Descoberta a verdadeira origem do Lanterna Verde
Quando
surgiu em julho de 1940 nos quadrinhos de All-American Comics #16,
o Lanterna Verde Alan Scott, que ganhou seus poderes ao encontrar uma
misteriosa lanterna ferroviária depois de sofrer um acidente de trem,
deu origem a uma linhagem de guerreiros esmeraldas que o superaram em
poder, prestígio e fama entre os leitores da DC Comics.
Mas os fãs deveriam agradecer por isso a Willard Mason, um professor norte-americano
que estava em Cingapura quando recebeu de um velho índio a misteriosa
lâmpada carregada de energia que o transformaria no Lanterna Verde. Essa
é a verdadeira origem do super-herói e de seu anel energético.
Revelada no mês passado, nos Estados Unidos, durante a última edição da
convenção Wizard World Chicago, a história foi uma das sensações
do evento.
Os
bastidores dessa descoberta têm nuances de uma boa HQ. Tudo começou quando
Martin Nodell, 91 anos, desenhista da National Comics (atual DC)
na Era de Ouro dos quadrinhos e tido como co-criador do Lanterna Verde
Alan Scott, adoeceu e precisou ficar mais próximo da família para receber
atenção e cuidados necessários a sua recuperação.
Spence Nodell, filho do veterano artista, recolhia todos os pertences
do pai para a mudança de cidade quando encontrou vários de seus trabalhos
antigos, incluindo uma página original (sem arte-finalização em um quadro)
daquela que deveria ser a primeira aventura do Lanterna Verde, com vários
detalhes diferentes das que constam da origem até hoje conhecida do personagem.
Os textos e os desenhos são de Martin, que na época assinava como Mart
Dellon.
"Conheço Nodell há 30 anos, e a existência dessa página nunca foi mencionada
por ele ou sua família. Foi uma completa surpresa para Spence", disse
o colecionador Gary Colabuono.
Questionado pelo filho sobre o que significava aquilo, Martin Nodell,
que está se recuperando em um hospital na cidade de Milwaukee, afirmou
que o material foi concebido exclusivamente por ele e mostra a história
original que seria publicada em All-American Comics #16.
"Isso
prova que meu pai foi o único criador do Lanterna Verde, e que Bill Finger
deu uma significativa contribuição para o personagem", disse Spence Nodell,
a respeito da eterna celeuma sobre os créditos daquele artista na criação
do primeiro Guerreiro Esmeralda.
Em uma entrevista concedida à revista Alter Ego #5, em 2000, Martin
Nodell chegou a falar a respeito disso. Perguntado sobre se a co-autoria
de Bill Finger é apenas uma questão de interpretação, já que o conceito,
o visual e o nome do Lanterna Verde já haviam sido criados, o quadrinhista
limitou-se a responder:
"Eles (os editores) me perguntaram (após receberem as primeiras páginas)
se eu queria continuar a escrever as histórias. (...) Depois, acharam
melhor eu ficar responsável somente pelos desenhos, pois tinham muitas
idéias sobre o personagem. (...) Eu não sabia de nada sobre Finger, nem
a respeito de outras HQs ou artistas envolvidos nelas, então pensei que
só estavam trazendo outras pessoas para ajudar nessa área".
A partir daí, como agora está claro, foram feitas algumas modificações
nos originais de Nodell.
Discussões envolvendo Bill Finger, falecido em 1974, também acontecem
quando o assunto é Batman e Bob Kane, convencionado como o "pai" do Cavaleiro
das Trevas. Quanto a Nodell, é fácil encontrar na grande rede informações
de que apenas o visual do Lanterna Verde foi a sua contribuição na criação
do personagem.
O quadrinhista trabalhou na DC até 1947, e logo depois passou a
integrar a equipe da Timely Comics (atual Marvel), para
a qual desenhou aventuras do Capitão América, Namor, Tocha Humana original
e outros personagens clássicos da editora. Em 1950, Nodell abandonou os
quadrinhos.
Somente em 1987, depois de produzir várias ilustrações de Alan Scott para
a DC, o artista se tornou conhecido pelas novas gerações de leitores
e virou uma figura fácil de encontrar em convenções de quadrinhos como
convidado especial.
O editor da Gemstone Publishing, Tom Gordon III, definiu o que
os fãs de quadrinhos devem estar pensando sobre toda essa história de
revelações bombásticas e tesouros escondidos. "O fato desse pedaço da
Era de Ouro existir leva a especular sobre o que ainda há por aí, esperando
para ser (re)descoberto".
Não há como negar: até na vida real, os quadrinhos parecem realizar surpresas
que, com o perdão do trocadilho, não estão no gibi.