Confirmado: Birthright é a (nova) origem oficial do Super-Homem
Desde que foi criado, em 1938, o Super-Homem já passou por diversas modificações. Se ele sobrevive tão forte após quase 70 anos, certamente um dos fatores é a capacidade do personagem ir se atualizando através dos tempos, sabendo incorporar à sua mitologia os vários aspectos criados, inclusive, para outras mídias que não os quadrinhos.
Foi assim, por exemplo, com a kryptonita, cuja primeira "aparição" aconteceu no programa de rádio que o herói tinha na década de 1940, e que hoje é tão conhecida quanto o próprio.
Quando o Homem de Aço estreou, ele não voava e tinha uma atitude mais ousada com os criminosos. As demais capacidades fantásticas dele foram sendo adicionadas aos poucos, assim como sua origem foi ganhando novos elementos ao longo das décadas.
Até que, em 1986, a DC Comics incumbiu John Byrne de recriar o mito.
Na época, a nova origem foi muito criticada. Como sempre, mudanças causam fortes polêmicas, mas ela serviu de base para o Super-Homem nos últimos 18 anos (acredite, já se passou tanto tempo assim!). Mas não serve mais.
Depois de quase duas décadas de histórias, em sua maioria de qualidade questionável, a editora pretende devolver ao personagem aquilo que o tornou tão famoso. Mudanças estão sendo (e serão) feitas, e um dos pontos altos será a reformulação na equipe criativa dos três títulos mensais do herói, que incluem nomes como o de Brian Azzarello, Jim Lee, Greg Rucka e dos brasileiros Ivan Reis e Marcelo Campos.
E a principal mudança já vinha sendo feita desde o ano passado. O escritor Mark Waid confirmou em entrevista ao site CBR que a minissérie em 12 partes Superman: Birthright - com desenhos de Leinil Francis-Yu - é a nova origem oficial do Homem de Aço, apesar de a editora ter se mantido silenciosa quanto a isso até agora.
"Foi tudo pensado com grandes detalhes, em todos os níveis, por criadores que amam o personagem. Aceite sem reservas: Birthright é oficialmente a origem da DC Comics para o Super-Homem. Queria poder ter dito isso desde o início, há nove meses, mas em 2003 os planos para o Super ainda estavam sendo feitos. Por isso, a editora decidiu ser cautelosa sobre o assunto. Birthright é a fundação de tudo o que a DC quer fazer com o personagem no futuro. Foi nosso trabalho pavimentar esse caminho, e foi uma honra", declarou Waid.
"Imagine as revistas do Super-Homem começando hoje, e se você pudesse acompanhar tudo desde o início, lendo a primeira aventura do Homem de Aço reinventada para refletir o mundo e a sensibilidade de hoje. Para ser relevante com suas experiências e sua vida, e mostrar o quanto é difícil ser um 'herói' no século 21", continua o autor. "O nosso desafio foi re-imaginar o personagem, algo que todos sentimos que irá beneficiar os fãs hoje e amanhã."
Mesmo assim, Waid não revelou o que o futuro trará.
Mas por que não fazer de Birthright algo como a Marvel fez com a linha Ultimate e criar um novo universo para o último filho de Krypton? "Eu prefiro um compromisso. Prefiro me sentar com a equipe editorial da DC, discutir mutuamente nossos planos por um bom tempo, separar os elementos primordiais do que faz do Super-Homem quem ele é, e me concentrar em apresentar tudo isso com um nova energia. Estamos olhando para frente, não para trás", ressaltou.
Alguns pontos causarão polêmica, como Clark ser vegetariano e ter tido Lex Luthor como amigo de infância. E Waid está preparado para receber essas críticas. "Estava preparado para uma tempestade de ódio com a reinterpretação da infância de Luthor, e estou surpreso que as reações têm sido até mesmo positivas", disse.
O Lex Luthor que aparece na minissérie é inspirado na versão de Elliot S. Maggin, um dos escritores mais influentes a trabalhar com o herói. "Ele é o homem mais brilhante do mundo, do tipo que aparece apenas uma vez a cada 100 anos. Mas com sua genialidade vem também uma quantidade igual de irracionalidade e comportamentos de distúrbios emocionais. Isso tornou o jovem Lex um renegado, e o ligou tanto a Clark, que, por suas características únicas, também era um renegado. E é essa psique perturbada que o leva a ser um tipo de psicopata. O Super-Homem enfrentará o Luthor adulto e fará tudo para impedi-lo, mas uma parte dele ainda lembrará de como Lex era."
Em Birthright, Luthor ainda é um bilionário magnata, mas a Lexcorp foi fundada devido aos estudos dele sobre astrobiologia. Por toda a vida, Lex quis encontrar vida em outros mundos, e passou os dias recolhendo dados e pesquisando como esses planetas seriam e fazendo invenções lucrativas.
O escritor procurou ser o mais aberto possível a sugestões, e ouviu editores e amigos escritores, alguns conhecidos por gostarem do Super-Homem e até aqueles que não sabiam de muitos detalhes.
"O básico não precisa ser mudado. De certa maneira, acho que alguns leitores ficarão até desapontados por não haver mais modificações, mas não há interesse em fazer um Super-Homem que não seja de Krypton, que não tenha sido criado pela família Kent e que não seja um pacato repórter do Planeta Diário", explica.
"Essas peças apenas precisam ser restabelecidas. Sim, existem algumas cenas em Birthright que já foram vistas antes, mas lembre-se: o objetivo é colocar esta aventura nas mãos de qualquer pessoa no mundo e dizer 'aqui está a história do Super-Homem'. Nem todos sabem, por exemplo, que a visão de raios-x não ultrapassa chumbo ou que o chumbo bloqueia a radiação da kryptonita. É o tipo de coisa que posso citar rapidamente, mas eles precisam saber disso em algum lugar. Nesse sentido, é como um livro aos iniciantes. Mas acaba sendo mais do que isso."
Waid deu ainda um outro exemplo, mais específico: a primeira aparição do Homem de Aço. "Houve várias interpretações ao longo dos anos sobre isso, sendo a mais recente a do John Byrne, que estabelece que a primeira vez que o Super (sem o uniforme) mostrou seus poderes em público foi quando salvou um ônibus espacial. Foi um bom momento e uma boa idéia. Mas quando os editores me lembraram disso, é uma idéia resultante daquele tempo, como deveria ser. Ônibus espaciais eram um pedaço da cultura americana e tinham um grande impacto e relevância 20 anos atrás", explicou.
"Como Birthright estabelece que o uniforme tem um peso cultural para Clark, o que é parte essencial de toda a identidade do Super-Homem, ficou decidido que, embora pudéssemos deixar uma referência a esse acontecido como um incidente 'fora das câmeras', a estréia do Super deveria ser com o traje, e mostrando seu poder de vôo. Essa é sua habilidade mais incrível, a que nos fazer perder a respiração. Isso me desafiou a criar um novo momento para sua estréia, que não repetisse nada feito antes, mas que certamente lembrasse esses fatos", detalhou Waid.
"Acabamos tendo a idéia de fazer o Super-Homem salvar Lois e Jimmy enquanto eles despencam para a morte, depois um ataque terrorista a Metrópolis. Certamente, uma saudação à cena do primeiro filme com Christopher Reeve, mas com características próprias para a nova mitologia", revelou.
Este não será o último projeto de Mark Waid com o Super-Homem. Ele voltará a trabalhar com este que é um dos personagens que mais gosta e nunca escondeu de ninguém. "Claro que sim, a DC me confirmou semana passada. Mas ainda não posso falar nada. Vamos nos concentrar em Birthright."
Superman: Birthright (ainda sem tradução) será publicado no Brasil ainda no primeiro semestre, pela Panini Comics.