Comemorações do aniversário de Asterix e da revista Charlie-Hebdo
Neste
dia 29, comemoram-se 45 anos do "nascimento" de Asterix, com o primeiro
número da revista Pilote. O personagem - e seus amigos da aldeia
gaulesa que nunca se rendeu aos romanos - já teve suas aventuras publicadas
em 107 idiomas e dialetos, e teve 310 milhões de exemplares de seus álbuns
vendidos pelo mundo afora.
Neste ano, os três principais eventos a assinalar são:
O anúncio de Uderzo, desenhista da série desde seu início, de que o 37º
álbum da série sairá em 2005;
A publicação, nesta quarta-feira, de uma versão regionalizada do álbum
Astérix et la Rentrée Gauloise (veja aqui resenha
do Universo HQ), em que os personagens se apresentam com o sotaque
do norte da França. Este álbum será seguido de outras edições com sotaques
regionais, publicados até novembro, em corso, bretão, bretão gaélico,
alsácio e occitan.
Numa deferência toda especial, a revista Lire, a mais prestigiosa
publicação francesa sobre literatura, cujo anúncio dos "livros do ano"
rivaliza em importância com os da Academia Goncourt, está publicando,
pela primeira vez em sua história, um número especial, que saiu nesta
segunda, dia 25 de outubro, dedicado ao personagem.
No
extenso sumário, destaca-se uma biografia de René Goscinny, roteirista
da série desde o início até a sua morte, em 1977; uma extensa entrevista
com Albert Uderzo e algumas homenagens bem-humoradas de pensadores e quadrinhistas
do porte de Umberto Eco, Max Gallo, Joann Sfar, Zep, Moebius, Enki Bilal,
Tibet, William Vance, Gotlib e André Franquin.
Mas as crianças também são contempladas neste número especial, com uma
série de jogos e brincadeiras.
A própria revista Lire traz, em sua edição atual, uma excelente
notícia: a antológica revista de sátiras Charlie-Hebdo, que juntamente
com Fluide Glacial e Echo des Savanes mudou os rumos do
quadrinho francês, ganha um livro que conta os 35 anos de sua trajetória:
Les Années Charlie, 1969-2004 , lançado nesta segunda-feira pela
editora Hoëbeke, com 144 páginas e custando 24 euros.
O livro é prefaciado por François Cavanna, ele mesmo, fundador da revista,
e traz textos de Philippe Val, redator-chefe, após a morte, em abril deste
ano de Gébé, aos 74 anos.
Charlie Hebdo (Charlie Semanal) foi uma seqüência mais substancial
da revista mensal Hara-Kiri, criada em 1960. A grande diferença
da Charlie em relação à Fluide e à Echo é que ela
foi mais contundente do ponto de vista do conteúdo social de vários de
seus argumentistas.
O conteúdo bastante iconoclasta da Charlie acabou se valendo do
clima de rebeldia que não acabou no Maio de 1968. A revista chegou a deixar
de circular em 1982, por motivos financeiros e retornou em 1992.
Sintetizando esta coincidência de lançamentos, Pilote nasceu em
1959 e acabou se apresentando como Le journal qui s'ammuse a réflechir,
ou o jornal que se diverte ao refletir; 10 anos depois, a Charlie Hebdo
refletia a realidade dando alfinetadas nas mentes alheias. Este é, ao
lado de excelentes profissionais do traço, um dos segredos do grande sucesso
da Bande Dessinée.