O
mestre recriando o mito. Essa é uma das muitas descrições que se pode
dar para o novo trabalho de Robert Crumb, Gênesis. Ao longo de
quatro anos o ícone da contracultura dos anos 1960 transformou, palavra
por palavra, o primeiro livro da Bíblia em quadrinhos.

Na coletiva do lançamento internacional da obra, Crumb mostrou, do auge
dos seus 66 anos, que ainda carrega muita polêmica. Criado com uma educação
católica tradicional, ele cresceu para renegar a Bíblia e essa tradição.
O seu interesse no livro vem da sua paixão pelos contos de civilizações
antigas. "Eu tomo tudo como mito, do início ao fim".
Em sua versão do Gênesis, ele procurou ilustrar cada detalhe presente no original. "Há histórias ocultas que são muito fortes". Seu distanciamento espiritual em relação ao texto possibilitou que criasse uma obra que não caísse na blasfêmia nem no fanatismo religioso.

Ao contrário do que alguns podem esperar, Crumb não usa o livro como ponte para criticar a igreja com seu humor corrosivo. Na sua visão "a Bíblia não precisa ser satirizada. Ela já é tão louca".

A sua adaptação do texto é literal. Ele deixa a cargo do leitor a interpretação
quanto ao que está escrito, embora aceite que muitos não verão a obra
com bons olhos. "Você nunca consegue agradar verdadeiros crentes. Se está
brincando com seus textos sagrados, eles não vão gostar".

Gênesis chegará nas livrarias do Brasil, Estados Unidos e Europa
em outubro. O livro já se encontra em pré-venda no site da Conrad,
que publicará a versão nacional.