As marcantes influências dos quadrinhos no mundo real
Não
é raro algum fã de quadrinhos afirmar que sua vida foi afetada por um
personagem. Seja pelo que leu em uma HQ ou mesmo por todo o conjunto de
características de personalidade que formam uma criação dos gibis, há
leitores que, de uma forma ou de outra, foram transformados ou moldados
por seu ídolo de tinta e papel.
Mas as influências dos personagens de quadrinhos podem ser muito mais
marcantes e atingir a sociedade em geral, não apenas um indivíduo.
É o que expõe um artigo escrito por Mark Juddery, publicado na nova edição
da revista norte-americana Mental Floss. O texto cita cinco casos
de interferência tão direta quanto positiva desses seres fictícios no
mundo real.
Segundo Juddery, o Super-Homem foi decisivo na luta da sociedade contra
a Ku Klux Klan, a famosa e cruel seita racista dos Estados Unidos. No
final dos anos 1940, a KKK estava em ascensão e um dos roteiristas do
seriado radiofônico do Homem de Aço resolveu colocar o herói em uma cruzada
contra o preconceito racial.
O roteirista se infiltrou na seita, aprendeu os códigos, sinais, modus
operandi e outros detalhes até então secretos e os divulgou em um
episódio de The Adventures of Superman, repetindo o tema em outros
capítulos. O resultado foi a desestabilização da Ku Klux Klan, que diminuiu
consideravelmente suas ações e reduziu o recrutamento a zero.
O Rei do Crime, arquiinimigo do Homem-Aranha e do Demolidor, também entra
na lista.
Em uma edição da revista do "Amigão da Vizinhança", publicada em 1977,
o vilão lutou contra o herói e usou nele um bracelete de monitoramento.
Fora do gibi, um juiz do Novo México comprou a idéia e solicitou a criação
desse dispositivo que desde 1983 é usado em suspeitos que aguardam julgamento
ou como uma alternativa ao encarceramento em casos de crimes leves.
Até o Capitão Marvel Jr. tem algo a ver com um rebuliço, ou melhor, "rebolado"
na vida real. O lendário cantor Elvis Presley era fã do personagem e se
inspirou nele para compor o indefectível penteado consagrado como o mais
famoso estilo de cabelo do século passado, que encantou as mulheres em
todo o planeta e era imitado pelos homens.
O visual de super-herói que o astro do rock usava nos últimos anos de
carreira também seria inspirado no sidekick do Capitão Marvel.
E não apenas os super-heróis da Marvel e da DC figuram nesse
rol de influências. O marinheiro Popeye também faz parte dela, desde que
ajudou os Estados Unidos a sobreviver à Grande Depressão, a crise econômica
que eclodiu em 1929.
A superforça do personagem nunca havia sido explicada (na verdade, ele
esfregava a crista de uma galinha mágica para ficar forte), até que, em
1930, o governo dos Estados Unidos, que procurava um substituto - rico
em ferro - para a carne na alimentação da população naqueles tempos difíceis,
promoveu o espinafre nas tiras e nos desenhos animados do Popeye, fazendo-o
revelar o segredo de seu prodigioso poder.
Em pouco tempo, as crianças alçaram o espinafre ao terceiro lugar em sua
lista de alimentos preferidos, atrás apenas de peru assado e sorvete.
A iniciativa também tinha o objetivo de incentivar o uso de comida em
conserva nos quartéis militares, perfeita para estocar em emergências.
Finalizando a lista, o Pato Donald, que em 1949, 16 anos antes do holandês
Karl Kroyer criar o método das bolinhas de pingue-pongue para resgatar
navios naufragados, já havia feito isso na história The Sunken Yacht
(no Brasil, Quem nasceu pra tostão..., republicada em 2007 na revista
O melhor da Disney - As Obras Completas de Carl Barks - Volume 25,
da Editora Abril).
Mark Juddery poderia ter citado muito mais exemplos em seu texto, como
o de Flash Gordon e a minissaia e o design das naves nas tiras
do personagem - inspiração para, respectivamente, o estilista André Courrèges
e a agência espacial norte-americana Nasa.
Ainda assim, o artigo tem argumento suficiente para mostrar que, além
de diversão e cultura, os quadrinhos têm o poder de mudar o mundo.
É ler para crer.