Detalhes sobre Morte - A Festa, da Conrad Editora
Quem poderia imaginar que a própria Morte, uma personagem feminina que não dá socos e pontapés e nem aparece seminua, seria um dia uma popular heroína dos quadrinhos?
A personagem surgiu em 1989, na edição número oito de Sandman. Se Neil Gaiman tinha usado os astros pop Ian McCulloch (da banda Echo and the Bunnymen) e os irmãos Jim e William Reid (do Jesus and Mary Chain) como referência visual para a criação de Sandman, no caso da Morte, a primeira referência foi Siouxsie Sioux, a vocalista do Siouxsie and the Banshees. Mas, apesar das roupas pretas, a encantadora Morte não tem nada da melancolia do irmão. Pelo contrário, ela é alegre e muito viva.
Desde quando surgiu, a Morte não saiu mais de cena. De personagem coadjuvante nas histórias do irmão Sandman, Morte passou à estrela de suas próprias minisséries.
Em Morte - A Festa (formato 12,5 x 19 cm, 216 páginas, R$ 14,90), da Conrad Editora, Lúcifer, depois de tantos milênios de trabalho, resolve renunciar ao trono do Inferno e envia as chaves para Sandman. Este não sabe o que fazer com o "presente" e, enquanto isso, com os portões do Inferno destrancados, ocorre uma fuga dos tão castigados internos (entre eles Mussolini, Kurt Cobain e Edgar Allan Poe).
E eles fogem para onde? Para o apartamento da Morte, para onde foram convidados por duas outras irmãs de Sandman: Delirium e Desespero, que querem fazer ali a festa mais infernal de todos os tempos. A Morte tem que resolver a situação, para salvar o Além e, tão importante quanto, salvar o carpete da sua sala.
A obra é escrita e desenhada por Jill Thompson, uma íntima colaboradora de Neil Gaiman. Os dois já trabalharam juntos em diversos episódios de Sandman, e este é o segundo trabalho solo dela com os personagens criados por Gaiman. O primeiro foi o álbum Os Pequenos Perpétuos (publicado no Brasil pela Brainstore Editora).
Para dar um efeito ainda mais exótico a Morte - A Festa, Thompson foi buscar referências no universo dos quadrinhos japoneses. Vem de lá os característicos olhos gigantes, e também aquele jeito tão delicado de ser gótico. Como só as meninas do bairro Harajuko, de Tóquio, sabem ser.
Tal homenagem aos mangás não deve surpreender os fãs de Sandman: em Caçadores de Sonhos, Gaiman já fazia dupla com o desenhista japonês Yoshitaka Amano. Gaiman também foi indicado ao prêmio Nebula por sua adaptação do roteiro do filme de Princesa Mononoke (de Hayao Miyazaki) para o inglês.
E ainda, Jill Thompson está especialmente preparada para fazer a ponte do universo Sandman para o Japão. "Thompson é uma das raras artistas norte-americanas que conseguem reproduzir o jeito mangá de fazer quadrinhos." diz Gordon Flagg, da tradicional revista Booklist.
Nos anos 80, a autora estudou na American Academy of Art, na qual iniciou sua trajetória profissional no mundo dos comics. Jill Thompson, vencedora do prêmio Eisner, trabalhou para a DC em séries como Mulher-Maravilha (1990) e Monstro do Pântano (1994), apesar de ser mais conhecida por suas colaborações para a linha Vertigo, para qual desenhou vários números de Sandman de Neil Gaiman e de Os Invisíveis de Grant Morrison, assim como a minissérie Finals.
Sua carreira deu uma grande guinada com a criação de Scary Godmather (1997) por seu estilo de desenho próprio combinado a uma atraente mistura de aquarelas em um mundo de personagens singulares.
A Conrad já publicou sete obras de Neil Gaiman: Sandman Caçadores de Sonhos, os dois volumes de Sandman O Livro dos Sonhos, Stardust, Deuses Americanos, A Paixão do Arlequim e, em dezembro de 2003, Sandman: Noites Sem Fim.
Morte - A Festa é o centésimo livro da editora. De se estranhar apenas a adaptação do título, que no original era Death: At Death's Door (algo como Às Portas da Morte).