Danilo Beyruth, um criador de aventuras brasileiras
Danilo Beyruth é paulistano, publicitário, ilustrador e quadrinhista. Depois de surgir com fanzines com tons super-heroicos do Necronauta, ganhou destaque em 2010, com Bando de Dois, da Zarabatana (editora que também tem em seu catálogo os dois álbuns do Necronauta) lhe rendeu três troféus HQ Mix (Melhor Desenhista Nacional, Melhor Roteirista Nacional e Melhor Edição Especial Nacional) e um Prêmio Angelo Agostini (Melhor Lançamento).
Depois disso, manteve-se em destaque com Astronauta – Magnetar. O sucesso do título inaugural do selo Graphic MSP foi tamanho, que sua versão do personagem espacial de Mauricio de Sousa terá seu quarto álbum lançado, pela Panini, em dezembro e ganhará uma adaptação numa série animada.
Lançou São Jorge, pela Panini, e, em 2015, Beyruth foi contratado pela Marvel para desenhar Gwenpool, e a relação foi tão boa que logo passou para Motoqueiro Fantasma, Guardiões da Galáxia, Carnificina e outros personagens da “Casa das Ideias”.
Com o lançamento da graphic novel Samurai – Shirô, pela DarkSide, o autor deu uma curta entrevista para o Universo HQ, falando um pouco sobre o novo quadrinho, processo criativo, inspirações e projetos.
Universo HQ: Você já passeou por estilos bem diferentes nos quadrinhos. Agora, aposta em uma história de samurai. Por que essa constante mudança?
Danilo Beyruth: Não é exatamente um história de samurai, está mais para uma trama policial de crime e ação. Mas acho que é menos uma questão de estilos diferentes e mais de diferentes gêneros.
Necronauta é meio terror, meio super-herói, São Jorge é um épico histórico, Astronauta é ficção científica e Bando de Dois um western brasileiro. Mas, entre todos esses trabalhos, existe um ponto em comum, que de uma forma ou de outra são tramas de aventura e ação.
A mudança de gêneros é porque é divertido trabalhar com coisas diferentes a cada obra, pois isso te dá chance de explorar não só novas soluções de roteiro, mas também de arte.
UHQ: Em Bando de Dois, você lançou um faroeste com ares brasileiros. Samurai – Shirô nasceu com o mesmo intuito, de resgatar o gênero samurai em um novo formato?
Beyruth: Mais ou menos. Anos atrás, antes de fazer Bando de Dois, antes até do Necronauta, você lia nos fóruns nacionais de quadrinhos o quanto era impossível fazer uma HQ de super-heróis brasileira, porque o gênero só funcionava nos Estados Unidos, por uma questão cultural, blá,blá,blá.
Acho isso meio que uma besteira. Se você, por exemplo, pesquisar sobre o Velho Oeste americano real, vai descobrir que tem bem pouco a ver com o que se vê no cinema.
O meu approach para trabalhos como Bando e Shirô é identificar alguma coisa legal na cultura brasileira que não tenha sido explorada, ou tenha sido pouco explorada ou ainda tenha sido explorada há tanto tempo, que as pessoas nem lembram mais; e tentar criar em cima essa coisa do espetáculo cinematográfico, da grande aventura.
São Paulo tem a maior colônia japonesa do mundo, tem esse cenário fantástico do bairro da Liberdade, e é quase um desperdício não usar isso para uma história, quando você vê o que Hollywood faz, por exemplo, com um filme como Aventureiros do Bairro Proibido.
UHQ: No primeiro olhar, Samurai – Shirô remete ao Japão, mas você traz essa cultura para o Brasil e conecta com outros conceitos, como o crime. Como foi essa adaptação?
Beyruth: Ah, mas não é uma adaptação. A cultura japonesa tem uma presença forte, especialmente em São Paulo e em algumas cidades do interior. É essa mistura de Brasil e Japão, que já existe, que é interessante.
Samurai – Shirô explora um pouco esse choque entre essas duas formas de ver o mundo, com uma personagem que está dividida entre os dois.
UHQ: Desde 2015, você tem trabalhado na Marvel e, em paralelo, em álbuns com roteiro e desenhos, como a série de Graphics MSP do Astronauta. Como administra o seu tempo?
Beyruth: É complicado, e aqui eu deixo um recado pro pessoal que está começando ou pensando em entrar nesse mundo de fazer quadrinhos. Eu passei anos conciliando o trabalho como ilustrador, ou como diretor de arte em agência de publicidade, com a vida de quadrinhista. E conciliar trabalho autoral com desenhar para editoras gringas é, em comparação, bem mais tranquilo.
Trabalhando para os Estados Unidos, tenho aproveitado para me concentrar no desenho e na velocidade de produção, que é uma coisa que é cobrada. No paralelo, vou desenvolvendo meus próprios projetos com mais calma.
Acho que todo artista tem que achar um ponto de conciliação entre o projeto mais rentável e aquele que é mais próximo do coração, seja um artista plástico, ator, músico ou quadrinhista.
UHQ: Com essa volta ao mercado nacional, podemos ter esperança do retorno de personagens como o Necronauta?
Beyruth: Eu sempre sou cobrado por mais um volume do Necronauta, e sempre quero voltar ao personagem. Tenho um caixinha de ideias separadas para ele, mas não existe tempo pra fazer tudo.
Que eu ainda vou fazer mais Necronauta, é certeza. Só não sei quando.
UHQ: Em 2017, tivemos a estreia de Motorrad, filme em que desenvolveu os personagens. Como foi essa experiência? Você possui interesse de adaptar suas HQs para o cinema?
Beyruth: É uma possibilidade, e já vieram me procurar pra saber sobre os direitos de algumas obras. É uma tendência internacional até mesmo em filmes baseados em quadrinhos que não são blockbusters de super-heróis, como Estrada para Perdição e Eu mato gigantes.
Mas acho que quem toma esse rumo precisa ter a clareza de que a adaptação não é quadrinho, e sim uma outra obra, mais do diretor do que do autor original.
UHQ: O que podemos esperar da quarta Graphic MSP do Astronauta e da série animada do personagem?
Beyruth: O terceiro álbum acaba com um gancho para a história, e neste próximo você acompanha o Astronauta em mais uma aventura, explorando esse gancho. Falar mais do que isso, só com autorização do Sidão (o editor do selo, Sidney Gusman).
UHQ: E sobre os seus próximos projetos fora da MSP, algo que possa revelar?
Beyruth: A Marvel anunciou recentemente o one-shot Carnage – Born, escrito por Donny Cates e desenhado por mim. Por enquanto, que eu possa anunciar, é isso.