AÚ, O CAPOEIRISTA
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Autor: Flávio Luiz (texto e arte). Preço: R$ 48,00 Número de páginas: 48 Data de lançamento: Outubro de 2008 Sinopse: Picareta de marca maior, Armando Confusioni quer tomar para si o sobrado de Dona do Carmo no Pelourinho. Diante das recusas da velha baiana, seu grupo decide provocar um incêndio criminoso no imóvel. Mas a francesa Nathalie Le Coq vê tudo - e vai precisar da ajuda do capoeirista Aú para escapar dos bandidos. Positivo/Negativo: Aú, o capoeirista é um grande álbum: tem um roteiro empolgante, uma bela arte, uma narrativa ágil e um acabamento gráfico impecável. Mesmo assim, foi vítima de uma das principais mazelas dos quadrinhos brasileiros: a falta de editores capacitados para trabalhar junto com os autores para garantir a qualidade da obra. Editor, no caso, não é o sujeito que manda o álbum para a gráfica, cuida da vendas em livrarias e, no fim, fica com uma parte da renda. Os quadrinhos brasileiros (e Aú em especial) carecem de editores no sentido clássico da palavra. Trata-se de um sujeito que serve de interlocutor com o criador, capaz de ver qualidades e defeitos na obra, de opinar no processo criativo, de fazer de uma boa HQ uma obra-prima. Nestas bandas em que os editores de quadrinhos estão acostumados em adaptar material pré-fabricado no exterior, um editor desse quilate é figura rara. Nesse papel, destaca-se na história recente o editor Sandro Lobo (Barba Negra, ex-Desiderata), que tem exercido a função com regularidade. E só. Mas é de um editor assim que Aú, o capoeirista precisava. Explica-se: em muitos aspectos, o quadrinhista baiano Flávio Luiz, criador de Jayne Mastodonte e desenhista de O Messias, fez um álbum admirável. Aú, o capoeirista é uma divertida aventura que se passa no Pelourinho, no centro histórico de Salvador. Envolve uma fauna preciosa de personagens: mafiosos de terceiro escalão, uma francesinha atraente que vira refém, um herói com um mico a tiracolo e uma baiana tradicionalíssima. E muita, muita ação. Um cenário desses é bombástico para levantar discussões sociológicas e nacionalistas. Mas, despretensioso, o roteiro é marcado justamente pela naturalidade com que lida com esses aspectos. Não há nenhum espaço para debater a respeito das origens da capoeira, da natureza do crime, dos meandros do conflito racial ou de questões nacionais. São aspectos que simplesmente aparecem no texto para compor a trama - mas as eventuais leituras críticas ficam a cargo do leitor. O único partido que Aú, o capoeirista toma é o de entreter seu público. A arte de Flávio Luiz reforça a idéia de que o álbum foi criado para divertir. Ela é pop e bastante iluminada. Nos desenhos, os personagens de traços caricaturais convivem com os belíssimos cenários que recriam o Pelourinho - e, em alguns momentos, outros cantos de Salvador. Unindo texto e arte, a narrativa dá a prova final: é ágil e empolgante, mostrando cada cena sob ângulos bastante ricos. Além disso, o acabamento gráfico tem jeitão europeu: capa dura, formato grande (21 x 29,5 cm) e impressão colorida em papel de boa qualidade. É como se fosse um lançamento de uma das gigantes do mercado franco-belga, uma Casterman, uma Dargaud, uma Les Humanoïdes Associés... No fim das contas, tudo funciona. No entanto, há dois aspectos em que o álbum fica devendo. O primeiro é a colorização. Não que as cores não sejam bonitas e bem equilibradas ao longo de todo o álbum, pois elas são. O problema é que, em alguns momentos, os recursos digitais são usados sem parcimônia, dando espaço para dégradés bregas no cenário, que não combinam com o bom gosto que marca o álbum. É o caso, por exemplo, do vidro no fundo dos quadros 2, 3 e 4 da página 8 e da iluminação do fogo das páginas 18 e 19. Outro problema, este bem mais grave, é a própria construção do personagem principal. Aú é simplesmente um capoeirista normal demais. É forte, batalhador e corajoso, mas faltam-lhe, ao menos nesta história, justificativas e vínculos emocionais para enfrentar tantos perigos em nome de uma turista francesa e de uma velha baiana. Sem o estofo que um herói exige, Aú perde força como protagonista. Apesar de carismático, acaba engolido pela ação da trama e pelos divertidos personagens secundários. Os dois tropeços são daqueles que nem sempre um criador consegue enxergar sozinho e atrapalham um álbum que chegou muito perto de um trabalho de primeira grandeza. E são justamente o tipo de coisa que um bom editor percebe com facilidade. Mais do que isso: ele ajudaria o artista a tornar Aú maior do que o mercado independente permite, angariando espaços de destaque em livrarias, levando a obra a ter mais destaque na imprensa e, por fim, negociando uma carreira internacional para o personagem. Ou seja, um editor competente colaboraria para dar a Flávio Luiz a visibilidade e a dimensão que o seu trabalho merece. Enfim, faltou pouquíssimo para que Aú deixasse de ser um trabalho caprichado para se tornar uma obra verdadeiramente primorosa. A boa notícia é que, graças aos seus inúmeros acertos, os defeitos de Aú ficam em segundo plano. Na prática, o álbum é um belo trabalho - e um dos grandes destaques dos quadrinhos nacionais deste ano. Classificação: |
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