Debate sobre o Festival de Angoulême 2005
Uma
das conseqüências de um mercado artístico amadurecido e sedimentado é
a constituição de uma crítica atenta. O Festival
de Angoulême, em sua 32ª edição, foi alvo de muitos aplausos,
mas, também, de pesadas críticas.
Para entender bem o caso, em português, confira a matéria de Carlos Pessoa, do jornal Público (de Lisboa), reproduzido no acervo da Bedeteca de Lisboa.
Na semana passada, os colegas do portal especializado em notícias e resenhas sobre a Bande Dessinée, Actua BD, publicaram uma resenha, sobre o conteúdo do número 82 da Bo Doï, datada de fevereiro.
O número traz como destaque de capa uma indagação: por que Hermann não é premiado no Salão de Angoulême, o mais importante evento de quadrinhos da Nona Arte de expressão franco-belga? Usando a instigante pergunta "Hermann Prèsident?" Os editores se referem ao fato de que o autor premiado em uma edição do salão passa a ser, automaticamente, o presidente da próxima edição do festival, como aconteceu este ano com o suíço Zep, que foi alvo de acirradas críticas, inclusive do Le Monde e de Joan Sfaar, por ter espetacularizado o evento e dado mais importância a evidenciar nomes já consagrados internacionalmente do que proporcionar espaço para a emergência de novos valores, uma marca do salão.
A chamada de capa é justificada também pelo fato de que a revista deslocou uma jornalista especializada - Sophie Flamand, que também organiza eventos de quadrinhos - para realizar uma entrevista com o próprio Hermann, um dos desenhistas belgas mais aplaudidos e publicados em outros idiomas de toda a história, que além de trazer algumas declarações inusitadas sobre seus personagens, deixou seu depoimento sobre o festival de Angoulême.
Assim,
a matéria de Bo Doï acaba se somando a não disfarçada perplexidade
de nosso colega do jornal Público. A escolha final, que recaiu
sobre Wolinski, e não sobre Hermann, acabou sendo uma meia sola algo amarga
para os fãs mais ardorosos dos quadrinhos franceses. Por mais que se reconheça
a unicidade e importância ímpares de Wolinski para a renovação do humor
francês nos anos 60 e 70, os franceses o têm em conta de ser tunisino
(natural da Tunísia), e não francês.
Resta ver que efeitos estes comentários de quem se interessa de perto pela Nona Arte terão sobre a 33ª edição do Festival de Angoulême, a ser presidido pela iraniana Marjane Satrapi. É de se supor, pela trajetória da autora, que ela vá conseguir combinar bem o espaço para os novos autores com a presença de importantes quadrinhistas já reconhecidos mundialmente.
Em tempo: quando a resenha foi publicada, a Bo Doï já tinha disponibilizado, em seu site, a lista das matérias do mês de março, que servem como referência do tipo de conteúdo veiculado pela revista mensal. No número, dedicado a Wolinski, uma nota chamou especial atenção, por se referir a um personagem sobre o qual escrevemos um registro, em dezembro no Universo HQ: Pierre Desproges, soberbo escritor de humor francês. O próprio chefe de redação da revista, Jean-Marc Vidal, forneceu ao UHQ os detalhes que não constam do site:
A homenagem feita a Desproges é constituída de um artigo do jornalista Christian Bouchabaisen e vem ilustrada por uma caricatura do argelino Maester, e dois desenhos, de Lauzier (realizador de Tranches de Vie e de Chroniques de l'Île Grande, dedicado ao Brasil) e de Michel Gaudelette, veterano que já colaborou em Fluide Glacial e Spirou, entre outros. Serve como uma bela indicação do respeito que a Nona Arte tem, na França, por aqueles que enriquecem o universo do humor, mesmo não sendo realizadores de Bande Dessinée.