Devir disponibiliza preview de Pequenos Milagres, de Will Eisner
Com
lançamento previsto para este mês, Pequenos Milagres (edição especial,
formato 19,4 x 25,5 cm, 112 páginas) teve algumas páginas divulgadas no
site da Devir
Editora.
A carreira de Will Eisner se estende por toda a história das revistas em quadrinhos, desde os anos 30, atravessando os anos 40, quando ele revolucionou a narrativa da arte seqüencial com sua série mundialmente conhecida, The Spirit, até seu trabalho mais adulto que, começando nos anos 70, levou à criação do formato contemporâneo conhecido como graphic novel. Ele também é o autor dos importantes estudos Quadrinhos e Arte Sequencial e Narrativas Gráficas.
Will Eisner faleceu no dia 3 de janeiro de 2005, aos 87 anos de idade.
Confira o prefácio da obra, pelo próprio criador:
"É difícil falar sobre milagres. Ou você acredita neles ou não. Eu acredito.
No quarteirão onde passei minha infância, os milagres aconteciam a toda hora. Eram simplesmente parte da estrutura de nossas vidas e tornavam-se inseparáveis de eventos explicáveis, sendo, no final das contas, tratados como se fossem realidade. Anos de vivência têm o efeito de amadurecer julgamentos e inibir a aceitação do inexplicado. Quando começamos com relatos que não são dignos de confiança e carecem de evidência, nos aproximamos do folclore. Então, aquilo que alguém se lembra desses eventos é, na melhor das hipóteses, pouco confiável.
O processo de relembrar é um trabalho de dedução, algo como um antropólogo reconstruindo um esqueleto antigo.
Os contos neste livro se parecem com histórias que meus pais chamavam de "meinsas". E, embora sejam apócrifos, eles foram destilados das minhas lembranças, que eram um patrimônio comum da nossa família. Por exemplo, minha mãe podia apontar para um velho alimentando pombos no parque e me dizer: "Aquele é um tio, por parte do seu pai... Deixa eu te contar sobre ele... É um milagre".
Na verdade, milagres são uma espécie de herança cultural. Eu suspeito que, assim como toda mitologia, eles ocorrem periodicamente de geração em geração. Certamente, temas similares podem ser encontrados no clássico folclore Iídiche e em velhos contos alemães, como a história de Caspar Hauser.
O fato é que nenhuma história inexplicável ficava sem explicação para meus antepassados. Sem dúvida, essa filosofia é um terreno fértil para milagres.
Eu conto essas histórias sem inibir aquela sensação de espanto que o tempo e a idade não alteraram.
Eu fico imaginando o destino bom ou ruim dos amigos. Eu fico imaginando o surgimento e a partida de pessoas que conheci e a duração milagrosa de alianças impossíveis.
A maravilha disso tudo ainda permanece vívida em mim, o que, em si, não deixa de ser uma maravilha".