Quem eram as vítimas do atentado à Charlie Hebdo
O ataque contra a redação da revista Charlie Hebdo, ocorrido em 7 de janeiro de 2015, deixou 12 mortes e vários feridos.
Foram assassinados: Cabu (Jean Cabut), Georges Wolinski, (Charb) Stéphane Charbonnier, (Tignous) Bernard Verlhac, Bernard Maris, Honoré (Philippe Honoré), Mustapha Ourrad, Elsa Cayat, Michel Renaud, Frédéric Boisseau, Franck Brinsolaro e Ahmed Merabet.
Cabu, pseudônimo do desenhista Jean Cabut, nasceu em 13 de 1938, em Châlons-en-Champagne. Ele tinha 76 anos. O artista era um dos grandes nomes do cartum francês e um dos principais cartunistas da Charlie Hebdo. Cabu fez parte da equipe da revista de humor Hara-Kiri (precursora da Charlie Hebdo), na década de 1960; colaborou com o satírico Le Canard Enchaîné; é o criador dos personagens Grand Duduche – que surgiu na revista Pilote – e Mon Beauf. O artista também tem uma longa carreira na televisão, em programas como Droit de réponse e Récré A2.
Em 2006, uma exposição sobre sua obra, Cabu et Paris, foi realizada na prefeitura de Paris. Uma outra exposição, dedicada ao personagem Grand Duduche, foi realizada em 2008, na livraria Goscinny. A carreira de Cabu foi explorada no documentário Cabu, politiquement incorrect!, dirigido por Jérôme Lambert e Philippe Picard, exibido em 2006, no canal France 5. Ele tem mais de 30 álbuns publicados na França.
É o autor da ilustração da capa da edição da Charlie Hebdo, de 8 de fevereiro de 2006, na qual Maomé reclama de seus seguidores. Foi nesse número que foram reproduzidos – por solidariedade e princípio – as caricaturas de Maomé do jornal dinamarquês Jyllands-Posten.
Georges Wolinski era um desenhista de renome internacional, um gigante da imprensa francesa. Irreverente, provocador e cínico, era, junto com Cabu, uma das grandes influências de dezenas de artistas, tanto na França quando em outros países.
Ele nasceu em 28 de junho de 1934, em Túnis, capital da Tunísia, e tinha 80 anos quando foi assassinado. Sua carreira nos quadrinhos começou em 1958, na revista Rustica. Entrou para a equipe de colaboradores da revista Hara-Kiri em 1960, após enviar seus desenhos a François Cavanna. Também ilustrou o Le Journal du dimanche, France-Soir, L’Humanité, Paris-Match e L'Enragé.
Além de desenhista, era o roteirista da série de HQs eróticas Paulette, ilustrada por Georges Pichard; e produzia textos para teatro e até cinema. Possui dezenas de livros e álbuns publicados.
Wolinski foi editor-chefe da Charlie Hebdo entre 1970 e 1981. Em 1998, ganhou o prêmio internacional de humor Gat Perich. No ano de 2005, Wolinski recebeu das mãos do presidente Jacques Chirac, a comenda da Ordem Nacional da Legião da Honra, uma das maiores condecorações da França. No mesmo ano, também recebeu o grand prix do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême.
Dentre as vítimas do ataque, era o artista mais conhecido no Brasil, com vários trabalhos publicados por aqui.
Charb, pseudônimo de Stéphane Charbonnier, era o editor-chefe da revista Charlie Hebdo desde 2009, após a saída de Philippe Val. Ele nasceu em 21 de agosto de 1967, em Conflans-Sainte-Honorine, na França, e tinha 47 anos quando morreu.
Em 1991, colaborou com o semanário de humor La Grosse Bertha, antes de entrar para a equipe da Charlie Hebdo, no ano seguinte. O desenhista também atuou nas publicações L'Écho des savanes, Télérama, L'Humanité e Fluide Glacial.
Após o incidente de 1º de novembro de 2011, no qual a redação da revista foi atacada com um coquetel Molotov e destruída por um incêndio, Charb passou a ter proteção policial. Numa entrevista sobre o assunto ele disse: "Prefiro morrer em pé, do que viver de joelhos".
Charb possui 20 álbuns publicados com seus trabalhos. Recentemente, a Boitempo Editorial lançou no Brasil o livro Marx, manual de instruções, escrito por Daniel Bensaid e ilustrado por Charib.
Tignous, pseudônimo – que significa "pequena mariposa" na língua occitana (provençal), e era uma homenagem à sua avó – do desenhista Bernard Verlhac, nasceu em 1957, em Paris. Ele tinha 58 anos de idade quando morreu. Era colaborador das revistas Charlie Hebdo, Marianne, Fluide glacial, L'Express, VSD, Télérama e L'Humanité.
Em 2008, ele participou do Festival de Cannes, ao lado de Cavanna, Wolinski e Cabu, durante a exibição do documentário C'est dur d'être aimé par des cons (É duro ser amado por cretinos), de Daniel Leconte. O título do documentário é uma referência direta a um cartum de Cabu. O filme narra as ameaças de morte recebidas pelos artistas.
Ele tinha oito álbuns publicados, além de outros trabalhos de ilustração não relacionados com cartuns e humor.
O desenhista Honoré, pseudônimo de Philippe Honoré, nasceu em 25 de novembro de 1941, em Vichy, na França. Ele tinha 73 anos quando foi assassinado. Era colaborador de publicações como Charlie Hebdo, Sud-Ouest, Lire, Le Magazine littéraire, Libération, Le Monde, Globe, L'Événement du jeudi, Les Inrockuptibles, La Vie ouvrière, Hara-Kiri Mensuel, Le Matin, La Grosse Bertha e Expressen.
Seu trabalho mais recente foi uma charge com o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi. Foi a última postagem da Charlie Hebdo antes do ataque. O desenhista Plantu o descreveu como "um artista imenso".
Bernard Maris, jornalista e economista, escrevia para a revista Charlie Hebdo sob o pseudônimo Oncle Bernard (Tio Bernard). Ele nasceu em 23 e setembro de 1946, em Toulouse, na França, e tinha 68 anos quando morreu.
Ele também escreveu para publicações como Marianne, Le Nouvel Observateur, Le Figaro Magazine e Le Monde. Em 2011, Maris fez parte do conselho geral do Banque de France. Era professor de economia do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Paris VIII. Nas eleições de 2002, foi candidato legislativo, pelo Partido Verde.
Maris é autor de 17 livros sobre economia, entre eles, Keynes ou l'économiste citoyen, sobre o economista John Maynard Keynes; e três romances.
Mustapha Ourrad era o revisor da Charlie Hebdo. Ele era um órfão argelino que chegou à França aos 20 anos, após uma viagem paga por amigos. Aos poucos se estabeleceu com uma pequena editora e fez sua reputação como um bom editor de texto. Trabalhou durante muitos anos para a revista Viva.
Elsa Cayat, a única mulher vítima do ataque, nasceu em 1960. Ela era uma psiquiatra, psicanalista e cronista, que assinava uma coluna quinzenal chamada O Divã na revista.
Michel Renaud, jornalista e ex-chefe de gabinete do prefeito de Clermont-Ferrand, estava na redação da revista a convite de Cabu. Ela tinha 69 anos. Renaud é o o criador do evento artístico Biennale du carnet de voyage de Clermont-Ferrand. Como jornalista, colaborou com o jornal Le Figaro e a rede televisão TF1. Estava acompanhado de um colega, Gérard Gaillard, que escapou do tiroteio se jogando no chão.
Frédéric Boisseau, de 42 anos, era um funcionário da empresa Sodexo, que fazia a manutenção do prédio no qual estava situada a redação da Charlie Hebdo no momento do ataque. Ele era casado e tinha dois filhos.
Franck Brinsolaro era um policial, brigadeiro do SDLP (Serviço de Proteção), uma unidade especializada da polícia francesa, com a tarefa de proteger personalidades e dignitários estrangeiros. Ele estava encarregado da segurança do desenhista Charb. Era casado e tinha dois filhos.
Ahmed Merabet, de 42 anos, era um policial francês e aparentemente muçulmano. Ele fazia parte da Brigada Ciclista, da delegacia do 11e. arrondissement de Paris, e foi executado na rua pelos terroristas, quando patrulhava a região.