Brasileiro Miguel desenha série para a Dargaud
Nem
só no mercado norte-americano os brasileiros fazem sucesso nos quadrinhos.
Alguns deles estão conquistando seu espaço no Velho Continente. Depois
de Léo, Marcelo
Quintanilha e Ricardo
Manhães, chegou a vez de Miguel Agostinho de Lalor Imbiriba Júnior,
ou simplesmente Miguel, como é conhecido esse paraense que está trabalhando
para a francesa Dargaud,
uma das maiores editoras da Europa.
É dele a bela arte da série Myrkos, roteirizada por Jean-Charles
Kraehn, cujo álbum de estréia chama-se L' Ornemaniste. Este é o
primeiro trabalho de Miguel na França, de onde o autor concedeu uma entrevista
por e-mail.
Universo HQ: Você fez outros trabalhos na Europa?
Miguel: Antes de Myrkos, só publiquei uma história curta
na revista Seleções BD, de Lisboa.
UHQ:
Como entrou no mercado francês? Teve algum agente?
Miguel: Agente? Aqui isso não rola! A sua relação é direta com
o editor. Você tem que apresentar o seu projeto à editora e rezar, o que,
aliás, eu fiz muito! Creio muito em Deus.
Passei muitos anos tentando antes de engatar um projeto, mas sempre quis
trabalhar com este tipo de quadrinho.
UHQ: Você vive em Paris desde quando?
Miguel: Estou em Paris há quase três anos, mas antes morei dois
anos em Lisboa.
UHQ: No Brasil você chegou a publicar?
Miguel: Muito pouco. Fiz apenas uma adaptação de um livro para
os quadrinhos, mas já faz muitos anos.
UHQ:
Quais seus ídolos nas HQs?
Miguel: Ídolo é uma palavra muito forte, não acho que se aplica
à minha carreira. Há desenhistas que admiro e que influenciam o meu trabalho.
Outros eu gosto, mas não me influenciam diretamente. É tanta gente...
Deixe-me ver... Moebius, Léo, Vittorio Giardino, Juillard, Alex Raymond,
Harold Foster, Winsor McCay, Druillet, Hergé, Franquin e outros.
UHQ: Seu traço já tinha influência européia, ou mudou quando foi pra
Europa?
Miguel: Eu sempre desenhei assim. Esse é o meu jeito de ver
e de fazer quadrinhos.
Aliás, na Europa, você pode desenhar do jeito que quiser, ninguém te impõe
nenhum estilo.
UHQ:
Qual seu ritmo de produção?
Miguel: Um álbum por ano. Este é o ritmo padrão aqui. Tem artistas
que fazem em menos tempo e outros que demoram dois anos. Depende muito
do tipo de desenho. Como meu estilo é realista, dá muito trabalho.
A série se passa num mundo imaginário, que remete à antigüidade. Myrkos
é um aprendiz dos cursos de pintura da Academia Oficial. Mas por ser tão
indisciplinado quanto talentoso, desperta a fúria e a inveja de seus mestres.
Por isso, ele se rebela e se junta a um homem que se opõe ao poder da
cidade.
O site Read-Box
disponibilizou um preview com as primeiras 22 páginas (de um total
de 48) do álbum. Vale a pena conferir e atestar o talento de Miguel.