Se você está cansado de quadrinhos convencionais, vai encontrar nas livrarias uma ótima pedida para "mudar de ares". A Companhia das Letras acaba de lançar o belíssimo Little Lit (formato 23,5 X 33 cm, 64 páginas coloridas, R$ 39,00), um álbum que reúne grandes nomes das HQs mundiais dando novas versões a contos de fadas e fábulas.

Little Lit é um projeto de Art Spiegelman e Françoise Mouly. Casados, eles trabalham juntos e também dividem a paixão pelos quadrinhos e pela literatura. Foi assim que nasceu a idéia de fazer uma coletânea de HQs voltadas para o público infanto-juvenil.

Spiegelman tem um currículo invejável. Ganhador de um Prêmio Pulitzer por ser trabalho em Maus, recentemente foi homenageado pelo Museum of Comic and Cartoon Art (MoCCA), localizado em Nova York; e ganhou uma exposição em Berlim com seus trabalhos para a revista The New Yorker, da qual era colaborador regular, até se recusar a continuar na publicação, por considerá-la cúmplice do atual estado das coisas na política dos Estados Unidos.

Sua esposa Françoise Mouly é editora de arte da The New Yorker.

A grande sacada do casal, porém, foi recontar histórias e lendas conhecidas, no traço de artistas renomados dos quadrinhos e da ilustração mundial. Neste álbum, por exemplo, no time dos quadrinhistas estão reunidos David Mazzuchelli (de Batman: Ano Um), Daniel Clowes (de Mundo Fantasma, Lorenzo Mattotti (de Estigmas, que a Conrad Editora lança ainda em setembro); Charles Burns (de Black Hole) e Kaz (da tira Underworld, que já ganhou três volumes pela Fantagraphics; o próprio Art Spiegelman; e outros.

No total, 17 artistas (de estilos dos mais diversos) adaptam contos tradicionais em Little Lit, cada um com uma linguagem gráfica própria. Assim, há uma interessante variedade de traços, cores, letras, formatos dos balões e da relação entre o texto e as figuras, que contribui para o humor inteligente do livro.

Os quadrinhos contam boas histórias de maneira extremamente inventiva - e não só do ponto de vista da ilustração. Incluem reinterpretações de clássicos do conto de fadas, como João e o pé de feijão ou A bela adormecida (numa narrativa mórbida do que aconteceu depois do "...e foram felizes para sempre") e lendas menos conhecidas (do Japão e dos hassídicos, por exemplo), bem como tramas de inspiração literária, como Humpty em apuros, que faz referência ao clássico Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

Há também histórias "exemplares". Em duas delas, a ganância é punida com o rebaixamento à condição de animal: em A filha do padeiro, uma garota é transformada em coruja ao negar um pedaço de pão a uma pedinte; em O cavalo faminto, um fazendeiro que explorava seu cavalo acaba ele próprio convertido em eqüino.

Numa homenagem às antigas revistas de comics, os editores reproduziram em fac-símile um clássico dos quadrinhos americanos: O homem-biscoito, feito em 1943, por Walt Kelly (de Pogo). Excelente idéia!

Além das HQs, Little Lit inclui ainda um divertido jogo de tabuleiro, com peças destacáveis, que prometem fazer a alegria dos leitores das mais variadas idades.

E a Companhia das Letras também anunciou uma grande novidade: em 2004, lançará Maus, a consagrada obra de Art Spiegelman, já publicada por aqui pela Brasiliense, mas esgotada há alguns anos.