Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Começa o julgamento de Tintim na África

5 maio 2010

Tintim na África

Começou hoje, 5 de maio, o julgamento em Bruxelas, na Bélgica, que poderá banir a versão original do álbum Tintim na África (Tintin au Congo), de Hergé, das livrarias do país.

O autor do processo é Bienvenu Mbutu Mondondo, um congolês de 42 anos, que mora na Bélgica e iniciou uma série de protestos contra o livro em 2007. Mondondo deseja ver o álbum banido ou com um aviso sobre o conteúdo, como existe na versão publicada na Inglaterra.

Para Mondondo, o livro mostra os africanos como crianças imbecis e sugere que os negros não evoluíram.

É importante notar que não está claro quais versões do álbum
estão envolvidas no processo. A primeira versão do livro, originalmente
publicado como tiras no Le Petit Vingtième, entre 5 de junho
de 1930 e 18 de junho de 1931, quando o Congo era uma colônia da Bélgica.
Essas tiras foram compiladas num álbum em preto e branco, em 1931, num volume
de 112 paginas.

Tintim na África é a segunda aventura do herói de Hergé, que tinha apenas 23 anos quando escreveu a historia.

Tintim na África

O álbum foi modificado em 1946 e publicado em cores numa versão que reduzia
o número de páginas para 64 com retificações na maioria das situações relativas
ao período colonial e também em diversas cenas que mostram a relação do personagem
com os animais selvagens (elefantes, rinocerontes, leopardos etc.).

Esse álbum foi relançado pela Casterman, em 1975, com um colorido moderno.

Tintim na África pode ser encontrada nas livrarias da França e da
Bélgica em três versões: o álbum moderno de 1975, com preço regular; a versão
fac-símile do álbum colorido de 1946, mais caro; e a versão fac-símile
do volume preto e branco, de 1931, que também possui preço mais caro que as
edições regulares.

Tintim na África

Após o protesto de Mondondo, em 2007, também houve uma polêmica
na Inglaterra
. Nos Estados Unidos, diante desses incidentes, a editora
Little Brown decidiu evitar a polêmica e explicou
que não publicará o álbum
em sua coleção.

O Congo do livro se refere à atual República Democrática do Congo (muitas vezes chamado de Congo-Kinshasa), que já foi Zaire e Congo-Belga, e não deve ser confundido com a República do Congo, também chamada de Congo-Brazzaville, para distingui-la do país vizinho, que é o antigo Congo francês.

O Congo Belga foi um dos mais cruéis e sangrentos regimes coloniais da África
e serviu como inspiração para o livro de Joseph Conrad, Coração das Trevas.
Tendo em conta a realidade em vigor na década de 1930, o retrato do Congo
no período colonial criado por Hergé é muito leve em relação às atrocidades
cometidas na época.

Numa entrevista da década de 1970, Hergé declarou que sentia remorso pelo álbum, e que na época ele foi levado pelo preconceito existente na sociedade belga. Por isso, Hergé fez questão de modificar o em 1946, muito antes da independência do Congo, que só ocorreu na década de 1960.

O processo cita formalmente a editora Casterman, que, portanto, terá que enviar representantes para comparecer ao julgamento.

No Brasil, Tintim na África foi lançado pelo selo Cia. das Letras.

 

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