Conheça os Arquivos Hergé
Em
1973, a editora francesa Casterman
lançou uma coleção preciosa para os fãs de Tintim e Hergé: a série Archives
Hergé.
São álbuns em capa dura com mais de 400 páginas, reproduzindo os originais
em preto-e-branco de Tintim e outros personagens de Hergé, como eles foram
publicados nos jornais da época, com todos seus defeitos e inclusive com
pranchas nunca mais republicadas.
Os álbuns mais longos foram posteriormente redesenhados e adaptados para
caber no formato padrão da Casterman.
O volume 1 traz uma pequena introdução sobre o trabalho de Hergé na época,
os personagens e os jornais onde foram publicados, o valor histórico do
material e uma explicação sobre uma página de Tintim no País dos Sovietes,
que até esta edição (de 1973) nunca havia sido reproduzida desde 1929,
nem nos álbuns especiais e nem mesmo nas edições piratas.
São 418 páginas em preto-e-branco reproduzindo na íntegra: Totor,
Chef de Patrouille des Hannetons (escoteiro precursor e inspirador
de Tintim), publicado no jornal Le Boy-Scout Belge entre 1926
e 1929; Tintim no País dos Sovietes (1929); Tintim no Congo
(1930); e Tintim na América (1931), estes três últimos publicados
no suplemento semanal Le Petit Vingtième.
As três histórias de Tintim foram originalmente encadernadas
pelo próprio jornal e lançada no selo Éditions du Petit Vingtième.
Ambas foram posteriormente redesenhadas por Hergé e relançadas em cores,
pela Casterman nos álbuns bastante conhecidos do público
atual.
Estas histórias originais são profundamente influenciadas pela política
e as informações disponíveis nos livros e filmes da época, com todas as
suas distorções e até preconceitos. A Rússia estava no início do período
pós-revolução, o Congo era uma colônia Belga, e os Estados Unidos em plena
época da proibição e do gangsterismo, que caracterizam a América dos anos
1930.
Também é bom lembrar, para fazer um julgamento mais balanceado, que Hergé
era um jovem na casa dos vinte anos de idade e que a informação era muito
mais escassa do que hoje em dia. Não havia TV, o rádio estava em seus
primórdios e, é óbvio, não havia Internet.
Visto fora de contexto, estas histórias são assustadoramente racistas
e colonialistas, privilegiando um ponto de vista europeu branco elitista.
Parte do paternalismo e do ranço colonial ainda permanecem nestes álbuns
redesenhados, que Hergé modificou para atualizá-los e para mudar muito
de seus valores, pois os do próprio autor haviam se transformado pelas
suas experiências e ele reconheceu isto, várias vezes, em entrevistas.
Estas páginas em preto-e-branco, com um desenho até primitivo, mostram
a preocupação do autor com a trama, a dificuldade da pesquisa na época,
e são uma janela para os valores morais e éticos da Europa no início da
década de 1930.
O terceiro volume da coleção (em capa dura, com 397 páginas) traz os originais
de Os Charutos do Faraó (1932), O Lótus Azul(1934) e
o Ídolo Roubado (1935), todos relançados
no Brasil recentemente, pela Companhia
das Letras.
Além disso, há uma introdução e duas páginas traduzem diversos textos
e inscrições em chinês que podem ser vistos nos quadros de O Lótus
Azul.
Aqui já é possível ver, nas páginas em preto-e-branco, o desenvolvimento
no traço de Hergé, que melhorava a cada história. O estilo de desenho
de Georges Remi, que assinava Hergé, influenciou dezenas de artistas,
na década de 1960 ganhou o nome de Linha Clara, e é até hoje
seguido por muitos desenhistas.
Sua paixão pela pesquisa cresceu principalmente depois do encontro com
Chang Chong-jen, que foi sua grande referência para fazer O Lótuz
Azul.
(Nota do Universo HQ: Durante sua visita ao Festival
de Contern, em Luxemburgo, Sérgio Codespoti teve a sorte
de encontrar dois volumes, o 1° (décima edição) e o 3°, pela bagatela
de 16 euros cada. Uma ninharia considerando-se que os volumes da Casterman
estão esgotados).
O Archives Hergé Tome 1, edição Casterman, de
1973, em francês, pode ser achado na Fnac
francesa, setor de raros e antigos, por 53,28 euros, sem incluir frete.
No site Amazon
o volume 1, da Methuen (edição de 1984, provavelmente
em inglês, afinal a Methuen é uma editora inglesa, mas
o site não especifica a língua), usado, sai por 249,95 dólares (sem o
frete!).
Na Amazon
francesa ele custa assustadores 346,81 euros; e na Amazon
inglesa sai por exorbitantes 218,83 libras. Sempre sem incluir o frete
e lembrando que são edições em bom estado, mas usadas.
O segundo volume da série, que traz os endiabrados personagens Quick e
Flupke, também de Hergé, pode ser encontrado por razoáveis 40 euros na
Amazon francesa.
Já os volumes 3 e 4 (exclusivamente destinados à Tintim)
estão esgotados e não há preços nem disponibilidade nos catálogos de nenhum
destes sites.