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AÚ, O CAPOEIRISTA

14 agosto 2008

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AÚ, O CAPOEIRISTA
Título: AÚ, O CAPOEIRISTA (Papel A2) - Edição especial

Autor: Flávio Luiz (texto e arte).

Preço: R$ 48,00

Número de páginas: 48

Data de lançamento: Outubro de 2008

Sinopse: Picareta de marca maior, Armando Confusioni quer tomar para si o sobrado de Dona do Carmo no Pelourinho. Diante das recusas da velha baiana, seu grupo decide provocar um incêndio criminoso no imóvel.

Mas a francesa Nathalie Le Coq vê tudo - e vai precisar da ajuda do capoeirista Aú para escapar dos bandidos.

Positivo/Negativo: Aú, o capoeirista é um grande álbum: tem um roteiro empolgante, uma bela arte, uma narrativa ágil e um acabamento gráfico impecável.

Mesmo assim, foi vítima de uma das principais mazelas dos quadrinhos brasileiros: a falta de editores capacitados para trabalhar junto com os autores para garantir a qualidade da obra.

Editor, no caso, não é o sujeito que manda o álbum para a gráfica, cuida da vendas em livrarias e, no fim, fica com uma parte da renda.

Os quadrinhos brasileiros (e em especial) carecem de editores no sentido clássico da palavra. Trata-se de um sujeito que serve de interlocutor com o criador, capaz de ver qualidades e defeitos na obra, de opinar no processo criativo, de fazer de uma boa HQ uma obra-prima.

Nestas bandas em que os editores de quadrinhos estão acostumados em adaptar material pré-fabricado no exterior, um editor desse quilate é figura rara. Nesse papel, destaca-se na história recente o editor Sandro Lobo (Barba Negra, ex-Desiderata), que tem exercido a função com regularidade. E só.

Mas é de um editor assim que Aú, o capoeirista precisava.

Explica-se: em muitos aspectos, o quadrinhista baiano Flávio Luiz, criador de Jayne Mastodonte e desenhista de O Messias, fez um álbum admirável.

Aú, o capoeirista é uma divertida aventura que se passa no Pelourinho, no centro histórico de Salvador. Envolve uma fauna preciosa de personagens: mafiosos de terceiro escalão, uma francesinha atraente que vira refém, um herói com um mico a tiracolo e uma baiana tradicionalíssima. E muita, muita ação.

Um cenário desses é bombástico para levantar discussões sociológicas e nacionalistas.

Mas, despretensioso, o roteiro é marcado justamente pela naturalidade com que lida com esses aspectos. Não há nenhum espaço para debater a respeito das origens da capoeira, da natureza do crime, dos meandros do conflito racial ou de questões nacionais. São aspectos que simplesmente aparecem no texto para compor a trama - mas as eventuais leituras críticas ficam a cargo do leitor. O único partido que Aú, o capoeirista toma é o de entreter seu público.

A arte de Flávio Luiz reforça a idéia de que o álbum foi criado para divertir. Ela é pop e bastante iluminada. Nos desenhos, os personagens de traços caricaturais convivem com os belíssimos cenários que recriam o Pelourinho - e, em alguns momentos, outros cantos de Salvador.

Unindo texto e arte, a narrativa dá a prova final: é ágil e empolgante, mostrando cada cena sob ângulos bastante ricos.

Além disso, o acabamento gráfico tem jeitão europeu: capa dura, formato grande (21 x 29,5 cm) e impressão colorida em papel de boa qualidade. É como se fosse um lançamento de uma das gigantes do mercado franco-belga, uma Casterman, uma Dargaud, uma Les Humanoïdes Associés...

No fim das contas, tudo funciona.

No entanto, há dois aspectos em que o álbum fica devendo.

O primeiro é a colorização. Não que as cores não sejam bonitas e bem equilibradas ao longo de todo o álbum, pois elas são. O problema é que, em alguns momentos, os recursos digitais são usados sem parcimônia, dando espaço para dégradés bregas no cenário, que não combinam com o bom gosto que marca o álbum. É o caso, por exemplo, do vidro no fundo dos quadros 2, 3 e 4 da página 8 e da iluminação do fogo das páginas 18 e 19.

Outro problema, este bem mais grave, é a própria construção do personagem principal. Aú é simplesmente um capoeirista normal demais. É forte, batalhador e corajoso, mas faltam-lhe, ao menos nesta história, justificativas e vínculos emocionais para enfrentar tantos perigos em nome de uma turista francesa e de uma velha baiana.

Sem o estofo que um herói exige, Aú perde força como protagonista. Apesar de carismático, acaba engolido pela ação da trama e pelos divertidos personagens secundários.

Os dois tropeços são daqueles que nem sempre um criador consegue enxergar sozinho e atrapalham um álbum que chegou muito perto de um trabalho de primeira grandeza. E são justamente o tipo de coisa que um bom editor percebe com facilidade.

Mais do que isso: ele ajudaria o artista a tornar maior do que o mercado independente permite, angariando espaços de destaque em livrarias, levando a obra a ter mais destaque na imprensa e, por fim, negociando uma carreira internacional para o personagem. Ou seja, um editor competente colaboraria para dar a Flávio Luiz a visibilidade e a dimensão que o seu trabalho merece.

Enfim, faltou pouquíssimo para que deixasse de ser um trabalho caprichado para se tornar uma obra verdadeiramente primorosa.

A boa notícia é que, graças aos seus inúmeros acertos, os defeitos de ficam em segundo plano. Na prática, o álbum é um belo trabalho - e um dos grandes destaques dos quadrinhos nacionais deste ano.

Classificação:
- Eduardo Nasi

 



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