Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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D-Chan: um desenhista brasileiro no mercado japonês

9 agosto 2003

D-ChanAtualmente, são vários os desenhistas brasileiros que atuam nos quadrinhos americanos. Na Europa também já tivemos honrosos representantes de nossa escola. Mas o restrito mercado de mangás ainda estava inexplorado. Estava? Sim, no passado, porque o jovem paulistano Davison Carvalho, mais conhecido como D-Chan, conseguiu esse feito, ao trabalhar para a editora japonesa Kadokawa.

Hoje com 23 anos, ele nasceu numa família pobre e nunca pôde estudar em escolas técnicas, tampouco faculdade, pois começou a trabalhar aos 13! Autodidata, jamais fez um curso de desenho.

"Tudo que aprendi foi por conta própria, sou um devorador de livros", contou ao Universo HQ. "Só agora pude fazer um curso de LightWave 3D, que foi pedido como pré-requisito pra trabalhar na Kadokawa".

Sunflower GuardiansSegundo D-Chan, o processo para conseguir esse trabalho durou anos e foi um grande aprendizado, ainda está longe de terminar. "Há muito tempo tento desenhar mangá, desde os meus 12 anos, quando comecei fazendo fan-arts de animês e games. De uns cinco anos pra cá, para minha surpresa, passei a conhecer pessoas no Brasil que faziam a mesma coisa. Até então, procurava gente com esse tipo de objetivo no exterior, via internet", relata.

O desenhista acabou ficando amigo de muitos artistas estrangeiros, que na época não eram famosos, mas, em virtude de seu talento, vieram a se tornar. Conseqüentemente, alguns deles, como as chinesas Jo-Chen e Nei Lieng, o japonês Fujitani e alguns outros da web foram evoluindo juntos. "Foi aí, que percebi que precisaria montar minha página na internet, o que fiz só um ano mais tarde", explicou.

Self portraitO recente convite que recebeu para publicar na Kadokawa Shoten foi algo que D-Chan e alguns artistas internacionais planejavam há algum tempo. "Tivemos que treinar muito e incansavelmente pra tentar alcançar um nível próximo e/ou compatível ao dos desenhistas e escritores japoneses (embora eu ainda esteja longe desse patamar). Quando vimos que estávamos mais ou menos perto disso, juntamos nosso material para apresentar aos editores", disse.

De acordo com o desenhista, o fato de Jo-Chen e a editora Nei Lieng já serem "personalidades" no Japão tornou mais fácil a apresentação e aceitação do projeto, que, segundo os japoneses, caiu como uma luva para o momento.

Isso porque eles já estavam planejando uma publicação com artistas internacionais, tendo em mente que o mercado de animês e games originais fora do Japão, como na Coréia e China, está cada vez maior e melhor.

Logo surgiu o convite para participar de uma edição especial de um mangá da Kadokawa Shoten, chamado Asuka Comics, que é o terceiro mais vendido no Japão.

Ghost Sisters"Nessa edição, eu, Jo-chen, o coreano Hyung Tae Kim e os japoneses Hiroata Takao e Sho-u Tajima (este famosíssimo, que será nosso padrinho na revista) publicaremos cerca 130 páginas cada um, somente com histórias próprias", esclareceu. "O grande diferencial e o que os editores realmente gostaram foi o fato de apresentarmos nossas aventuras. Eles disseram que vários desenhistas, até mais talentosos que nós, fizeram a entrevista, mas as tramas deles eram ruins. Então, resumindo, posso dizer que consegui esse trabalho com muito esforço, suor, cara de pau de mandar e-mails para um monte de gente e, principalmente, graças à internet"!

Sobre o fato de ser o primeiro artista brasileiro no Japão, D-Chan ressaltou que isso vale apenas para os quadrinhos: "O meu amigo Daniel HDR já publicou alguns excelentes trabalhos lá. Mas parece que eram somente de arte. Agora, lançar um mangá de própria autoria (roteiro e desenho), se não me engano serei o primeiro."

Na-NikaAtualmente, como um "treino" para a editora, D-Chan está fazendo uma história chamada Na-Nika, que terá 214 páginas e será publicada em dezembro no Japão. "Mas eu negociei algumas cópias em português do mangá, para distribuição exclusiva no Brasil, em dois volumes de 104 páginas. O primeiro número estará disponível por aqui em setembro. No entanto, isso será feita por mim mesmo, pois como a história é grande e em sentido oriental, acho difícil alguma editora brasileira topar distribuir", revelou. Fica a dica para as editoras nacionais.

Novos trabalhos - De acordo com o que informaram a D-Chan, seu material saiu em alguns jornais e revistas na China e no Japão. Por isso, recebeu umas seis propostas diferentes. "Por enquanto, não posso falar muita coisa, pois nada está confirmado. Mas digo que os conceitos do mercado japonês de mangá e animê estão se rendendo aos talentos estrangeiros. Agora acho que é quase possível sonhar em ser um mangaká (escritor e desenhista de mangá) no Japão. Basta somente que nós brasileiros tomemos uma posição mais autoconfiante, pois talentos existem muitos aqui", ensinou.

DTD FriendshipA remuneração do mercado de mangás certamente deixará boquiabertos alguns artistas. "Nunca ganhei dinheiro com desenho na minha vida, mas, pelo que pesquisei aqui, o trabalho de mangaká lá no Japão paga mais ou menos oito vezes mais do que no Brasil. Pra alguém que sempre andou de ônibus, como eu, a grana é bem mais do que bacana, é quase um milagre!", ressaltou D-Chan, que ainda não recebeu nada, pois o pagamento só é feito ao termino do serviço.

Pra terminar, D-Chan enumerou seus quadrinhos e desenhos animados japoneses prediletos. "Nos mangás comecei com a Lenda de Kamui, Mai e Akira. Atualmente, como conheço os títulos mais pelos autores, vou citar alguns: Meimu (de Gasaraki), Aoi Nanase (de Angel Dust e Samurai Spirits), Yoshitoshi Abe (de Lain e NieA_7), Yoshiuki Sadamoto (de Evangelion e Flcl), Estúdio Clamp (X e Clover) Kaori Yuki (de Angel Sanctuary e Cain), Eiji Kaneda, Jo-Chen (de The Other Side of the Mirror), Sho-u Tajima (de Brothers, Madara, Psycho), Wakako Oba (de Wild Arms) e, claro, Masamune Shirow (de Ghost in the Shell). Já nos animês, iniciei com Yamato, Candy Candy, Doraemon, Zillion e aqueles outros antigões. Além desses dois últimos, os que amo de verdade são Karekano, Evangelion, Totoro, X e qualquer coisa da Gainax", finalizou.

Sem nunca ter publicado nem um sequer trabalho profissionalmente no Brasil, D-Chan atravessou (virtualmente) o planeta para ver sua arte em revistas japonesas. Talvez seja um sinal de que os editores lá, com o perdão do trocadilho, têm os olhos mais abertos do que os nossos!

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