitores novos", afirmou o quadrinhista.
Para Fraction, as comics shops, bem como a Diamond, precisam
perceber que os quadrinhos de super-heróis não são os únicos nem os mais
populares entre os títulos publicados nos Estados Unidos e no resto do
mundo. "Veja que na (loja de departamentos) Barnes & Noble há corredores
e mais corredores de estantes com mangás e títulos da editora Top Shelf.
E as seções de gibis da Marvel e da DC estão cada vez menores".
Enquanto isso, a MacGuffin, uma das maiores (em espaço físico e
número de produtos ofertados) comics shops dos Estados Unidos,
encerrou suas atividades no último mês de maio. Coincidência ou não, cerca
de 90% do mix da loja, cuja especialidade eram graphic novels -
incluindo títulos de linha encadernados -, era composto por quadrinhos
de super-heróis.
Mesmo os mangás, que já não despertam dúvidas quanto ao seu sucesso
e importância no mercado de quadrinhos norte-americanos, ainda não
têm nas prateleiras de comics shops o mesmo espaço que os gibis
de Marvel e DC.
"A festa já começou, a revolução já está aqui, mas nós ainda estamos usando
nossas capas e cuecas", continuou Fraction. "Autores e editoras de gibis
precisam olhar para fora do mainstream e entender como a indústria
pode sobreviver melhor".
A opinião de Matt Fraction está longe de ser isolada. Em tempos de internet,
cada vez mais as idéias contrárias ao mercado direto começaram a ser disseminadas
por fãs de quadrinhos nos fóruns e listas de discussões norte-americanos.
Mas até mesmo outros artistas, mais famosos e respeitados que Fraction,
estão na fileira dos descontentes. Em
2001, Frank Miller (Batman - Cavaleiro das Trevas) palestrou
sobre o assunto na abertura do evento de entrega das premiações do Harvey
Awards e saiu-se com esta: "O mercado direto é tão saudável e cordial
quanto uma baleia encalhada. Assim, não há procura por novos leitores".
Naquele mesmo ano, em uma entrevista concedida
ao Universo HQ, Mark Waid (Quarteto Fantástico) afirmou ter
esperanças de que os quadrinhos sejam mais uma vez distribuídos em massa,
ou seja, nas bancas de revistas tão comuns no Brasil. "Crianças amam quadrinhos.
Elas apenas não sabem onde encontrá-los nos Estados Unidos. Se elas pudessem
encontrar os gibis, iriam comprar, e todos ficaríamos melhores".
À época na CrossGen, Waid disse que a editora tinha "muitos planos
altamente secretos para distribuição alternativa".
Nesse ponto, é possível adicionar mais um entre os diversos motivos, expostos
como suposições ou "verdades absolutas", sobre a queda das vendas de quadrinhos
tradicionais nos Estados Unidos. O mercado direto seria um dos grandes
culpados?
Seja como for, isso é assunto para outra longa e acalorada discussão.